Por Lorena Miranda Cutlak
Durante minha gravidez, fomos atormentados pelo fantasma da Síndrome de Down, e agora, que tenho minha Mariazinha nos braços, vejo que era isso mesmo: um fantasma, o espectro de um medo sem objeto bem definido, pois não sabíamos ao certo o que estava por trás desse nome tão pavoroso. Ainda estamos em processo de conhecer a síndrome, mas uma coisa já posso afirmar com certeza: há uma diferença gigantesca entre receber um diagnóstico escrito em um papel e ver o rostinho de um recém-nascido portador de uma doença ou condição de saúde delicada.
Ultimamente se tem falado muito em violência obstétrica, com referência ao momento do parto, mas a verdade é que todo o pré-natal pode ser uma contínua violência contra as grávidas e seus bebês. Quem teve uma gestação tranquila e sem anormalidades pode achar essa afirmação exagerada, mas eu garanto: basta cair numa das incontáveis estatísticas “de risco” para aguçar o sadismo dos médicos, que não pouparão a cara de enterro para anunciar qualquer “má notícia”.
Desde que se identificou a alta probabilidade de meu bebê ser Down (aos três meses de gestação), ele não apenas foi considerada uma má notícia, mas um luto. Isso mesmo, um luto – nas palavras de uma médica, que mandou “nos prepararmos para o pior”. Com tantas referências oblíquas à morte, com relação a uma criança prestes a nascer, o que será que essa mulher queria dizer? Qual o objetivo, aliás, de se esquadrinhar um bebê desde suas primeiras semanas uterinas, medindo cada milímetro de seus ossos e utilizando essas medidas para classificá-lo de acordo com as estatísticas “de risco”?
Dirão que é tudo pela saúde do bebê, mas isso apenas no caso de ele sobreviver à gravidez. Pois, quando se constata alguma anormalidade, a indicação médica, seja velada ou explícita, é o aborto (http://brasil.babycenter.com/thread/10783/transluc%C3%AAncia-nucal-alterada-aus%C3%AAncia-do-osso-nasal). Passei os seis meses finais da minha gravidez lendo nas entrelinhas das falas dos médicos a informação de que meu provável bebê Down era uma grande infelicidade... A cada novo ultrassom, uma nova medida “problemática”, um novo cálculo de probabilidade e uma nova indicação para fazer a maldita amniocentese. Esse é o exame que detecta com certeza a presença de síndromes cromossômicas. Só tem um “pequeno inconveniente”, dizem os médicos: existe um risco de 2% de o bebê morrer (enfia-se uma agulha na barriga da mãe para colher líquido amniótico). Mas vale a pena fazer, continuam dizendo: afinal, você não quer passar o resto da gravidez com essa curiosidade insuportável, quer? Mate-a, a um preço módico; se o pior acontecer, talvez você perca apenas um bebê doente... (Não tenho tempo agora de pesquisar todo o site do Baby Center, mas li relatos de mulheres que fizeram amniocentese e perderam bebês normais. Da parte das próprias mulheres, é como se perder um bebê Down não fosse uma tragédia tão grande assim.)
Resumindo, pois tenho uma menininha para cuidar: é impossível não se apavorar diante dessa miríade de estatísticas pré-natais, que isolam e ressaltam a doença, como se esta fosse tudo o que a criança é. Já quando você tem nos braços seu bebezinho de carne e osso, mesmo que ele seja portador do que quer que seja, o que salta aos olhos não é a doença – é o bebezinho e sua presença real, essa presença que a cada instante se torna mais imprescindível para você. Durante a gravidez, mesmo oscilando entre a depressão e o pânico, eu consegui antever isso e respirei fundo, pois sabia que todo aquele medo se dissiparia diante da presença da minha filha. Os médicos, os exames, as medidas, as estatísticas, tudo isso me apavorou, mas eu sabia que eles não eram a realidade. A realidade é minha filha, e a Síndrome de Down é uma dificuldade, sim, mas não um luto. (Um dia ainda vou amadurecer o suficiente e perder a vontade de quebrar a cara daquela médica.)
Poderia escrever muito mais sobre tudo isso, mas agora, felizmente, a pequena precisa mamar.
Mamães, protejam seus filhos! ABAIXO A CULTURA DA MORTE. ABAIXO A MEDICINA ABORTISTA E EUGENISTA.