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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Não maltrate o português!

Por Maria Teresa Serman
A vocação profissional enraíza-se em nós como parte integrante do ser, marcando nossa visão de mundo. Um médico analisa com olhos de médico; o advogado interpreta as questões sob o ponto de vista jurídico; professores nascem e morrem com o "vício" de ensinar. Por isso, esta alma de professora que vos escreve vem se rebelando contra o insidioso ataque à língua portuguesa, perpetrado por pessoas comuns, intelectuais e mídia. Todos, sem distinção, apunhalam essa que foi descrita pelo poeta Olavo Bilac como "inculta" - a cada dia mais, coitada - e "bela" - e difícil, reconheço - língua portuguesa. Querem ver?

"Para mim, fazer esse trabalho é muito difícil!"
"Deixa esta tarefa pra mim fazer."
No primeiro exemplo, a gramática está saudável, pois o pronome oblíquo (mim) vem depois de uma preposição, como deve ser, e não é sujeito do verbo fazer. Já o segundo é de dar náusea, parece o Tarzan falando. Trata-se de um período composto, em que a segunda oração está reduzida, de infinitivo. Desenvolvendo-a, descobre-se que o pronome deve ser de caso reto, pois é sujeito do verbo fazer: "Deixa esta tarefa para que EU faça" = "Deixa esta tarefa pra EU fazer."

Outro caso, na verdade dois erros crassos (de gente muito ignorante), é a péssima influência que os jornais, falados e escritos, tem sobre o povo,enfiando pelos olhos e ouvidos ingênuos, como se fosse certo. Os locutores, jornalistas e âncoras cometem um erro grave de pontuação quando falam, o que vem influenciando negativamente a população, que repete isso na escrita. Por exemplo,
"A presidente anunciou o nome do novo ministro." é lida da seguinte forma, e vou reproduzir na escrita o que foi dito, aparecendo assim o erro: " A presidente, (fazem uma pausa que leva as pessoas a colocarem um virgula no texto) anunciou (frequentemente se distingue outra pausa aqui) o nome do novo ministro." Quando se separa, na fala ou na escrita, o sujeito - a presidente - do verbo, e este de seu complemento - o nome do novo ministro - quebra-se a unidade na forma e no significado, tornando a comunicação confusa e o entendimento mais difícil. Sem falar no exemplo nefasto àqueles que ainda estão aprendendo. NÃO SE SEPARA, POR PAUSA NO FALAR OU VÍRGULA, O SUJEITO DO VERBO E ESTE DO SEU COMPLEMENTO.

A segunda lição errada é empregar o verbo perguntar na voz passiva: "O deputado, quando perguntado, respondeu que não sabia de nada." O verbo perguntar, do mesmo modo que o verbo obedecer, é transitivo indireto, pede preposição entre ele e seu complemento, e não pode ser conjugado na voz passiva. Ninguém é "perguntado", isso é abuso de ignorância, ainda mais de quem deve informar bem. Além de errado, soa mal. O correto, e fácil de enunciar, é "Ao LHE perguntarem ou Quando LHE perguntaram, o deputado etc."
Assistir é outro verbo assassinado. Engolimos o tempo todo "Assistam o filme.", quando o correto é "Assistam AO filme, À novela, ÀS notícias." Errar é humano, persistir no erro é burrice, e ensinar o que é errado é crime.

Agora vamos examinar o desvio no uso do pobre pronome relativo ONDE. Nossa, quase o matam de exaustão! Serve pra tudo, virou trapo velho que só suja a coesão e atrapalha a coerência. Essa irmãs, integrantes da gramática, são responsáveis diretas e fundamentais na comunicação do conteúdo, sem confusão. Ter coesão implica empregar o conectivo adequado ( o elemento de ligação entre o verbo e o complemento, ou entre orações), exemplo: "A funcionária A QUEM me dirigi me orientou muito bem." É necessária a preposição que concorda com o antecedente, assim como o pronome certo. Porém, somos feridos por bombinhas fedorentas do tipo destas: "Aí então foi onde eu entendi o que ela queria dizer." Todo mundo já ouviu (não quero acusar ninguém de falar isso ) um horror desses. Corrigindo: "Aí então foi QUE ou QUANDO entendi o que ela queria dizer. ONDE indica LUGAR; ao se referir a TEMPO, emprega-se QUANDO; a MODO, COMO.

Voltaremos ao assunto em um próximo texto.

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