Amar os filhos é amar a sua liberdade. Mas isso também implica correr um risco, expor-se à liberdade dos filhos. Unicamente assim o seu crescimento é propriamente seu: uma operação vital, imanente, e não um automatismo ou um reflexo condicionado pela coação ou manipulação.
Do mesmo modo que a planta não cresce porque a estique o jardineiro, mas porque torna seu o alimento, o ser humano progride na humanidade na medida em que assume livremente o modelo que inicialmente recebe. Por isso, os pais que amam deveras e procuram sinceramente o bem dos seus filhos, depois dos conselhos e das considerações oportunas, devem retirar-se com delicadeza, para que nada prejudique o grande bem da liberdade que torna o homem capaz de amar e servir a Deus. Devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita sempre as nossas decisões pessoais.
UMA LIBERDADE QUERIDA E RE-QUERIDA
Por isso, querer a liberdade dos filhos está muito longe de uma despreocupada indiferença sobre a forma como a utilizam. A paternidade prolonga na educação o que teve início na geração. Portanto, amar a liberdade dos filhos quer também dizer saber requerê-la.
Como Deus faz com o homem suaviter et fortiter, os pais hão de saber convidar os filhos a usar as suas capacidades de modo a que cresçam como pessoas de bem. Talvez se apresente uma boa ocasião quando pedem autorização para determinados planos; então, pode ser oportuno responder que é ele que há de decidir depois de ponderar todas as circunstâncias do caso, mas que tem de se perguntar se realmente lhe convém ou não o que pede, ajudando-o a distinguir a necessidade do capricho, a perceber que não é justo desperdiçar aquilo que muitos não se podem permitir, etc.
Utilizando um jogo de palavras, podemos imaginar que “requerer” se refere a uma espécie de duplo querer, querer e “re-querer”. Não é possível requerer a liberdade humana se previamente não se querem as suas consequências, se não se assumem e respeitam. Por isso, um autêntico respeito à liberdade há de promover o esforço intelectual e exigências
morais que ajudem a pessoa a vencer-se, a superar-se. Esta é a forma de todo o crescimento humano. Por exemplo, os pais têm que pretender que os filhos, de acordo as suas idades, respeitem certos limites. Algumas vezes pode tornar-se necessário o castigo, aplicando-o com prudência e moderação, dando as razões oportunas e, claro, sem violência.
Dar confiança e animar, com paciência, dá os melhores resultados. Mesmo no caso extremo, quando o filho toma uma decisão que os pais têm fortes motivos para julgar errada e até para prever que seja origem de infelicidade, a solução não está na violência mas em compreender e – mais de uma vez – em saber permanecer a seu lado para ajudá-lo a superar as dificuldades e, se fosse necessário, para extrair daquele mal todo o bem
possível.
Em qualquer caso, a tarefa formativa consiste em procurar que as pessoas queiram; ou seja, em fornecer os instrumentos intelectuais e morais para que cada um seja capaz de fazer o bem pela sua própria convicção.
Um comentário:
Muito bonita, forte, delicada e respeitosa essa colocação sobre como os pais devem saber distinguir os momentos em que devem ou não, se manifestar sobre escolhas feitas pelos filhos.
Abraço,
Patricia
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