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sexta-feira, 11 de maio de 2012

"Quem mal se achar e bem estiver, do mal que vier não vá reclamar."

Por Maria Teresa Serman


Ouvia este ditado antigo de minha mãe, que, por sua vez, o escutava de sua bisavó, a quem era muito chegada. Esta tinha emigrado da ilha de S. Miguel, colônia portuguesa d'além mar, e era muito sábia e bondosa. De tanto ouvir, nas circunstâncias devidas, gravei na mente e no coração, e ontem o repeti, meditei mais sobre ele. É muito profundo. E se aplica cada vez mais à vida contemporânea.

No nosso mundo tecnomaníaco (não sei se existe essa palavra, posso ter criado um neologismo, palavra nova), quanto mais se consegue mais se quer TER, insaciavelmente. O ser humano deste tempo não se contenta com pouca coisa, nem com muita também. É ávido por mais tecnologia, modernidade, poder, dinheiro, conhecimento supérfluo, relações sociais voláteis, relacionamentos afetivos descartáveis. Em sua maioria, trata a si mesmo como uma coisa, a quem ama acima de tudo, mas uma coisa, e aos outros, como coisinhas. O lema é "Isso (ela ou ele) ME faz feliz!"

Não é pessimismo, reconheço que há muita gente que não pensa e não age assim, mas alguns são contaminados pela ganância generalizada. É fácil se deixar levar pela onda de ambição desmedida que impregna o mundo. Devemos nos examinar continuamente para detectar esse sentimento ainda em sua gênese, e controlá-lo. Shakespeare disse pela fala de um personagem que "a ambição é boa serva, porém má senhora".

De volta ao ditado, esquecemos de apreciar o bem que temos, as graças que recebemos incessantemente da mãos generosíssimas do Pai, e nos concentramos nas doenças, nas dificuldades, no pouco dinheiro, nos percalços da vida. Não pode ser assim, pois esse hábito torna-se rapidamente um vício, e não paramos mais de nos lastimar, reclamar e ficar infelizes, quando, na verdade, somos muito felizes e não nos damos conta. Quando perdemos algo ou alguém realmente fundamental em nossa vida, aí passamos a enxergar o valor do que ou de quem perdemos, e choramos amargamente pelas oportunidades de demonstrar amor e alegria que perdemos.

Alguns, infelizmente, não aprendem nem assim, após um golpe mais duro. Continuam se achando vítimas da sorte e culpando Deus por sua infelicidade. Não aproveitam o sofrimento para crescer, assim como não aproveitaram a bonança. Não sejamos assim, amargos, sempre à procura de algo que não conseguimos definir, procurando preencher um vazio que poderia estar pleno, do amor de Deus e do amor que dedicamos aos próximos, e aos menos próximos também. E não basta sentir amor, é preciso demonstrá-lo verbal e fisicamente.

"Obras é que são amores, e não boas razões.", inspirou o Senhor a S. Josemaria. Obras também são abraços, beijos, carinhos, delicadezas, elogios, reconhecimento expresso, palavras de amor e incentivo. Testemunhos claros e inconfundíveis de nossa felicidade em ter essas pessoas em nossa vida.

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