Por Maria Teresa Serman
O texto "Ser uma grande mãe" me fez recordar - mais detalhadamente, pois não a esqueço um dia - da minha avó materna, Alzira. Mulher notável, mãe admirável, que estendia esse sentimento à própria mãe, de quem cuidava, aos irmãos, cunhados, cunhadas, filhas, netos e bisnetos. Casou muito cedo, como as moças de seu tempo, mas meu avô estava longe de ser um bom marido. Era perdulário e bastante infiel.
Tinham três filhas pequenas quando minha avó decidiu se separar. Naquele tempo, anos trinta, imaginem!, mulher "desquitada" era muito mal vista. Criou as filhas sozinha, com o apoio da família, pois meu avô cedo se mudou para outra cidade e não as procurou mais. Conseguiu se manter com a pensão recebida e comprar a casa em que moravam, economizando o necessário através de suas mãos hábeis. Não teve outro homem em sua vida porque acreditava na indissolubilidade do matrimônio.
Era brilhante em tudo que fazia. Teve a educação que moças de famílias de certa posse recebiam, mas as raízes humildes a encaminharam para aprender a costurar, cozinhar, fazer tricô, crochê, bordados, de altíssimo nível, com extremo bom gosto e arte. Fazia até ternos e camisas sociais para os irmãos, trajes de festa para as sobrinhas, para as filhas e para a neta. Meu vestido de quinze anos, assim como outros mais finos, foi feito por ela. Meus filhos tiveram mantas e roupinhas de tricô e pijaminhas de flanela que guardo como relíquias até hoje.
É interessante como a memória olfativa se mantém ativa, mesmo após muitos anos: nada se compara ao cheiro (e ao gosto também) do bife que minha avó fazia, sinto-o até hoje. Seu bolo para os aniversários era inigualável, e os papos de anjo de se "comer rezando". Gostava de sair, passear, "ver vitrines", como ela dizia. Perdeu a filha do meio depois de um longo sofrimento com câncer e não se abateu, continuou ativa e generosa, no tempo, no trabalho e no dinheiro. A casa estava sempre arrumada e enfeitada, era uma delícia estar lá. Fico feliz que meus filhos tenham convivido com seu amor e exemplo.
Como mãe, tinha um método que tento imitar, infelizmente só consegui em parte. As filhas tinham, cada uma, a "semana da cozinha", durante a qual acompanhavam ela e a empregada (que era mais uma pessoa da família) nos serviços de casa. Aprenderam bem os afazeres domésticos, por isso. Com aquela semana concluída, minha avó levava a aprendiz da vez ao centro da cidade, que era o ponto chique na época, à leiteria Bol ou à Colombo, para lanchar a sós com a mãe, passearem e conversarem. Atenção individual era o objetivo principal, além do prêmio pela dedicação no trabalho. É uma ideia magistral, ditada pelo amor e pela sabedoria, que sempre imitei com meus cinco filhos. A parte que não consegui foi a da cozinha, lamento.
Combinava perfeitamente autoridade e carinho, alegria e repreensão, mimos e exigências. Sabia viver e acolher com conforto e elegância, sem desperdício ou futilidade. Andou de ônibus até mais de noventa anos. Faleceu subitamente, em uma noite, placidamente, aos noventa e sete anos. Deixou muita saudade, mas continua presente o tempo todo, não só na memória afetiva, mas principalmente nos exemplos que seguimos o melhor que podemos. Tenho certeza que de que está no céu e peço sempre a sua intercessão para muitas coisas, com mais frequência para aqueles que tão esplendidamente amou em vida. E consigo sempre, Deus a ama muito.
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