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sexta-feira, 26 de julho de 2013

EmContando – 44 - A lenda das areias

 (história da tradição sufi)

Vindo desde as suas origens nas distantes montanhas e após passar por inúmeros acidentes de terreno nas regiões campestres, um rio finalmente alcançou as areias do deserto. E do mesmo modo como vencera as outras barreiras, o rio tentou atravessar esta de agora, mas se deu
conta de que mal suas águas tocavam a areia nelas desapareciam.

Estava convicto, no entanto, de que fazia parte de seu destino cruzar aquele deserto, embora não conseguisse fazê-lo. Então uma voz misteriosa, saída do próprio deserto arenoso, sussurrou:
“O vento cruza o deserto, o mesmo pode fazer o rio.”

O rio objetou estar se arremessando contra as areias, sendo assim absorvido, enquanto o vento podia voar, conseguindo dessa maneira atravessar o deserto.

“Arrojando-se com violência como vem fazendo não conseguirá cruzá-lo. Assim desaparecerá ou se transformará num pântano. Deve permitir que o vento o conduza a seu destino.”

“Mas como isso pode acontecer?”

“Consentindo em ser absorvido pelo vento.”

Tal sugestão não era aceitável para o rio. Afinal de contas, ele nunca fora absorvido até então. Não desejava perder a sua individualidade. Uma vez a tendo perdido, como se poderá saber se a recuperaria mais tarde?

“O vento desempenha essa função.” – disseram as areias. “Eleva a água, a conduz por sobre o deserto e depois a deixa cair. Caindo na forma de chuva, a água novamente se converte num rio.”

“Como é que posso saber que isso é verdade?”

“Pois assim é, e se não acredita não se tornará outra coisa senão um pântano, e ainda isto levaria muitos e muitos anos; e um pântano não é certamente a mesma coisa que um rio.”

“Mas não posso continuar sendo o mesmo rio que sou agora?”

“Você não pode, em caso algum, permanecer assim.” – retrucou a voz. “Sua parte essencial deve ser  transportada e formar um rio novamente. O problema é que você ainda não sabe qual é a sua parte essencial.”

Ao ouvir tais palavras, certos ecos começaram a ressoar nos pensamentos mais profundos do rio. Recordou vagamente um estágio em que ele, ou uma parte dele, não sabia qual, fora transportada nos braços do vento.  Pensou , então, que o vento tinha razão, conquanto não lhe parecesse a coisa mais natural.

Então o rio elevou seus vapores nos acolhedores braços do vento, que suave e facilmente o conduziu para o alto e para bem longe, deixando-o cair suavemente tão logo tinham alcançado o topo de uma montanha, milhas e milhas longe dali.

E é por isso que se diz que o caminho pelo qual o Rio da Vida tem de  seguir em sua travessia está escrito nas  Areias.

Agnes G. Milley

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