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quinta-feira, 21 de maio de 2009

ENTREVISTA COM UMA ESPOSA DE MILITAR

1. Apresente-se para nós, de forma livre, de acordo com aquilo que acha importante

Sou Fernanda, tenho 31 anos. Sou casada com um militar há oito anos e alguns meses. Tivemos três filhos que estão com seis, três e dois anos. Também sou a filha de um militar e tenho mais três irmãos.
Sendo filha de militar, já tinha me mudado muito de cidade e não esperava que continuaria nessa vida. Tinha planos de me estruturar num lugar, de me estabelecer profissionalmente, etc. Até que conheci meu marido que estava se preparando para seguir a carreira que meu pai tinha! E olhe que não o conheci no meio militar, não, hein! Só os desígnios divinos para explicar esse encontro!
Então, para resumir: se eu queria me “estruturar” em alguma coisa, não era ficando parada, no sentido literal da expressão, que isso ia acontecer. Desde que nasci, já me mudei de cidade 18 vezes, do norte ao sul do país. Se incluir ainda as mudanças que fiz dentro de algumas delas (mudanças de casa), o número sobe para 22 ou 23 mudanças, não me lembro bem. É bastante para quem tem a minha idade, não?

2. Como é a vida de uma esposa de militar?
O que mais caracteriza a vida de uma esposa e família dos militares, são as constantes mudanças que temos que fazer ao longo de toda a vida de trabalho deles. As transferências só acabam quando vão para a reserva; isto é, quando se aposentam.
Portanto, além das alegrias e dificuldades que fazem parte da vida de uma esposa e mãe de família, temos que ser a “dona-de-uma-casa” que sempre muda.
Numa média bem geral, na Força em que meu marido serve, nos mudamos a cada dois ou três anos para cidades de diversos estados do Brasil e, em alguns casos bem específicos, até para o exterior.

3. Você tinha consciência de que ao casar com um militar sua vida mudaria muito?
Eu sabia que seria assim, pois também sou filha de militar e já cresci levando essa vida. No entanto, a responsabilidade de ser esposa e de levar a família para frente no meio de tantas mudanças, é bem diferente da de filha.


No entanto, saber é bem diferente de viver! Apesar das dificuldades dessa vida de constantes mudanças já serem mais ou menos previstas, sentimos de forma bem concreta as dificuldades que envolvem tudo isso. Enfrentamos sempre a distância da família e parentes, mudanças culturais e climáticas, necessidade de se afastar dos amigos e reestabelecer novos laços em cada cidade por onde passamos e que às vezes ficamos tão pouco tempo, vida profissional entrecortada. Também há os constante processos de adaptação da vida dos filhos na nova cidade, com novos amigos, em diferentes colégios e métodos pedagógicos. Sem falar na parte material: o trabalho e desgaste de providenciar a mudança, transporte, documentação. Os móveis que serviam numa casa e que não cabem na outra. Aí damos fim numas coisas e logo em seguida já estamos precisando delas para a mais nova casa. Sem contar com o que perdemos no caminho: sempre tem alguma coisa de que gostávamos e que se estraga, se extravia, etc.
Viver tudo isso, uma e mais outra vez, e aprender a lidar com tudo de forma cada vez melhor e mais amadurecida é um trabalho para toda a vida.

4. A chegada dos filhos deixou as coisas mais difíceis?
Não digo mais difícil, porém com mais responsabilidades! Temos que ajudar as crianças a crescerem e a se desenvolverem de forma saudável no meio desse vai e vem.
Temos que ajudá-los a encarar essa vida com muito otimismo, ensinando-lhes as vantagens que podem tirar dessas vivências. Tudo tem de ter um tom de aventura e brincadeira: desde desmontar a casa, encaixotar os brinquedos e ajudar na arrumação do novo lar até aprender a conquistar novos amigos e conservar os antigos, descobrir novas formas de se comunicar, novos sotaques e vocabulário para ouvir, aprender a história de cada lugar, conhecer a geografia e clima de diferentes regiões do país e viver a cultura de cada um deles. E quando eles sentem as dificuldades, que podem ser saudades de quem está longe ou problema na adaptação na nova escola, por exemplo; temos de buscar os recursos para ajudá-los a enfrentarem essas fases e lhes mostrar que tudo isso os prepara para adquirirem virtudes e maturidade.
Entretanto, para podermos ajudá-los, precisamos estar fortes também e dispostos a aprender com eles a ver a vida de um modo alegre como fazem as crianças: caindo e levantando, começando e recomeçando com a facilidade que lhes é própria.
Pensando assim, a chegada dos filhos trouxe mais responsabilidades, mas com certeza tornou a nossa vida mais alegre e divertida. Podemos dizer que eles suavizam nossos caminhos!

