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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

EmContando – 10

Por Agnes G. Milley
Contos Populares
O conto popular é reflexo da memória e da imaginação dos povos.  São histórias que originalmente foram divulgadas apenas oralmente  e trazidas até nós de geração em geração. Ao longo dos séculos, essas histórias perderam pormenores e ganharam outros. Por isso mesmo encontramos  diversas versões da mesma história. A memória  conserva os traços gerais , mas a imaginação sempre modifica. O mesmo acontece conosco, e diz- se até,  que “quem conta um conto, acrescenta um ponto”. Isto é   verdade!
Os contos populares são velhos e anônimos . Falam de costumes, ideias, mentalidades, decisões e julgamentos de outros tempos .  Os  autores  dessas narrativas são desconhecidos  e nelas,  quase sempre são também omitidos os nomes dos personagens.  Localizações geográficas e datas  nunca  são mencionadas. Além dos fatos, tudo é muito vago, dando  ao  leitor ou ao ouvinte  a chance de voar e com sua própria imaginação encontrar as  descrições que a narrativa não lhe deu.

É interessante observar que apesar das diferenças culturais, povos  que viveram em tempos e lugares muito distantes uns dos outros, contam muitas vezes histórias com elementos quase idênticos. Mas isso é matéria para muita pesquisa!

(Para saber mais, sugiro ler o Prefácio de CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL)  de Luis da Camara Cascudo  -  Editora Itatiaia e Editora da Universidade de São Paulo, 1986 )
Hoje  trago um conto tradicional da Turquia:
A ILHA DESERTA
Há muito tempo, um homem rico, bom e generoso, concedeu a liberdade a seu escravo, entregando-lhe um navio carregado de mercadorias.
“Você está livre”, disse ele, “ e todo o dinheiro que receber da venda desses produtos será seu.”
O escravo agradeceu e partiu. Tinha navegado poucos dias, quando foi surpreendido por uma tempestade, que tragou o navio, as mercadorias e seus homens. Somente ele se salvou e foi levado pelas ondas até a praia de um ilha longínqua. Estava exausto, faminto, com farrapos sobre o corpo, quando viu surgir um cortejo de homens em festa, trazendo uma suntuosa carruagem, vestes reais e que gritava:
“Bem-vindo, bem-vindo!”

O escravo que nem mesmo sabia se estava morto ou vivo, se deixou levar pela multidão. Tratavam-no como rei, tinha palácio, servos e muita comida à sua disposição.

Certo dia, chamou um dos homens que julgava de confiança e perguntou-lhe qual  era a razão de tanta cerimônia, pois sabia ser apenas um escravo, vítima de um naufrágio. O homem respondeu:
“Esta ilha é habitada por espíritos, que muito rezaram e pediram que lhes fosse enviado um filho do homem, para governá-los. Todos os anos lhes chega um, que é transformado em rei, recebendo todas as honras reais. Passado esse ano, ele é despido de suas vestes, colocado num barco e enviado para uma ilha deserta. Lá o ex-rei fica à mercê da sua sorte. Os homens que o antecederam, apenas desfrutaram do poder, esqueceram que um ano passa rápido e por isso se deram muito mal.”

O escravo ouviu com atenção e aconselhou-se com o Espírito da Sabedoria que falou:
“Nu, você chegou até nós, e nu, será enviado à ilha deserta. Agora que é rei tudo pode. Reflita a aja com sabedoria.”

O escravo lamentou o tempo perdido e tratou de trabalhar. Mandou homens até a ilha deserta, para que construíssem casas, arassem a terra, lançassem sementes e habitassem aquela cidade, tornando-a acolhedora para quando ele chegasse.

O ano passou rápido e ele soube ser enérgico e também zeloso quando necessário.
Quando findaram seus meses de reinado, foi despido e colocado no barco com destino à ilha.
Ao chegar, foi recebido com festas pela população, que ele mesmo havia enviado para lá. Foi eleito o seu governante, ali viveu em paz e reinou com muita sabedoria até o fim de seus dias.

Em: Contos e Encantos dos 4 Cantos do Mundo (Seleção e Adaptação de Cléo Busatto. Editora Leitura Ltda.)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Como evitar a recuperação

Por Maria Teresa Serman

Desde bem pequena, ao começar minha vida de estudo, meus pais, ambos professores, insistiam que eu começasse o ano letivo com toda a dedicação possível, garantindo notas altas desde o início. O argumento era de que vamos perdendo fôlego e concentração no fim do período, então o melhor é armazenar pontos e garantir a vitória completa, sem prova final  e muito menos recuperação. Isso não significava, porém, que eu podia tirar notas baixas no fim, era só por prudência, não mediocridade. Assim fiz, sempre entrando de férias antes, enquanto os incautos penavam no calor do verão em sala de aula - que não tinha ar-condicionado, não!

