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sábado, 13 de agosto de 2011

SABER CORRIGIR

DE J. M. Barrio

Respeitar a pessoa e a sua liberdade não significa aceitar como válido tudo o que a pessoa pense ou faça. Os pais devem dialogar com os filhos sobre o que é bom e o que é melhor e, nalguma circunstância, inevitavelmente deverão ter a valentia de corrigir com a energia necessária. Eles, que não só respeitam os filhos mas os amam, não toleram um comportamento qualquer.

O amor é o menos tolerante, permissivo ou condescendente que encontramos nas relações humanas, porque, ainda que seja possível amar uma pessoa com os seus defeitos, já não é possível amá-la pelos seus defeitos. O amor deseja o bem da pessoa, que esta dê o melhor de si, que alcance a felicidade; e por isso quem ama pretende que o outro lute contra as suas deficiências e sonha com ajudá-lo a corrigi-las.

São sempre mais os elementos positivos de uma pessoa – pelo menos potencialmente – do que os seus defeitos e essas boas qualidades são as que a tornam amável; mas não são as qualidades positivas que se amam, mas as pessoas que as possuem e que as possuem conjuntamente com outras que talvez não o sejam tanto. Uma conduta correta costuma ser o resultado de muitas correções e estas serão mais eficazes se se fazem com sentido positivo, pondo sobretudo a tônica naquilo que se pode melhorar no futuro.

À luz do que se referiu acima, percebe-se que toda a forma de educar apela para a liberdade das pessoas. Nisso se distingue, precisamente, educar de domesticar ou instruir. “Educar em liberdade” é um pleonasmo, não diz nem mais nem menos do que “educar”.

O VALOR EDUCATIVO DA CONFIANÇA
No entanto, a expressão “educar em liberdade” permite fazer finca-pé na necessidade de formar num clima de confiança. Como foi salientado, as expectativas dos outros em relação ao nosso comportamento funcionam como motivos morais das nossas ações.

A confiança que se nos demonstra move-nos a agir; e pelo contrário paralisa-nos sentir que desconfiam de nós. Isto é patente no caso das pessoas mais jovens ou dos adolescentes, que estão a modelar o seu caráter e valorizam muito o juízo dos outros.

Confiar significa ter fé, dar crédito a alguém, considerá-lo capaz de verdade; de manifestá-la ou de guardá-la, conforme os casos, mas também de vivê-la. A confiança que se dá a outro costuma provocar um duplo efeito; de maneira imediata, um sentimento de gratidão, porque se sabe beneficiado por um dom; além disso, a confiança favorece o sentido de responsabilidade.
Quem me pede algo importante espera que lho dê, porque já confia em que o posso dar; tem de mim um elevado conceito. Se essa pessoa confia em mim, sinto-me movido a satisfazer as suas expectativas, a responder com os meus atos. Confiar em alguém é um modo muito profundo de lhe encomendar algo.

Grande parte do que podem fazer os educadores depende de quanto souberam suscitar esta atitude nas pessoas. Em particular os pais devem ganhar a confiança dos filhos, dando-a eles primeiro. Em certas idades da infância, convém estimular o uso da sua liberdade; por exemplo, pedir-lhes coisas e dar explicações sobre o que é bom e o que é mau. Mas isto careceria de significado se faltasse a confiança, esse mútuo sentimento que ajuda a pessoa a abrir a sua intimidade, sem o que é difícil propor metas e tarefas que contribuam para o crescimento pessoal.
A confiança dá-se, consegue-se, gera-se; não se pode impor, nem exigir. A pessoa torna-se digna de confiança pelo seu exemplo de integridade, indo na frente ao dar aquilo que pede aos outros. Assim se adquire a autoridade moral necessária para pedir aos outros; e faz-se notar que educar em liberdade torna possível educar a liberdade.

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