5. Como encara estas constantes mudanças ?
Um medinho do desconhecido sempre dá! Contudo, me proponho sempre a estar aberta às novas oportunidades que vão surgir e tirar proveito para minha vida das coisas boas ou menos boas que poderemos encontra pela frente.


6. O fato de estar quase sempre muito longe dos seus pais e parentes une mais o casal?
Sim, temos que desenvolver muita afinidade como casal. Até porque se queremos passar toda aquela segurança de que falei para os filhos, precisamos estar com o ambiente de família bem fortalecido e isso começa com a unidade do casal.
Vejo, porém, que isso não é um fato automático devido ao fato de simplesmente estarmos longe da família de origem. É preciso haver esforço do casal para isso acontecer. É necessário que haja muita doação de ambas as partes para que cada um dos lados veja as necessidades do outro.
Se por um lado, a esposa do militar abre mão de muita coisa para acompanhar o itinerário que o marido tem de fazer pelo nosso país tão grande; por outro, o marido também tem de mostrar efetivamente e de forma bem concreta que reconhece esse esforço da esposa por amor a ele e à família que escolheram constituir.


7. E sua vida profissional fica muito afetada? Como você resolve esta parte?
Sim, Com exceção de pouquíssimos casos de esposas que conseguiram fazer uma carreira num cargo federal e que possuem mais facilidade para transferirem seus trabalhos para os mesmos locais que seus maridos, a grande maioria das mulheres tem sua vida profissional diretamente afetada.
Se conciliar os papéis de mãe, esposa, dona-de-casa e profissional já é um grande malabarismo que a mulher moderna tem de aprender a fazer, imagine para quem está sempre recomeçando!
Este é o meu caso. A cada nova cidade que chego tento exercer minha profissão: em umas eu consigo mais que em outras. Tento ficar conhecida, conquistar um espaço para mostrar meu trabalho, etc. Quando a coisa já está deslanchando, chega a hora de ir embora e deixar o trabalho conquistado. Aí é preciso ter grande desapego de tudo e se lembrar que se temos alguma habilidade, é para servir. Não trabalhamos meramente para auto-realização, pois se o ponto final está aí, rapidamente vem a frustração de ter de deixar tudo.
Tento sempre me lembrar que eu trabalho para desenvolver um dom que tenho, ajudar minha família, servir as pessoas que se utilizam diretamente do meu trabalho, servir à sociedade, etc. Aí fica mais fácil querer deixar um trabalho bem feito para outro dar continuidade enquanto a gente vai começar tudo de novo em outro lugar.
Também eu tento aproveitar para estudar e aprender coisas novas da minha profissão, tirando vantagem das diversas regiões em que moro. Foi assim que aproveitei para fazer minhas pós-graduações quando morei em regiões com boas universidades ou ganho experiência “me virando” em lugares com menos recursos e mais necessidades na minha área de formação.
Vejo também exemplos de muitas amigas que aprenderam a desenvolver várias atividades muito variadas ao longo de sua vida, aproveitando todas as oportunidades que foram aparecendo.


8. Como os filhos reagem as mudanças?
Não é fácil para eles. Como filha, posso dizer que já senti na pele a dor de tantas separações e as dificuldades de tantos recomeços. Sempre custa! Mas também aprendi a ver que o tom que os pais dão a essa característica da vida familiar que possuem, pode ajudar ou atrapalhar o processo. Eles aprendem com os pais como podem enfrentar tudo isso.


9. Vivenciando tudo isso pelos dois lados, o que você diria a outras sobre constituir uma família com um militar?
Na verdade, nada muito diferente do que falaria para qualquer pessoa que quer constituir família. É preciso muito amor, generosidade, espírito de entrega, fidelidade ao cônjuge e ao compromisso assumido, principalmente quando aparecem as dificuldades.
Constituir uma família saudável é sempre uma grande aventura, mas que para ser bem sucedida necessita de planejamento, cuidado, dedicação. Casar-se com um militar é apenas mais uma circunstância de vida em que se pode acreditar que é possível criar uma família saudável e feliz num mundo em que tantos apontam incontáveis dificuldades para tal empreendimento.

18 comentários:

Laura disse...

Adorei esta entrevista. Também sou mulher de militar e estava com medo, até hoje, de ter filhos, por conta das mudanças. Agora me animei!

Anônimo disse...

Juliana Santos -
Esta é uma amiga que sempre me ajudou, com sua grande inteligencia, parabens Fer por esta grande revelação...

Anônimo disse...