Usei o mesmo método com meus filhos, sempre vigiei bem de perto seu rendimento, para detectar carências, desinteresse ou preguiça. Nenhum ficou em recuperação, mas aconteceram provas finais, é normal. Acredito que cabe aos pais a responsabilidade de garantir que o estudo dos filhos transcorra nas condições propícias ao seu aproveitamento completo, desde o ambiente claro e apropriado; a fixação de horário para o trabalho de casa e outras atividades afins; a frequência dos genitores às reuniões na escola, além de conversas extras que forem necessárias com os professores - pensamos que conhecemos bem os filhos, mas nos enganamos às vezes, e como! -; conhecimento do calendário escolar e de suas eventuais alterações; verificação dos trabalhos feitos, das anotações e livros indicados.

O tempo de estudo diário deve ser equilibrado, não muito longo. E uma boa técnica é mudar as matérias, não ficar só com uma, pois cansa o cérebro, que se renova com a mudança de conteúdo. Um pouco de cafeína em forma de mate ou chá gelados turbinam a memória e o raciocínio, sem exagerar na quantidade. A postura deve ser ereta, em cadeira na altura certa em relação à mesa - nada de estudar enrolado como uma cobra na poltrona, ou deitado na cama - assim como ajudar o estudante a descobrir o melhor modo de gravar a matéria: há os que têm a memória auditiva mais afiada, então leem alto, e os que são mais visuais, preferindo fazer resumos.

A disciplina precisa ser constante, a um tempo firme e carinhosa, contrabalançando a supervisão com elogios e incentivos, nunca oferecendo presentes por passar de ano, ou prometer prêmios por notas altas, o que enfraquece a vontade e o caráter, dando uma ideia errônea do que é a vida e a responsabilidade diante dos deveres. O estudo é uma benção, um direito, uma obrigação, não um favor que os filhos fazem aos pais.

O computador pode ser um grande aliado e uma ameaça real. Olho no tempo que eles passam na frente da tela e, principalmente, no que acessam. Filtros de internet são imprescindíveis. E, apesar de ser uma tarefa obrigatória, é bom ressaltar aspectos lúdicos e prazerosos do estudo, despertando sua atenção para estes, e amenizando possíveis implicâncias com determinadas matérias.

Os pais são os primeiros e principais educadores! Seja qual for sua profissão ou nível de escolaridade, podem, melhor do que ninguém, apoiar e ajudar seus filhos a serem estudantes confiantes e profissionais competentes. E ajudar não significa de jeito nenhum fazer os trabalhos em seu lugar, ou incentivarem qualquer atitude desonesta, como a cola ou outro desvio de comportamento. Olho vivo e coração alerta!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Quando se precisa da ajuda dos sogros

Um ponto muito importante na vida de família é o da colaboração dos nossos pais e sogros para cuidar das crianças enquanto trabalhamos ou estudamos. Quando as crianças ficam sob os cuidados dos avós, por algumas horas do dia, sabemos que aprenderão muito deles, o que pode ser bom ou não.

Quando os avós não querem fazer do modo como queremos para os nossos filhos – vamos ter que conversar - pode ocorrer  que esperneiem, reclamem, tentem burlar as regras impostas, mas acabarão vendo o que é o melhor para o neto. E se de todo não ouvirem e desrespeitarem as regras a solução é arrumar outra pessoa para cuidar das crianças.

Todas estas conversas devem ser feitas com simpatia, calma, delicadeza, caras boas que irão dobrar qualquer um, mas sempre com firmeza. Ter sempre em mente que o objetivo é dar o melhor a sua família recém-constituída, com as metas decididas pelos dois.

Parentes não escolhemos – amigos sim -  por isso é bom escolher bem os amigos e ter um bom círculo de amizades. 

