Eu disse: “Gostei deste hospital. É pequeno, o movimento não é grande e é silencioso. O carrinho de limpeza nem faz barulho e as pessoas falam bem baixinho, respeitosamente”.
Elza ouviu-me com um ponto de interrogação no olhar. Não dei importância. Voltei a curtir o silêncio. Depois, em casa, aos poucos, fui observando as mudanças a meu redor. O micro-ondas respeitava minha dor de cabeça; o prato girava apenas com um leve zumbido. A descarga do vaso sanitário já não devia estar incomodando os vizinhos no meio da noite e o telefone nunca fora tão educado. Na rua, as rodas dos carros apenas arranhavam o asfalto e o arranque dos motores era nada mais que gargarejos. A vassoura do gari empurrava as folhas secas com um delicado sussurro. Como mudaram as coisas por aqui depois de minha viagem!
Lembrei-me de uma rápida parada em Genebra em Janeiro de 1973. O que mais me surpreendeu, na ocasião, foi o contraste entre o verão barulhento do Rio que eu deixara há algumas horas e o silencioso inverno da Suíça. Nem os bondes faziam barulho ao correrem pelos trilhos e muito menos as bem encapotadas senhoras nos mercados; elas não falavam! Agora, 40 anos depois, sentia-me de novo em Genebra. Como era gostoso este silêncio perturbado apenas pela cachoeira que se batia estrondosamente contra minha caixa craniana quando eu mastigava. Que estranho! Enquanto comia não conseguia ouvir o que se dizia. Depois das refeições eu distinguia nitidamente cada palavra, embora um pouco de longe. Tudo isso por causa de uma gripe mal curada e de um vôo de 45 minutos entre o Rio e São Paulo.
Para meu azar, depois de quatro meses de tratamento, o silêncio acabou. Agora soa tudo como antes.
Agnes G. Milley
Um comentário:
Adorei! Cada vez mais interessantes teus escritos!
Beijos,
Pat
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