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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A ética e a religião nas escolas

Continuando com nossa preocupação com os estudos dos nossos filhos.

Texto de João Malheiro

Ensinar ética exige uma profunda unidade de vida que se manifeste em tudo o que acontece na vida da escola: no olhar carinhoso por cada aluno, no sorriso diante das dificuldades de educar
Publicado em 31/10/2009 | João Malheiro

Observo com satisfação que cada vez mais pais e educadores estão preocupados com educação moral de seus filhos e alunos. Parece que já paira no ar certa intuição, própria de quem quer o melhor para os seus pupilos, que indica que bastantes problemas atuais têm sua raiz numa deficiente ou insuficiente educação ética. Muitos, de forma exponencial nos últimos anos, me têm procurado e perguntado: como conseguir que meus filhos/alunos adquiram convicções morais, critérios de conduta, ideais de vida, valores profundos, pois eu mesmo não estou conseguindo e a sociedade não ajuda?

Demonstrar esta preocupação já denota um grande avanço. Infelizmente, esta inquietação ainda não atingiu profundamente alguns pais, que acreditam que educam muito bem os filhos ou que não veem nenhum problema no fato de seu filho ver o que quiser na internet, ficar com várias meninas(os) na festa, copiar o trabalho escolar num site desonesto ou ainda preferir passear com o cachorrinho a ter muitos amigos. Portanto, para os que estão seriamente preocupados com o bom comportamento dos seus filhos e alunos, seja a curto ou médio prazo, a primeira indicação é sempre melhorar o próprio exemplo.

Sempre ouvi falar que o desprezo pela ética, desde os tempos mais antigos, nasce de duas tristes posturas. A primeira é a de quem pensa “se eu sei o que é certo ou é errado, minha consciência me acusará que estou errado e terei que mudar minhas ideias”. Nela existe uma resistência teórica e pouca humildade. A segunda completa a primeira: “Se eu descubro que meu comportamento é pouco ético, terei que me esforçar por retificá-lo na prática e retificar também os meus filhos/alunos, o que exigirá luta, esforço, exigência, saber perder”. Nesta postura existe também uma resistência existencial e de honestidade. Portanto, podemos concluir que, apesar de não ser nada fácil educar com o exemplo, essa é condição sine qua non se queremos conquistar certa coerência de vida e uma autoridade moral.

Um segundo conselho prático para enraizar um caráter íntegro e seguro nos jovens é preocupar-se com a escolha de um bom colégio, que saiba conciliar uma comprovada qualidade no ensino com os valores éticos vividos na família. Encontrar escolas que proporcionem diretores, coordenadores, professores e funcionários que lutem por viver os valores éticos/morais é, sabidamente, coisa cada vez mais rara. Porque, como dizíamos acima, ensinar ética é algo existencial, profundo, constitutivo do próprio ser. Não se pode solucionar o ensinamento da ética colocando no projeto educativo apenas umas meras aulas teóricas sobre os filósofos gregos, a dinâmica das virtudes aristotélicas ou ainda concentrar-se no dia do meio ambiente e do efeito estufa ou nos direitos e deveres do cidadão.

Ensinar ética exige uma profunda unidade de vida que se manifeste em tudo o que acontece na vida da escola: no olhar carinhoso por cada aluno, no sorriso diante das dificuldades de educar, na maneira de se vestir em sala de aula, na forma de falar com os pais dos alunos, na delicadeza no comer, no respeito pelas diferenças, pelo exercício da boa autoridade, pela pontualidade em sala de aula, pela competência em deslumbrar o conhecimento. Se tentarmos nos lembrar de todos os professores que passaram pelas nossas vidas, detectaremos que estes comportamentos éticos eram sempre o que definiam aqueles que tinha vocação para docência ou não.

Um terceiro e último conselho: para que os jovens conquistem uma maturidade ética é recomendável apontar para o valor do ensino da religião, em casa e nas escolas. Chama muito a atenção que muitos pais e professores, mesmo aqueles que se consideram religiosos, não contem o suficiente com a fé para educar eticamente. Uma mistura de ignorância em saber fazê-lo com um falso respeito humano de que não se pode impor uma religião geram este desajuste educacional. O problema deste posicionamento é que pode trazer graves consequências para a educação ética. Vejamos quais são.

Quando se prescinde voluntariamente de Deus, é fácil que o homem se desvie até se converter na única instância que decide o que é bom ou mau, em função dos próprios interesses. Constata-se facilmente que sem religião, sempre fica muito difícil ajudar o mais necessitado, sem esperar um retorno imediato, perdoar um inimigo que nos maltratou, ser fiel a um compromisso mais sério no namoro, não aceitar uma pequena corrupção no emprego, dizer sempre a verdade, mesmo que tenha consequências negativas, entre outros.

Quando não se admite que existe um ser superior que julgará as nossas ações, o jovem quase sempre se encontra muito mais indefeso diante da tentação de erigir-se como juiz e determinador supremo do bem e do mal. Isto, infelizmente, já se comprova claramente na maioria dos jovens de hoje.

Concluo, portanto, que sem religião é mais fácil duvidar se vale a pena ser fiel à ética e mais difícil ver claramente o porquê de se sacrificar em determinadas situações. Há ocasiões em que os motivos de conveniência natural para agir bem são suficientes. Mas existem outras – e não são poucas – em que esses motivos humanos perdem peso em nossa mente, pela razão que seja, e é então que os motivos sobrenaturais assumem papel decisivo. Prescindir da educação religiosa, é, portanto, um grave erro dos educadores. Quando se dão conta, depois, quase sempre já é tarde.

2 comentários:

João Felipe disse...

Ótimo texto para uma reflexão!
Me lembrou uma famosa frase "Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido" (Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievski).

Liana Clara disse...

Pois é João, um tema como este merece mesmo uma boa reflexão, de nós pais de alunos e também dos educadores.

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