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sábado, 21 de novembro de 2009

A primeira infância

Texto de: Alfonso Aguiló
Engenheiro Civil. Desde 1991 é vice-presidente do Instituto Europeu de Estudos de Educação. Publicou mais de duzentos artigos em revistas e periódicos e oito livros sobre temas de educação, apologética e antropologia. Atualmente é diretor do Colégio Tajamar, em Madrid

Eu – comentava Silvia, uma dessas mães que sabem reconhecer seus erros e aprender deles – dei ao meu primeiro filho tudo o que ele desejava”. "Ao mínimo choro, eu acudia correndo.

Agora, aos quatro anos, é um pequeno tirano, e creio que isso se co
nverteu em parte de seu caráter, e me está custando mudá-lo, é terrível. É desses meninos que estalam os dedos e todo o mundo tem que lhe prestar atenção”.

"Com minha outra filha, que já tem quase dois anos, aprendi a lição, e já não me precipitava a seu lado, como com o maior. Pretendi fazer compreender desde o princípio que não pode manejar-nos com seu capricho. Quero que aprenda a pensar mais nos demais, que veja, por exemplo, que não devo ir recolhendo como uma tonta tudo o que ela atira. Quero que aprenda a ser paciente, a desenvolver um mínimo de ordem, de autocontrole. E estou bastante satisfeita da diferença de resultados”.


Desde o começo

Às vezes pode parecer que as crianças de poucos meses são seres de pouca consciência. No entanto, se lhes observa atentamente, como soube fazer aquela mãe, rapidamente se comprova que desde os primeiros meses a criança desenvolve sua capacidade de dominar a tensão que o acontecer ordinário da vida produz. O bebê tem de controlar os movimentos espontâneos para construir seu comportamento voluntário. E a educação que receba (porque a essas idades pode e deve haver já uma educação) ajudará ou estorvará extraordinariamente nessa importante tarefa.
Se forem satisfeitos sempre todos seus caprichos, ele será impedido de desenvolver sua capacidade de resistir ao impulso e tolerar a frustração, e seu caráter será egocêntrico e arrogante.

Porque observa tudo

— Tampouco se trata de negar-lhe quase tudo para que desenvolva mais essas capacidades, suponho.
Não, porque isso fomentaria a decepção crônica, um sentimento de permanente insatisfação e um caráter desconfiado, cético ou mal-humorado.

O olhar da criança é muito mais minucioso e vivo do que se pensa. Vai configurando impressões diversas sobre como funciona o mundo. Estabelece um diálogo minucioso e contínuo com as pessoas que o rodeiam. Um diálogo que não é só de palavras, senão também de imitações, de buscas, de aprovação, e de assimilação de gestos que observa. E nessa substanciosa interação, vai se configurando sua memória afetiva pessoal. Faz-se uma ideia de que, quanto e como deve sentir ante cada tipo de sucesso.

Esse contínuo gotejamento de experiências afetivas vai formando nele, de modo quase inadvertido, leis pelas quais daqui por diante interpretará como deve ser sua reação e seu estado de humor ante cada coisa. Trata-se de um lento processo que influi em sua evolução afetiva, e também no desenvolvimento de sua inteligência.

Afetos, inteligência e sentimentos

— Como podem influir os afetos no desenvolvimento da inteligência?

Pensa, por exemplo, na influência da motivação. Se for alta, há vontade por aprender coisas e desenvolver suas destrezas e capacidades, assim a inteligência irá rendendo cada vez mais. Pelo contrário, uma baixa motivação deixará infecunda uma multidão de talentos pessoais.
O desenvolvimento da inteligência está muito ligado à educação dos sentimentos.

Nesses anos vai se organizando seu sistema motivacional, pelo qual, ante algo novo, sentir-se-á incitado a explorá-lo, ou, pelo contrário, a evitá-lo. Uma correta educação há de proporcionar a segurança e o apoio afetivo necessários para esses sucessivos encontros com a linguagem, com as tradições da família, os companheiros de colégio, a natureza, a cultura, com valores de toda ordem. Segundo seja a qualidade e quantidade desses encontros, assim será o desenvolvimento de seu espírito.

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