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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Os pais que já estão junto do Pai – 1

Por Maria Teresa Serman

1) Quais as características mais marcantes de seu pai, como pessoa e como pai?


Meu pai era uma pessoa de temperamento forte, no melhor sentido e no outro também. Era amigo dedicado e fiel, aprendi com ele e minha mãe o valor da amizade; caridoso ao ponto de carregar pessoas lá para casa, dar-lhes proteção, auxílio e alimento. Caía em golpes seguidamente, mas não deixava de ajudar. Dizia que a sua consciência estava tranquila, o problema era de quem errava. Sempre me lembro disso e penso que tinha razão.
Foi professor de filosofia, sociologia, psicologia e teologia. Tinha uma cultura muito ampla, uma inteligência impressionante e ouvido absoluto. Por isso tudo fui criada ouvindo falar de Sócrates, Platão e Freud, sendo sempre amorosamente testada e escutando sua voz de tenor cantando óperas e fados.

2) Descreva alguns fatos marcantes no seu relacionamento com seu pai.

Éramos muito parecidos, exterior e interiormente. Eu fui sua companhia constante para restaurantes - ele adorava comer fora, herdei isso dele - e viagens, já que minha mãe nunca foi fã desses programas. Foi ele quem me ensinou as verdades fundamentais da minha vida, junto com minha mãe, principalmente a fé católica. Assimilei sua devoção a N.Sª e a Sto Antonio, que escandalosamente intercede por mim, como fazia com ele. Demonstrava um entranhado amor à Igreja e fidelidade ao Papa. Não admitia que, em sua presença, se ofendesse uma ou outro. Argumentava muito bem, pois sabia profundamente a doutrina.
Também me ensinou a ler vorazmente. Quando acabava um livro, se não tinha outro por perto, e lhe pedia, dava sempre a mesma resposta: leia o Antigo Testamento, você não vai encontrar histórias mais interessantes. Isso me preparou, e ele não tinha idéia, para o casamento com um judeu posteriormente. Coisas da providência divina.
Sou filha única, como ele, e tinha muito ciúme de mim. Gostava muito de meu marido e adorava os netos, que ele dizia serem bênçãos de Deus.
Ficou doente por vinte anos, a maioria deles sem falar, andar, se alimentando por sonda, mas transformou seu sofrimento em exemplo de mansidão - ele que não era nada manso -, sem nunca reclamar ou demonstrar irritação. Morreu tranquilamente há um ano, deixando muita saudade em nós. A casa continua marcada por sua presença quando ainda estava bem.

3) Mande um recado amoroso e bem-humorado para seu pai, por favor.

Papai,
Lembro sempre das suas brincadeiras irônicas, da sua fé, da sua voz, que continuo ouvindo como se ainda estivesse cantando pela casa. Sei que está intercedendo no céu por nós, especialmente, espero, para que sua filha aprenda, pelo seu exemplo, a ser paciente e aceitar a vontade de Deus. Também sei que vou vê-lo assim que chegar ao céu, com a graça d'Ele. Continue cantando por aí. Devem estar apreciando muito a sua voz. Beijos

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