Eu ainda não tenho netos, mas tenho certeza de que no dia em que os tiver, vou ser mais benevolente e paciente com as crianças, do que fui quando mãe. Mas pretendo respeitar as orientações que filhos e genros, noras e filhas derem, pois  a bola da vez neste momento estará com eles.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O matrimônio ( trecho de uma entrevista com S. Josemaría Escrivá)


O matrimônio existe para que aqueles que o contraem se santifiquem nele e se santifiquem através dele; para isso os cônjuges têm uma graça especial, conferida pelo sacramento instituído por Jesus Cristo. Quem é chamado ao estado matrimonial encontra nesse estado - com a graça de Deus - tudo o que necessita para ser santo, para se identificar cada dia mais com Jesus Cristo, e para levar ao Senhor as pessoas com quem convive.

Por isso penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos, em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimônio, que são testemunhos luminosos desse grande mistério divino - sacramentum magnum! (Ef. V,32), sacramento grande - da união e do amor entre Cristo e sua Igreja. Devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com ânsia de santidade, com a consciência de que o sacramento inicial - o batismo - confere já a todos os cristãos uma missão divina, que cada um deve cumprir no seu próprio caminho.

Os esposos cristãos devem ter a consciência de que são chamados a santificar-se santificando, de que são chamados a ser apóstolos, e de que seu primeiro apostolado está no lar. Devem compreender a obra sobrenatural que supõe a fundação de uma família, a educação dos filhos, a irradiação cristã na sociedade. Dessa consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da sua vida: a sua felicidade.

Mas não esqueçam que o segredo da felicidade conjugal está no cotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria escondida de chegarem ao lar; no trato afetuoso com os filhos; no trabalho de todos os dias, em que toda a família colabora; no bom humor perante as dificuldades, que é preciso enfrentar com esportividade. e também no aproveitamento de todos os avanços que nos proporcionam a civilização, para tornar a casa agradável, a vida mais simples, a formação mais eficaz.

Àqueles que foram chamados por Deus para formar um lar, digo constantemente que se amem sempre, que se amem com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimônio - que é um sacramento, um ideal e uma vocação - quem pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida sempre traz consigo. Aí é que o amor se torna forte. As enxurradas das mágoas e das contrariedades não são capazes de afogar o verdadeiro amor: une mais o sacrifício generosamente partilhado. Como diz a Escritura, aquae multae - as muitas dificuldades, físicas e morais - non potuerunt extinguere caritatem (Cant.VIII,7) - não poderão apagar o carinho.

Extraído do livro A mulher e a família, de S. Josemaría Escrivá

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Células-tronco: o tempo é o senhor da razão

Transcrevo aqui um brilhante artigo do Dr Ives Gandra.

TENDÊNCIAS/DEBATES
Pela CNBB, defendi em 2008 no STF não matar embriões. Citei as células-tronco adultas, mais eficientes. Perdemos. O Prêmio Nobel mostra agora nossa razão.

Em 29 de maio de 2008, com grande cobertura da imprensa, aconteceu o início do julgamento da constitucionalidade da lei sobre a utilização de células embrionárias para experiências científicas.

Isso aconteceu por força da Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-Geral da República, que entendia ser inconstitucional a destruição de seres humanos em sua forma embrionária.

Representando a CNBB, mostrei, da tribuna do STF, que tais experiências -um fantástico insucesso nestes 15 anos de pesquisas em todo o mundo- seriam desnecessárias.

Dizia isso pois, três meses antes, o médico japonês Shinya Yamanaka conseguira, reprogramando as células-tronco adultas (células do próprio organismo humano), obter os mesmos efeitos pluripotentes -ou seja, a possibilidade de dar origem a praticamente todos os tecidos do organismo humano.

Alegava-se que pluripotentes eram as células embrionárias. Elas seriam indispensáveis para o sucesso das experiências. Mas essas experiências, na verdade, foram sucessivamente mal sucedidas.

Dizia-se ainda, à época, que as células tronco adultas teriam efeitos apenas multipotentes, curando algumas doenças e não todas. Apenas as células embrionárias poderiam curar todas as doenças, quando fossem solucionados os problemas de rejeição e formação de teratomas (tumores).

Mostrei, na ocasião, que a Academia de Ciências do Vaticano -que possuía, então, 29 prêmios Nobel, no quadro de seus 80 acadêmicos- discutira a matéria, concluindo que o zigoto (primeira célula) é um ser humano, com todos os sinais que constituirão a sua integralidade, quando adulto.

Mostrei, inclusive, que, nos Estados Unidos, já ocorria a adoção de células embrionárias por casais sem filhos e que, na Alemanha, as experiências com células embrionárias não podiam ser feitas com material proveniente de mulheres alemãs, mas apenas com óvulos de mulheres de outros países.

