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quinta-feira, 19 de maio de 2011

A OFERTA DO BRUXO E O SILÊNCIO DOS OPRIMIDOS

Paulo Oriente Franciulli

O crescimento do número de carros com os adesivos “Família feliz” me fez pensar em duas coisas, uma agradável, a outra nem tanto. A primeira é o começo do livro “Ana Karenina”, de Tolstoi, sobre as famílias felizes serem parecidas; hoje elas colocam em seus carros desenhos do casal, dos filhos e dos animais de estimação. Já o dissabor veio do que narro a seguir.

Segundo amplamente noticiado pela imprensa, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito à pensão na união homoafetiva, e abriu caminho para a sua equiparação ao casamento e inclusão entre as formas de família. A decisão foi divulgada com destaque pela mídia, especialmente quanto ao argumento do relator: ninguém perde com a equiparação e a minoria homossexual ainda ganha.

Ao invés de abordar o assunto do ponto de vista formal – se competia ao STF ou ao Congresso Nacional, pois a resposta é evidente –, prefiro tratar da questão de fundo (a tal oferta do bruxo), do silêncio dos oprimidos e da frase do ministro relator.

Começo pelo ministro. À primeira vista, o que disse soa bem e parece razoável, pois a balança da justiça permanece inalterada para a maioria “não interessada”, enquanto a minoria envolvida sai no lucro. No entanto, por ser um fundamento consequencialista, vai contra o conceito de justiça, que é dar a cada um o que é seu segundo a natureza das coisas.

O consequencialismo é pautar-se principalmente pelos resultados. Assim, o critério de levar ganhos a uns e não prejuízos aos outros, independentemente da sua natureza e dos seus direitos, acaba sendo injusto. Sirvo-me de uma analogia para explicar o erro e até o absurdo dessa postura. Vamos supor que apareça no Brasil uma minoria denominada “zooafetiva”, a favor da união legal entre um homem ou uma mulher com um animal. Depois de bem orquestrada campanha, tal minoria recorre ao Supremo para a equiparação dessa união ao casamento e à família. O mesmo ministro e seus pares acatarão o pedido, afinal ninguém perde e os “zooafetivos” ganham.


Passo à questão de fundo, que é a natureza mesma do casamento e da família. No livro “A Abolição do Homem”, Lewis explica a “oferta do bruxo”: o homem cede objeto atrás de objeto, e finalmente cede a si próprio e à Natureza, sempre em troca de poder. No presente caso, está cedendo uma coisa básica, que é a distinção natural entre homem e mulher, base do matrimônio. Em troca de quê, não se sabe.

Os dois pilares do casamento e da família – a distinção homem-mulher e o amor entre ambos, gerador de novas vidas – reduzem-se a pó com a equiparação à união homoafetiva. Nesta estão ausentes os elementos biológicos e antropológicos do matrimônio e da família, pois não há condições de garantir de modo adequado a sobrevivência da nossa espécie. A eventual utilização dos meios de fecundação artificial, além de comportar desrespeito à dignidade humana, não alteraria a sua inadequação.

Finalmente, o que mais chama a atenção é o silêncio ensurdecedor dos que veem que há algo de falso e estranho na decisão do STF. Por que se calam? A meu ver, porque a questão homossexual foi colocada de tal maneira que ou se é a favor, ou se é contra. Ser a favor pega bem. Ser contra, pelo contrário, significa cometer o que em breve será um crime grave. Não há matiz, graduação nem perspectiva.

Defender uma opinião diferente torna-se complicado para o cidadão comum, normal, que já começa a ter vergonha de estar casado com uma mulher e ter filhos. Perplexo ante o tsunami da causa gay, prefere calar a receber o estigma de fundamentalista intolerante e entrar no rol dos futuros réus.

Pois é a você, cidadão comum e normal, que me dirijo. Não se trata de sair combatendo nada nem ninguém, mas apenas de defender serenamente uma posição que, francamente, tem todo o peso da Natureza, da verdade e do bom senso. Nada contra o reconhecimento dos direitos das pessoas do mesmo sexo, nos termos de uma associação. Mas daí a chamar de casamento e família é outra história

4 comentários:

Patricia disse...

Rafael,
Que segurança reconfortante o teu texto nos dá, mas ao mesmo tempo, como a gente pode protestar efetivamente estando em casa, cuidando de mãe idosa bem doentinha, e não conseguindo ao mesmo tempo,escrever denunciando essas covardias do "PODER" contra a VERDADE?

Eu rezo MUITO, mas minha falta de tranquilidade, pelo cansaço e preocupações grandes no momento, me tiram a concentração necessária pra redigir qualquer tipo de texto que pudesse enviar aos jornais. Nem pra essa DELÍCIA de Blog da Família estou conseguindo me "inspirar", o que dizer de um assunto tão absurdo como o aqui tratado por você com tanta serenidade e firmeza?

Resta algum outro espaço pra protestos contra esse desmando, da caracterização de uniões homoafetivas como CASAMENTO, e ainda por cima, querendo ADOTAR CRIANÇAS nessa união DOENTÍA E DESUMANA?

Não queria me acovardar diante do desafío,nem me omitir, mas sinceramente, não sei como me manifestar de modo contundente, que possa se fazer escutado.

Abraço,
Patricia

Liana Clara disse...

Olá Patrícia este texto é do Paulo Oriente, outro amigo e colaborador do nosso Blog, vc confundiu os nomes.
Concordo que o assunto esta muito bem colocado e só não entende quem não quer.

PATRICIA disse...

Ih! Liana! Que descuido o meu! Por favor retire a "saudação" com o nome trocado...dá pra você "editar" pra mim? Acho que de tanto ler os artigos do Rafael, já fiquei gravando o nome pelo hábito!

Que clareza de pensamento o do Paulo!
Infelizmente, Liana, não estou mesmo com tranquilidade pra escrever...deve ser tipo "estafa pós-traumática"...exagêro,mas às vezes,as emoções sendo muito fortes, acabam mesmo gerando algum bloqueio.

Assim que conseguir estabilizar o ambiente por aqui,(o que da minha parte já está bem MELHOR) TENTAREI CONTRIBUIR COM MAIS ARTIGOS, TÁ?)..., mas quando as coisas não dependem só de um...PACIÊNCIA)

Liana Clara disse...

Olá Patricia
Não esquenta. Somos uma grande família e todos aqui nos entendemos, sem cobranças. Bjs

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