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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

EmContando – 10

Por Agnes G. Milley
Contos Populares
O conto popular é reflexo da memória e da imaginação dos povos.  São histórias que originalmente foram divulgadas apenas oralmente  e trazidas até nós de geração em geração. Ao longo dos séculos, essas histórias perderam pormenores e ganharam outros. Por isso mesmo encontramos  diversas versões da mesma história. A memória  conserva os traços gerais , mas a imaginação sempre modifica. O mesmo acontece conosco, e diz- se até,  que “quem conta um conto, acrescenta um ponto”. Isto é   verdade!
Os contos populares são velhos e anônimos . Falam de costumes, ideias, mentalidades, decisões e julgamentos de outros tempos .  Os  autores  dessas narrativas são desconhecidos  e nelas,  quase sempre são também omitidos os nomes dos personagens.  Localizações geográficas e datas  nunca  são mencionadas. Além dos fatos, tudo é muito vago, dando  ao  leitor ou ao ouvinte  a chance de voar e com sua própria imaginação encontrar as  descrições que a narrativa não lhe deu.

É interessante observar que apesar das diferenças culturais, povos  que viveram em tempos e lugares muito distantes uns dos outros, contam muitas vezes histórias com elementos quase idênticos. Mas isso é matéria para muita pesquisa!

(Para saber mais, sugiro ler o Prefácio de CONTOS TRADICIONAIS DO BRASIL)  de Luis da Camara Cascudo  -  Editora Itatiaia e Editora da Universidade de São Paulo, 1986 )
Hoje  trago um conto tradicional da Turquia:
A ILHA DESERTA
Há muito tempo, um homem rico, bom e generoso, concedeu a liberdade a seu escravo, entregando-lhe um navio carregado de mercadorias.
“Você está livre”, disse ele, “ e todo o dinheiro que receber da venda desses produtos será seu.”
O escravo agradeceu e partiu. Tinha navegado poucos dias, quando foi surpreendido por uma tempestade, que tragou o navio, as mercadorias e seus homens. Somente ele se salvou e foi levado pelas ondas até a praia de um ilha longínqua. Estava exausto, faminto, com farrapos sobre o corpo, quando viu surgir um cortejo de homens em festa, trazendo uma suntuosa carruagem, vestes reais e que gritava:
“Bem-vindo, bem-vindo!”

O escravo que nem mesmo sabia se estava morto ou vivo, se deixou levar pela multidão. Tratavam-no como rei, tinha palácio, servos e muita comida à sua disposição.

Certo dia, chamou um dos homens que julgava de confiança e perguntou-lhe qual  era a razão de tanta cerimônia, pois sabia ser apenas um escravo, vítima de um naufrágio. O homem respondeu:
“Esta ilha é habitada por espíritos, que muito rezaram e pediram que lhes fosse enviado um filho do homem, para governá-los. Todos os anos lhes chega um, que é transformado em rei, recebendo todas as honras reais. Passado esse ano, ele é despido de suas vestes, colocado num barco e enviado para uma ilha deserta. Lá o ex-rei fica à mercê da sua sorte. Os homens que o antecederam, apenas desfrutaram do poder, esqueceram que um ano passa rápido e por isso se deram muito mal.”

O escravo ouviu com atenção e aconselhou-se com o Espírito da Sabedoria que falou:
“Nu, você chegou até nós, e nu, será enviado à ilha deserta. Agora que é rei tudo pode. Reflita a aja com sabedoria.”

O escravo lamentou o tempo perdido e tratou de trabalhar. Mandou homens até a ilha deserta, para que construíssem casas, arassem a terra, lançassem sementes e habitassem aquela cidade, tornando-a acolhedora para quando ele chegasse.

O ano passou rápido e ele soube ser enérgico e também zeloso quando necessário.
Quando findaram seus meses de reinado, foi despido e colocado no barco com destino à ilha.
Ao chegar, foi recebido com festas pela população, que ele mesmo havia enviado para lá. Foi eleito o seu governante, ali viveu em paz e reinou com muita sabedoria até o fim de seus dias.

Em: Contos e Encantos dos 4 Cantos do Mundo (Seleção e Adaptação de Cléo Busatto. Editora Leitura Ltda.)

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