Por fim, para não alongar este artigo, cercado por uma legião de cadeirantes, mostrei-lhes que as experiências com células embrionárias geravam tumores e rejeição nas experiências realizadas com animais.

Isso não acontecia, porém, nas experiências de reprogramação celular de Thompson e Yamanaka, por serem células do próprio organismo.

O certo é que, por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal optou pelas experiências com a destruição de seres humanos na sua forma embrionária, provocando inversão maior de recursos públicos nas experiências mal sucedidas (apesar das questões éticas envolvidas) e menor nos bem sucedidos experimentos com células adultas.

Felizmente, a Academia Sueca, ao outorgar o Prêmio Nobel a Yamanaka, sinalizou o que realmente se pode esperar das experiências com as células adultas reprogramadas para efeitos pluripotentes, que não geram rejeição, teratomas ou problemas éticos de qualquer natureza.

O prêmio à Yamanaka demonstra nitidamente que as experiências com as células embrionárias não sensibilizaram os acadêmicos suecos.

O tempo é sempre o senhor da verdade.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 77, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra

Opinião São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

Mais algumas charadinhas

Enviadas por  Agmes G. Milley

1 – O que voa eternamente e não se cansa?
2 – O que é que sempre nos segue e só conseguimos nos livrar disso, quando estamos na escuridão?
3 – Por que a previsão do tempo é como uma criança?

 4 – O que é que se quebra ao menor ruído?
5 – Qual o pé mais rápido?

6 – Quem é o mal-educado que bate no seu rosto, e você não enxerga?
7 – Quando é que se pode fazer uma lua dançar?

8 – O que é que cai do alto e não se machuca?
9 – Que lençol você não pode dobrar?

10 – Por que a planta pequena  não fala?
11 – Qual a primeira coisa que acontece quando um menino cai dentro d’água?

12 – Quanto mais cresço, menos você me vê. Quem sou eu?
13 – Você me ouve e vê o que faço, mas mesmo assim não me vê. Quem eu sou?
14 – O que passa por todas as casas sem sair do lugar?

Respostas: 1 – o tempo   2 – a sombra  3 – porque está sempre mudando  4 – o silêncio  5 – o pé-de-vento  6 – o vento  7 – atirando-se um pedra na lua quando refletida na água 8 – a chuva  9 – o lençol d’água  10 – Porque ela é mudinha.  11 – Ele fica molhado. 12 – a escuridão  13 – o vento  14 – a rua

Ciranda Cultural

Organização Donaldo Buchweitz

sábado, 24 de novembro de 2012

CORAÇÃO FALSO SEMPRE SE MUDA; O BOM É SEMPRE UM.

"Eis a ligação entre a fidelidade, por um lado, e a falsidade e inconstância por outro; entre a adesão plena a um feixe de princípios e normas bem amadurecidos, e o borboletear entre várias inclinações que não merecem o nome de compromissos; entre um amor entendido como doação e o pavor ante a simples perspectiva do sacrifício, que induz ao cálculo egoísta, sempre instável e flutuante, de lucros e perdas.

A fidelidade sempre exige esforço; não há fidelidade, por assim dizer, "fácil". E por que mudam com tanta facilidade os corações de alguns e de algumas? Porque não se dispõem a manter a coerência, a palavra dada, no meio de um fluir de pequenos fracassos, de despontamentos em certa medida inevitáveis, de uma compulsão de mudança. Quando desabem idealismos inconsistentes - o namorado "príncipe", o emprego que preenche todas as expectativas de realização, o marido ou a esposa ideais, os filhos espetaculares, etc. - desponta nas pessoas algo a que poderíamos chamar "fadiga do coração", semelhante ao fenômeno físico da "fadiga do metal".

O coração "cansa-se" - E qual será o roteiro desse "cansaço"? O provérbio ensina-o claramente: é o roteiro da falsidade da mentira. Não necessariamente de uma mentira lúcida e intencionalmente maldosa, mas de uma gradativa falsificação dos fatos com que tentamos enganar-nos a nós mesmos: o empenho de fidelidade torna-se excessivamente pesado, o compromisso começa a ser asfixiante e aparecemos com manuseados eufemismos: "Não era o que eu esperava", "Na verdade não conhecia bem essa pessoa", "Estava numa fase ruim da vida e só fazia bobagens", "O casamento ficou sem graça"< "Peço que me seja concedido o direito de errar", ("Tenho direito de procurar minha felicidade"), etc, etc.

