Cheguei de mais uma visita ao CTI. Minha amiga está se recuperando, graças a Deus. Está mais corada, respira melhor e hoje olhou-me bem nos olhos. Vim com o coração mais leve.

Como extensão do banco verde, ele enfileirou uma série de caixotes servindo de balcão para sua livraria de segunda mão. Além de livros, vende DVDs, CDs, muitas vezes clássicos, e reserva um cantinho para pequenos objetos como caixinha de música, abotoaduras, bichinhos e flores de gesso, antigas imagens de santos, caixinhas de porcelana ... Tudo muito velho, tirados do baú.
Tião dormia tranquilo. Passei por ele e sorri. Parecia feliz em sua simplicidade. Rapidamente, desviei os olhos para um barulho no asfalto. Os carros estavam parados na faixa, esperando o sinal abrir quando surgiu do nada uma espécie de skate quadrado com um passageiro nele sentado, sem pernas. Ele vinha em toda a velocidade em direção dos carros, e no último instante, antes de bater, girou o corpo e seu veículo subiu pela rampa da calçada, esbarrando de leve na mocinha que ali fazia seu estranho trabalho. Ela assustou-se, deu um grito, mas logo os dois riram do incidente.
A
mocinha, quase uma adolescente, tirava latas de alumínio de um saco, na beira da rua, e jogava-as sobre asfalto no momento exato em que o sinal abria para os carros. As latas pipocavam debaixo das rodas e quando os carros se afastavam e o sinal fechava novamente, ela corria e recolhia as latas achatadas e jogava outras. Era esse o seu trabalho. Fiquei encantada; sorri de novo. Ali, tão pertinho, no tempo e no espaço, três cenas tão inusitadas!
Minha amiga, Tião, o jovem do carrinho e a menina das latas me acalentaram o coração naquela tarde. Quatro vidas, quatro histórias, quatro pessoas lutando pela vida superando o quase insuperável, esperando, confiando e sem complicações, fazendo a vida acontecer.
Agnes G.Milley
2 comentários:
LINDÍSSIMO!!!
Agnes, esse seu olhar é o "olhar sobre a perifería" de que Dom Antonio Augusto falava na homilía de um dos recentes domingos na Missa da Paróquia de Na. Sra. da Paz.
Como é importante olhar para "as margens", os "outros espaços à nossa volta no cotidiano"...SÃO PESSOAS QUE VIVEM E SOFREM À MARGEM DA SOCIEDADE e que PRECISAM DO NOSSO OLHAR DE COMPAIXÃO E SOLIDARIEDADE.
Você, minha tão querida amiga, é MESTRA NESSE OLHAR PRA O OUTRO!
Abração,
Pat
Patrícia sempre passo para a Agnes os comentários feitos aqui. Ela gosta muito de ler. Beijos
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