Adorei a entrevista! A Fernanda como entrevistada não poderia ter sido melhor pois sua experiência como filha e agora como esposa de militar é riquíssima! Michele Valadão

Anônimo disse...

Querida Laura, como você viu, filho não impede a gente de fazer nada, né? Nem de viajar, trabalhar, se mudar...E nessa nossa vida itinerante, serão crianças com oportunidades de serem adultos muito preparados para o que o futuro espera da próxima geração: flexíveis, com grande capacidade de relacionamento interpessoal, com vivência prática de diferentes experiências, fortes diante das dificuldades e muito mais!
Não podemos desperdiçar esta ótima escola de vida, não é?
Abraços e obrigada pelo comentário,
Fernanda

Anônimo disse...

Fernanda-

Queridas amigas Juliana e Michele Obrigada pelos comentários.
Sem dúvida, uma das coisas mais importantes que ganhei na minha vida afora pelo Brasil, foram as amizades que iluminaram meu caminho. Vocês fazem parte disso.
Beijos,
Fernanda

Liana Clara disse...

Isso é que é Negócios de Família!! Estar presente neste Brasil a fora, deixando um pedacinho do coração por onde passa. Fernanda, esta sua imensa família militar cada vez se expande mais, em cada mudança que você faz.
Beijos Liana

Anônimo disse...

Muito boa a entrevista: realista e otimista ao mesmo tempo!
Danielle Jung

Drika disse...

Querida amiga,parabéns pela entrevista, vc. conseguiu expressar com muita riqueza, entusiasmo, otimismo e amor o que vivenciamos. Agradeço a Deus por ter permitido que nossos destinos se cruzassem devido a profissão dos nossos maridos. Sou sua fã!! Te adoro! Adriana

Anônimo disse...

Fernanda
Obrigada, Adriana! Tudo o que disse não aprendi sozinha, mas juntando as experiências de tantas boas "esposas de militares" que já passaram pela minha vida, como você! Beijos, Fernanda.

Anônimo disse...

Fê, meu comentário não foi postado...

Liana Clara disse...

As amigas que não conseguiram postar, por favor tentem de novo, pois este sistema esta falhando algumas vezes. Desculpem-me mas é falha técnica.

REGINA disse...

Fer conheci vc na universidade, e testemunhei a pessoa incrível que é, naquela época como filha de militar, hoje admiro-a mais e mais pela mulher forte que se tornou, conservando a doçura de outrora. Quando vc comenta que ensina seus filhos "a conquistar novos amigos e a conservar os antigos", vejo você amiga. Simplesmente encantadora é como te vejo, apesar da distância vc é a amiga que se guarda no lado esquerdo do peito e qualquer dia a gente se encontra... Parabéns, que Deus continue a abençoar ricamente sua vida e sua família! Abraços, Regina

Dado Moura disse...

Parabens pela inicitativa desse blog e também a Fernanda, aqui representando muitas outras mulheres de militar, sabe administrar com maestrias as diversas situacoes de uma vida bastante diferente da maioria de outras esposas.
Bjs

Anônimo disse...

Olá Fernanda,
Puxa! Incríveis os seus comentários. Parabéns pela coragem, otimismo e determinação. Que Deus me ajude a ser um pouco, pelo menos, como você. Um grande abraço,
Elisa (amiga da Kerol)
Brasília-DF

Liana disse...

Caras amigas, sintam-se em casa e façam deste nossos blog uma continuação da casa de vcs, sempre que quiserem um papo amigo, podem vir que estamos por aqui. Beijos nas amigas da Fer que também são nossas.

Daniela Baba disse...

Fernanda, lindo depoimento! Digo que até me encorajou diante de possíveis mudanças, mas como esposa de veterinário mesmo, rs!
Bjos!

Anônimo disse...

ola Fernanda,
bom,recentemente me mudei,meu namorado e militar e estamos morando juntos.
so o fato de vc sair da sua cidade e ir para outro lugar,mesmo sendo dentro do estado,ja foi um grande passo.
enfim no inicio agora ,esta meio dificil,pela adaptaçao e tal,passo a maior parte do meu tempo sozinha em casa,por enquanto, e esta sendo meio complicado pra mim,mas agora que li seu depoimento,foi mais um incentivo a continuar.
e ver que toda essa mudança nao eh nenhum obstaculo impossivel de passar.
obrigada

abraco

Lu Camargo
RS

Carlos Ramos disse...

Parabéns para todas as guerreiras que nos acompanham e muitas vezes deixam de viver os seus sonhos, para seguir em uma vida de constantes mudanças, porém sem desanimar, pois acreditam na importância do nosso trabalho! Mayanny Ramos Ramos você além de ser a dona do meu coração, é também uma dessas guerreiras! Te amo!

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