Quando o coração não se entrega com a sua melhor capacidade, quando se "poupa" ou se procura a si mesmo, aparece aquilo a que um jurista italiano, Adolfo di Argentine, chamou a síndrome da subjetividade:

- "um casamento não pode ter problemas": ou é maravilhoso ou se desfaz:
- "um trabalho não pode ter dificuldades": ou é gratificante ou a pessoa muda de emprego;

- "uma amizade não pode ter momentos difíceis: ou é total ou se transforma em indiferença ou ódio;

- "o empenho social não pode ser a paciente construção de uma sociedade melhor": ou é rapidamente triunfante ou confina-se na utopia. No melhor dos casos, refugia-se no âmbito da vida privada.

São ideias plenamente atuais: por toda a parte encontramos, e bem ativa, essa síndrome da subjetividade, que no fundo não consiste senão em conferir às emoções pessoais o primeiro lugar à hora de decidir. É isso o que cansa o coração e o leva a ansiar por contínuas mudanças, e é isso também o que o torna presa  fácil de uma certa falsidade. Por isso escreve Thibon, com certeira metáfora: "Olhai para esse homem. A sua alma, vazia de ideais, é como um deserto, e num deserto é impossível deter-se; é-se obrigado a correr."

Do livro PROVÉRBIOS E VIRTUDES, de José Lino C. Nieto. Ed. Quadrante.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EmContando – 9

