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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O fermento, a massa e a família

Por Maria Teresa Serman

Estava eu, não a (*)Inês, posta em sossego, e comecei a meditar sobre estas três coisas. Minha mente se encheu de metáforas que transformaram-se em uma alegoria. Não de escola de samba, mas a palavra de linguagem que designa um encadeamento de metáforas. Li, então, que o fermento não é melhor do que a massa, conclusão óbvia para os que costumam lidar com os dois. O fermento biológico, este não tem nada de atraente. Mas, bem amalgamado à massa, desaparecendo no seu meio, transforma-a em algo esplêndido, rico aos olhos, fonte posterior de alegria e satisfação. Assim são as famílias na sociedade, bem como aqueles que lhes dão origem, os pais.

Para que sua levedura seja completa, porém, é necessário dar-lhe um tempo para atuar, frequentemente depois de sovar a massa - quanto trabalho é necessário para construir um lar; total dedicação e tempo sabiamente gasto também se exigem de um casal na criação dos filhos! Voltando à massa, esta, deixada em descanso, cresce e encorpa-se, multiplicando-se como por mágica. Aí vem a hora de aquecê-la, para que se torne comestível. E não há melhor forno que o amor humano, quando bem encaminhado.

Sem o calor que a cozinha, ela seria intragável, danosa, repulsiva. Com o cozimento adequado, que delícia! Quantos podem se saciar! Que papel fundamental tem o pão, a torta, a pizza, na vida cotidiana, nos almoços de negócios, nos jantares familiares! E como é vital a cansativa, mas heróica tarefa de educar, aparar as arestas dos temperamentos, preparar os caracteres dos filhos para a vida, ensinando-lhes as virtudes! Porque o fermento só existe para a massa. Sua finalidade é aprimorá-la, prepará-la para o consumo. Sem ela, ele ficaria esquecido nas prateleiras dos mercados, onde iria mofar e apodrecer. Uma pessoa não pode ser uma ilha em si mesma, e muito menos uma família tentar existir à margem do plano divino para ela.

Também é preciso cuidar do fermento, por outro lado. Armazená-lo com cuidado, para que seja eficaz. Usá-lo logo, quando novo e ativo. Assim seu desempenho será o esperado; seu efeito, o melhor possível. Por isso não entendo a espera de algumas pessoas para bem utilizar o amor que Deus põe em seus corações, criando vínculos permanentes e frutificando ainda jovens, pois o tempo rouba as forças indispensáveis para criar os filhos. Com a energia de sovar a massa, somada à paciência de esperar seu crescimento e à temperatura indicada, só resta desejar bom apetite.

E não há que se vangloriar pelos elogios à mesa da vida, porque assim não o faz o fermento, pois cumpriu seu papel, multiplicando-se generosamente. Seu prêmio é sua própria eficácia e o bem estar dos que saciou. E lembrem-se que a metáfora do fermento e da massa não é minha, só a tomei emprestada. O Autor é outro.

(*) Inês - Refere-se a Inês de Castro do poema de Camões - A mesma do " É tarde, Inês é morta"

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