Respeitar a pessoa e a sua liberdade não significa aceitar como válido
tudo o que a pessoa pense ou faça. Os pais devem dialogar com os filhos sobre o que é bom e o que é melhor e, nalguma circunstância, inevitavelmente deverão ter a valentia de corrigir com a energia necessária. Eles, que não só respeitam os filhos mas os amam, não toleram um comportamento qualquer.O amor é o menos tolerante, permissivo ou condescendente que encontramos nas relações humanas, porque, ainda que seja possível amar uma pessoa com os seus defeitos, já não é possível amá-la pelos seus defeitos. O amor deseja o bem da pessoa, que esta dê o melhor de si, que alcance a felicidade; e por isso quem ama pretende que o outro lute contra as suas deficiências e sonha com ajudá-lo a corrigi-las.
São sempre mais os elementos positivos de uma pessoa – pelo menos potencialmente – do que os seus defeitos e essas boas qualidades são as que a tornam amável; mas não são as qualidades positivas que se amam, mas as pessoas que as possuem e que as possuem conjuntamente com outras que talvez não o sejam tanto. Uma conduta correta costuma ser o resultado de muitas correções e estas serão mais eficazes se se fazem com sentido positivo, pondo sobretudo a tônica naquilo que se pode melhorar no futuro.
À luz do que se referiu acima, percebe-se que toda a forma de educar apela para a liberdade das pessoas. Nisso se distingue, precisamente, educar de domesticar ou instruir. “Educar em liberdade” é um pleonasmo, não diz nem mais nem menos do que “educar”.
O VALOR EDUCATIVO DA CONFIANÇA
No entanto, a expressão “educar em liberdade” permite fazer finca-pé na nec
essidade de formar num clima de confiança. Como foi salientado, as expectativas dos outros em relação ao nosso comportamento funcionam como motivos morais das nossas ações.A confiança que se nos demonstra move-nos a agir; e pelo contrário paralisa-nos sentir que desconfiam de nós. Isto é patente no caso das pessoas mais jovens ou dos adolescentes, que estão a modelar o seu caráter e valorizam muito o juízo dos outros.
Confiar significa ter fé, dar crédito a alguém, considerá-lo capaz de verdade; de manifestá-la ou de guardá-la, conforme os casos, mas também de vivê-la. A confiança que se dá a outro costuma provocar um duplo efeito; de maneira imediata, um sentimento de gratidão, porque se sabe beneficiado por um dom; além disso, a confiança favorece o sentido de responsabilidade.
Quem me pede algo importante espera que lho dê, porque já confia em que o posso dar; tem de mim um elevado conceito. Se essa pessoa confia em mim, sinto-me movido a satisfazer as suas expectativas, a responder com os meus atos. Confiar em alguém é um modo muito profundo de lhe encomendar algo.
Grande parte do que podem fazer os educadores depende de quanto souberam suscitar esta atitude nas pessoas. Em particular os pais devem ganhar a confiança dos filhos, dando-a eles primeiro. Em certas idades da infância, convém estimular o uso da sua liberdade; por exemplo, pedir-lhes coisas e dar explicações sobre o que é bom e o que é mau. Mas isto careceria de significado se faltasse a confiança, esse mútuo sentimento que ajuda a pessoa a abrir a sua intimidade, sem o que é difícil propor metas e tarefas que contribuam para o crescimento pessoal.
A confiança dá-se, consegue-se, gera-se; não se pode impor, nem exigir. A pessoa torna-se digna de confiança pelo seu exemplo de integridade, indo na frente ao dar aquilo que pede aos outros. Assim se adquire a autoridade moral necessária para pedir aos outros; e faz-se notar que educar em liberdade torna possível educar a liberdade.

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