Assim como  em “Meu Pé de Laranja Lima” , Zezé  conversava com  sua árvore predileta, Zé Orocó , em “Rosinha Minha Canoa”, se deliciava com as   histórias que sua canoa    lhe contava sobre as matas, os bichos e as águas do Araguaia. Zé Orocó subia e descia o grande rio, ano após ano, e em sua silenciosa solidão era a Rosinha sua mais íntima  companheira. Zé Orocó era louco? Muitos pensavam que sim.
José Mauro de Vasconcellos criou  esses   dois romances e muitos mais. Ser filho de  índia o fazia, naturalmente, profundo conhecedor e amante da natureza.
Hoje, vou contar como José Mauro descreve em “Rosinha, Minha Canoa” o nascimento de uma árvore. É um presente de primavera para vocês.
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Impressionante o cheiro de terra que comprimia o seu corpo de semente. No começo, quando o vento a lançara sobre o solo, tinha algum movimento, mas depois o mesmo  vento, como se cumprisse uma missão, viera rodopiando, até a cobrir de areia. Aos poucos foi conseguindo respirar, até se acostumar com aquele aprisionamento. Alguma coisa garantia não durar muito ... Uma angústia enorme invadia toda a insignificância do seu ser, porque a terra, sempre escura, não contava nada do que se passava do  lado de fora. Verdade era que tinha saudade do Sol e dos cantos dos pássaros: entretanto, acalmava-se e tentava compreender que aquele mistério fazia parte necessariamente de sua transformação.
E os dias iam passando, compridos e iguais, aumentando cada vez mais as horas de calor. Às vezes, vermes escorregadios tocavam no seu corpo nervoso e isso fazia com que desejasse voltar ao mundo antigo.
Não podia falar porque a terra quente, abafando tudo, transformava suas palavras em silêncio. Pensou em outras sementes aprisionadas, sofrendo também a mesma angústia da humilde espera.
Até que um dia, uma absoluta calma substituiu seus pequenos frêmitos e uma espécie de sono paralisou-a: só foi despertada por um grande ruído. A terra estremecia de medo porque a natureza trovejava. Sentiu o baque da chuva sobre o solo e o cheiro gostoso do chão que estava sendo molhada. Depois ... as gotas de chuva introduzindo-se, infiltrando-se até ao âmago da terra... Vinham  cansadas da longa viagem feita do céu através do espaço zangado ...
A alma da sementinha despertou porque as gotas se aproximavam cada vez mais. Até que seu dorso foi arrepiado pela frialdade do líquido e uma voz clara falou:
“ Ei, menininha! Agora você pode libertar-se: agora você pode perfurar a terra e alcançar a liberdade.
A muito custo ela abriu os olhos de semente e gaguejou:
“Boa noite, senhora!”      A gota d’água riu:
“ Não é noite, não, menininha. É dia! ...
“ Como podia saber, se aqui sempre é tão escuro? ...”  A chuva riu.
A semente perguntou amedrontada:
“ Como é que a senhora sabe de tudo?”
“Ora, meu bem, eu sou uma velha chuva, cansada de ser chuva.”
“ Para onde  a senhora vai agora?”
“ Agora? Vou, juntamente com as minhas irmãs, criar uma nascente que, com o correr dos anos, virará um grande rio. Durante muito tempo serei esse rio, até que um arco-íris me beba e me transforme de novo em chuva ...”
“ E a senhora fica sendo chuva a vida inteira?” A gota d’água sentiu-se triste e respondeu, com a voz emocionada:
“ Um animal poderá me engolir e, então, tudo se acabará. Depois disso não poderei dizer mais nada.  Volto então aos meus velhos pensamentos: Não sei nunca por que nasci e nem para onde irei. Afinal, nós todos somos assim ...”  A chuva calou-se.
“ A senhora deve estar muito cansada, não?” A semente havia notado que a chuva chorava e tentava disfarçar, enquanto respondia:
“ Um pouquinho, mas agora posso dormir umas horicas antes de prosseguir”
“ E eu?”
“ Que é isso, meu bem? Você está tremendo toda!”
“Ah! Dona Chuva, estou com tanto medo de nascer ...”
“Bobagem ... Vamos, eu ajudo!”
 Sua angústia renasceu e sua voz saiu meio tremula:
“ Mas eu não sei por onde nascer ... “ Os dedos de Dona Chuva apalparam seu dorso e pararam em determinado ponto.
“Deve ser aqui. A casca está  bem fininha: vou amolecer mais e você fará também um esforço ...”
 Não disse mais nada. Foi contendo a respiração. Mais e mais. E ainda mais. Sentia que ia estourar. Devia estar quase roxa de tanto esforço. Alguma coisa se lhe abalava por dentro: deviam ser os bracinhos de folha.  A chuva disse novamente:
“Tente outra vez.” Forçou o ar de dentro e uma grande dor a estremeceu. Parecia que se rachava a casca, de alto a baixo. A ponta de um de seus braços projetou-se para fora.
“ Ai! Que dor! ... Ui! Que frio! ...  A chuva riu grosso:
“É assim mesmo. Agora o outro bracinho.”  Foi puxando o outro braço da folha e dessa vez já não sentiu doer tanto. E, mesmo, a vida fora da casca assemelhava-se a uma nova aventura: sentiu, então curiosa sensação.
O contato de seu corpinho fraco, miudinho, com a terra úmida enchia-lhe a vida de um novo encanto. A chuva bocejou:
“ Viu, minha filha? Não é assim tão difícil nascer.”
“ Mas dói um pouco ...”
“ Se não doesse a vida não teria preço. Agora trate de caminhar. Você precisa sair, andar, perfurar a distância  que existe até ao outro lado. E como você não tem prática, vai levar todo o resto desta noite ... Agora, adeus ... vou cochilar.”  A chuva reclinou-se para um lado e antes de dormir de todo ainda falou com ternura:
“ Você vai achar a vida linda ... sempre depois que chove ...” Bocejou mais forte e parece que nem escutou todo o agradecimento do seu coração vegetal:
“Obrigada, Dona Chuva ...”
E foi assim  que nasceu uma plantinha frágil e verdinha que se transformaria num belíssimo pé de canjirana-branca .

Obs.:  Desculpem se a história foi um pouco longa, mas valeu a pena?   Agnes G. Milley

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Coração magoado fala demasiado

Em quatro palavras, um autêntico tratado sobre a origem dos desabafos, dos famosos desabafos que acarinhamos como um direito irrecusável! A facilidade sermos espetados pela mágoa é diretamente proporcional à torrente de desabafos que flui, impetuosa, do nosso coração: "Não consegui aguentar; falei, falei, falei, até cansar..." Por que? Porque é um recurso psicológico para exteriorizarmos as mágoas e ressentimentos, para nos ouvirmos e nos convencermos de que estamos com a razão.


Quando nos tornamos susceptíveis, hipersensíveis a palavras, atitudes ou gestos que pouco ou nada significam por si mesmos, passamos a fazer parte do grande exército dos ressentidos: desabafamos demais, falamos demais. Pensando bem: não é verdade que uma alta porcentagem de palavras inúteis e mesmo prejudiciais, dessas que envenenam a convivência, são expelidas tumultuosamente, sem pensar, explodindo na cara do próximo sem a menor justiça ou compreensão? O desabafo vira explosão. Essa é a triste marca do coração magoado: a verborreia que tenta defender-se, desculpar-se, contra-atacar, ou então provocar compaixão em quem nos ouve, explicando com mil pormenores (desnecessários e, tantas vezes inexistentes) aquilo que machuca.

