"Dormir
de cabeça para baixo", contrariando as inclinações mais íntimas, mais
NATURAIS, e, com elas, a própria possibilidade de vir a encontrar algum tipo de
realização ou felicidade, é o alto preço pago pelo descaso em forjar convicções
pessoais. Prefere-se trocar as convicções por palpites superficiais, por
lugares-comuns, pela última moda pseudointelectual, pelo best seller bem
editado, ou pelo que dizem os atores da telenovela. A convicção custa a ser
conquistada, tem que ser testada, sofrida, às vezes recuperada. Mas, sem ela,
hão há personalidade.
Quem se
mimetiza conforme o ambiente para decidir qual há de ser o comportamento, quem
extrai os seus critérios de conduta da média das opiniões circundantes e quer
"estar por dentro", etc., será presa inevitável das diversas formas
de instabilidade emocional, afetiva e religiosa que ondeiam por aí. Será, como
se costuma dizer, apenas mais uma Maria-vai-com-as- outras, mais uma vítima
inconsciente e acrítica do gregarismo e da massificação: AVES DA MESMA PLUMAGEM
FICAM JUNTAS, unidas não por uma ideal comum, mas pela falta de personalidade.
Aliás, a mesma ideia se encontra já nas cartas de São Paulo, que por sua vez
cita o poeta clássico Menandro: AS MÁS COMPANHIAS CORROMPEM OS COSTUMES (cfr.
1Cor 15,33.)
A imagem
do morcego, incapaz de enfrentar de olhos abertos a luz penetrante do dia,
exprime maravilhosamente bem o atual estado de prostração mental, adepto da semiobscuridade de um mundo indefinido, indeciso e flutuante, e penetrado de
uma espécie de terror latente perante qualquer coisa que signifique compromisso.
Sob as esfarrapadas desculpas de quem proclama:"Faço o que gosto em cada
momento", "Comigo, nada de regras ou leis", "Não tenho
certeza de nada", o imenso bando dos morcegos modernos vive, na realidade,
de cabeça para baixo.
Que fazer
para que o passarinho não se torne morcego? Dar-se ao trabalho de construir
certezas pessoais: aprender, formar a consciência, ler, perguntar: buscar a
coerência entre as ideias e a prática; e, sobretudo, não se contentar com os
argumentos de botequim que levam ao desanimado cinismo de quem diz:"Hoje
em dia, acabaram-se as certezas", "Nada adianta nada". Formar
convicções e depois levá-las para frente é algo que custa, mas não há alegria
que se lhe compare.
Do livro
Provérbios e Virtudes, de José Lino C. Nieto
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