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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

EmContando – 14 – O Rei

Recebemos o Menino Jesus em nossos lares, presépios e corações,  vivenciando as alegrias de estar  juntos  em família. Rezamos também por todos aqueles que estavam ausentes por distâncias, discórdias ou porque já partiram de nosso meio. Com a alma cheia de esperanças aguardamos, agora, o Ano que Vem.

Nesses dias é comum ouvirmos comentários tais como: “No ano que vem vai ser tudo diferente.” Ou o oposto: “Muda o ano, mas continua tudo igual.”
Pensando nisso, trago hoje uma história que reflete o ditado que diz que por um rio, a mesma água, nunca passa duas vezes.  Por mais igual que pareça tudo, sabemos que nenhum momento será igual ao que já passou.
Vamos ler a história?

O rei e a omelete
                                                            Walter Benjamim - (Trad. L. Konder)
Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da Terra mas, apesar disso não se sentia feliz e, a cada ano, ficava mais melancólico. Um dia ele chamou o seu cozinheiro preferido e disse: “Você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para minha mesa as melhores iguarias, de modo que lhe sou agradecido. Agora porém, quero que você me dê uma última prova de sua arte. Você deve me preparar uma omelete de amoras igual  àquela  que comi há cinquenta anos, na infância. Naquele tempo, meu pai tinha perdido a guerra contra o reino vizinho e nós precisamos fugir; viajamos dia e noite através da floresta, chegamos a uma cabana, onde morava uma velhinha, que nos acolheu generosamente. Ela preparou para nós uma omelete de amoras. Quando comi fiquei maravilhado: a omelete era deliciosa e me trouxe novas esperanças ao coração.  Na época eu era criança, não dei importância à coisa. Mais tarde, já no trono, lembrei-me da velhinha, mandei procurá-la, vasculhei todo o reino, porém não foi possível localizá-la. Agora, quero que você me atenda a esse desejo: faça uma omelete de amoras igual a dela. Se você conseguir, eu lhe darei ouro e o designarei meu herdeiro, meu sucessor no trono. Se não conseguir, entretanto, mandarei matá-lo.

Então o cozinheiro falou: “Senhor, pode chamar imediatamente o carrasco. É claro que eu conheço os segredos da preparação de uma omelete de amoras, sei empregar todos os temperos. Conheço as palavras mágicas que devem ser pronunciadas enquanto os ovos são batidos e a melhor técnica de batê-los. Mas isso não me impedirá de ser executado, porque a minha omelete jamais será igual à da velhinha. Ela não terá os condimentos que lhe deixaram, senhor, a impressão inesquecível. Ela não terá o sabor picante do perigo, a emoção da fuga, não será comida com o sentido alerta do perseguido, não terá a doçura inesperada da hospitalidade calorosa e do ansiado repouso, enfim conseguido. Não terá o sabor do futuro estranho e do futuro incerto”.

Assim falou o cozinheiro. O rei ficou calado, durante algum tempo.
Não muito mais tarde, consta que lhe deu muitos presentes, tornou-o um homem rico e despediu-o do serviço real.

Queridas amigas e amigos,
Desejo a todas e a todos um felicíssimo Ano Novo, com e apesar das possíveis e ocasionais dificuldades. Um grande abraço.
 Agnes G. Milley

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