Seria tão bom conseguir que os acontecimentos ou as pessoas nos ferissem menos! A facilidade de nos sentirmos magoados ou ofendidos está muito ligada à alta estima que temos de nós mesmos, à vaidade e ao amor-próprio. Daí que o homem ou a mulher realmente humildes tenham poucas mágoas. Consequência: falam com ponderação, sem estridências, e sempre disposto à compreensão, a essa largueza de espírito cuja carência dá toda razão ao provérbio: QUEM AO LONGE NÃO OLHA, PERTO SE FERE.

(...)DA ABUNDÂNCIA DO CORAÇÃO FALA A BOCA: é uma sentença pronunciada por Cristo( Lc 12,34) e depois repetida em todas as línguas e culturas. E é um convite à prática de um sadio exercício de conhecimento próprio, que nos tira, à força de habitualmente nos julgarmos a nós mesmos, a vontade - e até o prazer mórbido - de julgar os outros e de queixar-nos deles.É exatamente quando progredimos nesse conhecimento próprio que encontramos o ponto fraco que origina as nossas mágoas e as nossas verborreias. Descobrimos que consciente ou inconscientemente nos supervalorizamos, e por isso tendemos a sentir-nos menosprezados, desaproveitados, descartado, injustiçados, subjugados... Vamos então entregando-nos a um obsessivo vaivém de pensamentos e impressões - o famoso "remoer" - pouco perceptível no começo, mas que, como uma má sinfonia, sobe num "crescendo" dissonante e bem pouco musical, num acúmulo de recriminações, contra-ataques e autodefesas. A cabeça assemelha-se a uma panela de pressão com a tampa bem atarraxada, que solta fumaça por todos os lados (as caras feias, os mutismos aparentemente inexplicáveis), até que acaba...explodindo. Essa situação ensina algo de extremo valor: que nenhuma explosão ou desabafo acontece de repente, que são as tumultuosas impressões cozinhadas pelo orgulho ao longo do tempo as protagonistas de uma história de feridas mal cicatrizadas, de humilhações não absorvidas e até de vinganças sem nobreza.

Que fazer para dissolver as mágoas a tempo? Como primeiríssimo remédio calar a boca, treinando-se em situações menos explosivas, ante as pequenas "alfinetadas" de que está repleta a vida diária.(...)Depois confidenciar na hora certa e com a pessoa certa, serenamente, abrindo o coração com Deus,em primeiro lugar, mas também com um bom sacerdote, e, se o tivermos, com algum amigo sensato e experiente que possa aconselhar-nos com lucidez e cabeça fria. A seguir, reconsiderar as "injustiças" que nos pareça termos sofrido, buscando  com isenção de ânimo as mil e uma razões e atenuantes que explicam o comportamento do nosso "ofensor", considerando antes de mais nada se não lhe teremos dado motivos bem reais para tratar-nos assim. E veremos então as nossas mágoas fundirem-se e evaporarem como gelo ao sol.

Do livro PROVÉRBIOS E VIRTUDES, José Lino C. Nieto

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Comida no forno e final de semana fora, não combinam

Quando somos jovens e recém-casados, não paramos para pensar em detalhes, o tempo é curto para curtirmos a vida e um ao outro. Assim sendo não  observamos pequenas coisas do cotidiano que podem gerar muito trabalho e até problemas para o futuro.


Lembro- me bem de um determinado final de semana que eu e meu marido fomos visitar nossos pais, saímos na sexta e só voltamos na segunda, e com a seguinte surpresa: milhares de bichinhos minúsculos saindo forno em direção a pia da cozinha. Era quase um filme de terror, pra quem não  tinha experiência e apenas 19 anos.
 
Depois de chorar sozinha, (porque o maridinho ficou no trabalho) ,era preciso tomar uma atitude e limpar toda a sujeira da cozinha , desde jogar fora as comidas podres até lavar as louças que não poderiam ser jogadas fora, claro! Junto com tudo fermentado de bichos imundos.

