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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Uma mulher clássica

Por Maria Teresa Serman

Não costumo achar muito consistentes as reportagens que leio em revistas femininas. Compro-as, na maior parte das vezes, pelos artigos sobre cuidados com a pele, maquiagem, moda, receitas especiais. A ultima que comprei, deste mês, eu o fiz também para ler uma entrevista da atriz Cláudia Abreu, em um depoimento mais pessoal do que profissional. Não me interessava seu personagem na novela, pois não assisto a nenhuma, embora reconheça seu grande talento e versatilidade. Admiro, sim, sua opção de uma família fora dos moldes que se convencionou quanto ao número de filhos - são quatro - e sua dedicação a ela, pois tirou um tempo sabático para estudar e cuidar da família.

Tenho cinco filhos, fiquei um bom tempo só cuidando da família, depois fiz um concurso e passei a ter dupla jornada. Sempre fui agredida verbalmente por causa dos meus filhos - como mesmo diz a jornalista que fez a matéria - "de um mesmo marido". Louca, irresponsável, inconsequente, mulherzinha que cuida só da casa, ouvia sempre todos esses vitupérios, e ainda o que parecia o oposto: "você é uma heroína, acho lindo família grande, só não tenho mais filhos (só tinha um ou dois, o "permitido" pela sociedade) porque não tenho condições!", mas era só mais uma sandice vestida de elogio.

A "loucura" era principalmente por serem do mesmo marido, vejam só! Tinha uma colega de trabalho que, todo dia, sem falta, me chamava de louca, era como bater o cartão. Calculo que ela se sentia melhor assim, Freud explica, então já não dava mais resposta, ou apenas sorria. Um dia, ao entrar na sala em que ela estava descansando, depois de dar aula como eu, ouvi o de praxe, mas com uma assustadora diferença: "Estava aqui pensando em como você é louca! Tenho uma amiga que também tem cinco filhos, mas ela é normal". Retruquei, - Não é louca também, como pode ser isso? A "esclarecedora" resposta foi " Ela não fez como você, teve três filhos, se separou, casou de novo e teve mais dois."

Imagino que se eu tivesse tido um filho de cada pai, seria um modelo para as outras mulheres! Impressionante se ouvir isso, essa normalidade nova, às avessas! Voltando à entrevista,  quando perguntaram à atriz se ela não se sentia um ET por ter quatro filhos do mesmo marido, respondeu que "se sentia uma mulher à moda antiga, uma mulher clássica", excelente definição! Clássica, por não ser escrava de modismos; clássica, porque filhos não são adereços usados durante uma certa época; porque "aconteceram naturalmente e sou muito feliz com isso", completou; clássica, como as pérolas e o tailheur Chanel; clássica, como a lei natural, que não é feita para atender ao egoísmo humano e suas preferências, mas ao bem maior do ser humano. E ainda brincou que terem todos o mesmo pai facilita as coisas. E como!

Um dos pontos que apreciei foi sua afirmação de que se acha mais bonita agora, depois das gestações, do que era com vinte anos. Quem a viu trabalhando naquela época pode confirmar isso, na verdade. E sua beleza é consistente, advinda de certezas interiores que norteiam sua vida. Não se curvou à profissionalite, à patrulha da mídia, aos pobres de espírito que  julgam ter direito de determinar como você deve viver sua vida.

Um detalhe interessante que também li na revista foi em outro texto, onde a autora diz que nós todas, mulheres, trabalhando fora ou não, somos sem exceção donas de casa. Porque, aí digo eu, se não nos preparamos e dedicamos a sermos realmente "donas" de nosso lar, não somente no sentido físico, será um ajuntamento desorganizado e infeliz de parentes, não um recanto luminoso e alegre.

Um comentário:

Patricia disse...

Tetê, também fiquei muito feliz ao ler a reportagem à qual você se referiu, sobre a Cláudia Abreu, MULHER CLÁSSICA, ou seja, que sabe o que é e o que quer para sua vida.

Vive uma UNIDADE DE VIDA, no sentido de não prejudicar nem a vida familiar nem a carreira promissora.

Com certeza, essa beleza interior, além da óbvia exterior, tem tudo a ver com sua maternidade e maturidade humana.

Parabéns para ela pelo belo exemplo que mostra à outras profissionais que também são MÃES PRESENTES.

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