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domingo, 18 de novembro de 2012

PASSARINHO QUE ANDA MUITO COM MORCEGO ACABA DORMINDO DE CABEÇA PARA BAIXO

Quando uma moça diz a um rapaz que nem sequer é seu namorado, ou o é há pouquíssimo tempo, "Quero ter um filho com você, mas sem casar, pois um papel não acrescenta nada!" na verdade demonstra que caiu nas redes do sistema contra o qual pretendia se rebelar: deixou-se enredar nas malhas do chavão mais banal, onde há de tudo menos ideias próprias, convicções ou personalidade.


"Dormir de cabeça para baixo", contrariando as inclinações mais íntimas, mais NATURAIS, e, com elas, a própria possibilidade de vir a encontrar algum tipo de realização ou felicidade, é o alto preço pago pelo descaso em forjar convicções pessoais. Prefere-se trocar as convicções por palpites superficiais, por lugares-comuns, pela última moda pseudointelectual, pelo best seller bem editado, ou pelo que dizem os atores da telenovela. A convicção custa a ser conquistada, tem que ser testada, sofrida, às vezes recuperada. Mas, sem ela, hão há personalidade.

Quem se mimetiza conforme o ambiente para decidir qual há de ser o comportamento, quem extrai os seus critérios de conduta da média das opiniões circundantes e quer "estar por dentro", etc., será presa inevitável das diversas formas de instabilidade emocional, afetiva e religiosa que ondeiam por aí. Será, como se costuma dizer, apenas mais uma Maria-vai-com-as- outras, mais uma vítima inconsciente e acrítica do gregarismo e da massificação: AVES DA MESMA PLUMAGEM FICAM JUNTAS, unidas não por uma ideal comum, mas pela falta de personalidade. Aliás, a mesma ideia se encontra já nas cartas de São Paulo, que por sua vez cita o poeta clássico Menandro: AS MÁS COMPANHIAS CORROMPEM OS COSTUMES (cfr. 1Cor 15,33.)

A imagem do morcego, incapaz de enfrentar de olhos abertos a luz penetrante do dia, exprime maravilhosamente bem o atual estado de prostração mental, adepto da semiobscuridade de um mundo indefinido, indeciso e flutuante, e penetrado de uma espécie de terror latente perante qualquer coisa que signifique compromisso. Sob as esfarrapadas desculpas de quem proclama:"Faço o que gosto em cada momento", "Comigo, nada de regras ou leis", "Não tenho certeza de nada", o imenso bando dos morcegos modernos vive, na realidade, de cabeça para baixo.

Que fazer para que o passarinho não se torne morcego? Dar-se ao trabalho de construir certezas pessoais: aprender, formar a consciência, ler, perguntar: buscar a coerência entre as ideias e a prática; e, sobretudo, não se contentar com os argumentos de botequim que levam ao desanimado cinismo de quem diz:"Hoje em dia, acabaram-se as certezas", "Nada adianta nada". Formar convicções e depois levá-las para frente é algo que custa, mas não há alegria que se lhe compare.

Do livro Provérbios e Virtudes, de José Lino C. Nieto

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