Foi uma tarefa inesquecível, que tomou muito tempo e muitas lagrimas de arrependimento, por esquecer as sobras de comida do almoço dentro do forno.
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Fervi muitas panelas de água para jogar na cozinha, na vã esperança de acabar mais rápido com aqueles seres minúsculos que não paravam de ser mover pela cozinha inteira. Não sei como não destruí o fogão e o forno com tanta água fervente e com certeza assustei os vizinhos com meus gritos de pavor.

A experiência valeu, pois nunca mais deixei de fazer uma checagem geral antes de sair de casa para me ausentar mais do que um dia.
Para quem nunca viu, os bichos são pequenas larvas brancas que são chamados popularmente de saltões. Esses “vermes” brancos são, na maioria das vezes, larvas de moscas. As moscas possuem o hábito nojento de  colocar seus ovos onde tem comida estragada... Suas larvas tem o hábito de se alimentar de matéria orgânica em decomposição – comida estragada, restos de carnes, frutas e legumes podres. Eu sei, é nojento, mas é assim que tais bichos desenvolvem e se tornam adultos.
Vale muito a pena tomar cuidados especiais com a lixeirinha da cozinha e todas as comidas que estiverem fora da geladeira.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Rio que renasce

Na semana passada estive duas vezes no Hospital dos Servidores do Estado para obter algumas informações,  e fiquei agradavelmente surpresa com as mudanças que já se operaram na região.  Há alguns meses atrás, os tapumes, buracos e barulho tornavam o passar nas proximidades da Praça Mauá e do Porto, verdadeira tortura.  Agora, passeei feliz pelas largas calçadas de ruas claras, limpas e bem sinalizadas. Há muito que se fazer ainda, mas essa, ainda pequena, amostra abre caminho para a esperança de se poder transitar em um Porto jovem e moderno. Eu mesma me senti mais jovem. A região está adquirindo  a  dignidade que merece.


Na esquina da Av. Barão de Tefé com Av. Venezuela existe uma pequena construção azul com o nome de MEU PORTO MARAVILHA que abriga uma riquíssima exposição ligando o passado, o presente e o futuro da Zona Portuária. Com muita tecnologia e interatividade, você conhece as transformações da região através dos séculos e a explicação do papel da Concessionária Porto Novo.

Caminhando alguns passos pela Av. Barão de Tefé você já se encontra no Sítio Arqueológico do Cais do Valongo e da Imperatriz. Você volta no tempo  e entende melhor nossa cidades. O Valongo foi   construído no fim do século XVIII para o desembarque de milhares de escravos que eram comercializados  nas imediações. No século XIX, esse antigo cais foi recoberto por um novo, projetado por Grandjean de Montigny, para receber a futura esposa do imperador Pedro II, D. Teresa Cristina. Em escavações recentes para obras urbanas, esses tesouros foram redescobertos e oferecidos aos olhos curiosos dos visitantes de toda a parte.

Na Rua Camerino, logo adiante, um enorme paredão de 7 metros esconde um lindo jardim romântico, projetado por Luiz Rey no início do século XX. São os Jardins Suspensos do Valongo (1906). Lá, pedras falsas harmonizam  com troncos recobertos por argamassa, alguns caídos na relva, sugerindo a renovação do jardim pela natureza e pelo tempo. Compondo o espaço, estão os deuses romanos Minerva, Mercúrio, Ceres e Marte, esculpidos em mármore para enfeitar o cais da Imperatriz.

Esses dois passeios guiados podem ser feitos em vinte minutos saindo e voltando ao local da exposição, sempre às 11 e 14 horas. A exposição fica aberta de terça a domingo, de 10 às 20 h. Você pode também obter mais informações pelo e-mail atendimento@meuportomaravilha.com.br  e id Skype meuportomaravilha.

Recentemente foram organizados passeios guiados também ao Morro da Conceição e Arredores. Estavam no roteiro O Observatório do Valongo, a Fortaleza da Conceição, o Antigo Palácio Episcopal, Vários Ateliers de Arte e Restaurantes tradicionais, a Pedra do Sal, o Largo de São Francisco da Prainha, a Capela de São Francisco da Prainha , as obras da Praça Mauá e muito mais.

 Está sendo considerada a possibilidade de se repetir  o evento ainda antes do final do ano. Será amplamente divulgado como foi o primeiro. Prestem atenção! Vale a pena! Acho que filhos adolescentes podem lucrar muito.  Acompanhar  de perto  a reconstrução do Rio que   renasce no Porto pode ser até uma boa aventura.
Obs.: As informações foram obtidas no Meu Porto Maravilha.

Agnes G. Milley