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sábado, 24 de novembro de 2012

CORAÇÃO FALSO SEMPRE SE MUDA; O BOM É SEMPRE UM.

"Eis a ligação entre a fidelidade, por um lado, e a falsidade e inconstância por outro; entre a adesão plena a um feixe de princípios e normas bem amadurecidos, e o borboletear entre várias inclinações que não merecem o nome de compromissos; entre um amor entendido como doação e o pavor ante a simples perspectiva do sacrifício, que induz ao cálculo egoísta, sempre instável e flutuante, de lucros e perdas.

A fidelidade sempre exige esforço; não há fidelidade, por assim dizer, "fácil". E por que mudam com tanta facilidade os corações de alguns e de algumas? Porque não se dispõem a manter a coerência, a palavra dada, no meio de um fluir de pequenos fracassos, de despontamentos em certa medida inevitáveis, de uma compulsão de mudança. Quando desabem idealismos inconsistentes - o namorado "príncipe", o emprego que preenche todas as expectativas de realização, o marido ou a esposa ideais, os filhos espetaculares, etc. - desponta nas pessoas algo a que poderíamos chamar "fadiga do coração", semelhante ao fenômeno físico da "fadiga do metal".

O coração "cansa-se" - E qual será o roteiro desse "cansaço"? O provérbio ensina-o claramente: é o roteiro da falsidade da mentira. Não necessariamente de uma mentira lúcida e intencionalmente maldosa, mas de uma gradativa falsificação dos fatos com que tentamos enganar-nos a nós mesmos: o empenho de fidelidade torna-se excessivamente pesado, o compromisso começa a ser asfixiante e aparecemos com manuseados eufemismos: "Não era o que eu esperava", "Na verdade não conhecia bem essa pessoa", "Estava numa fase ruim da vida e só fazia bobagens", "O casamento ficou sem graça"< "Peço que me seja concedido o direito de errar", ("Tenho direito de procurar minha felicidade"), etc, etc.

Quando o coração não se entrega com a sua melhor capacidade, quando se "poupa" ou se procura a si mesmo, aparece aquilo a que um jurista italiano, Adolfo di Argentine, chamou a síndrome da subjetividade:

- "um casamento não pode ter problemas": ou é maravilhoso ou se desfaz:
- "um trabalho não pode ter dificuldades": ou é gratificante ou a pessoa muda de emprego;

- "uma amizade não pode ter momentos difíceis: ou é total ou se transforma em indiferença ou ódio;

- "o empenho social não pode ser a paciente construção de uma sociedade melhor": ou é rapidamente triunfante ou confina-se na utopia. No melhor dos casos, refugia-se no âmbito da vida privada.

São ideias plenamente atuais: por toda a parte encontramos, e bem ativa, essa síndrome da subjetividade, que no fundo não consiste senão em conferir às emoções pessoais o primeiro lugar à hora de decidir. É isso o que cansa o coração e o leva a ansiar por contínuas mudanças, e é isso também o que o torna presa  fácil de uma certa falsidade. Por isso escreve Thibon, com certeira metáfora: "Olhai para esse homem. A sua alma, vazia de ideais, é como um deserto, e num deserto é impossível deter-se; é-se obrigado a correr."

Do livro PROVÉRBIOS E VIRTUDES, de José Lino C. Nieto. Ed. Quadrante.

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