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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Guardar ou colecionar?



Não  sei se ainda hoje as pessoas têm o costume de colecionar objetos. Lembro-me bem de coleções de gibis - incluo  aqui várias revistinhas infantis - rótulos e tampas de garrafas, caixinhas de fósforos, lápis, chaveiros, bolinhas de gude, estampas de sabonete Eucalol e fichas de ônibus, só para citar algumas. 

O “trocador” do ônibus andava ou se exprimia entre os passageiros cobrando e dando troco. Dava também, a cada um, uma ficha colorida    como prova de que a passagem tinha sido paga. A ficha era depositada numa caixa ao lado do motorista quando se  descia do ônibus, quase sempre cheio. Formava-se então um pequeno tumulto na porta da frente e  algumas fichas caíam na pressa  ou eram esquecidas nos bolsos. Andando pelas ruas, achava-se essas fichas perdidas, ótimas de se colecionar. Eram de várias cores, segundo as linhas de ônibus
.
Já as estampas do sabonete Eucalol era uma coleção  para   curiosos. Cada sabonete era embalado junto com um cartão ilustrado que trazia informações sobe monumentos famosos, personagens da história universal, animais curiosos, tipos de habitação, etc. Era uma espécie de enciclopédia em forma de baralho. O difícil era esperar o sabonete acabar para se conseguir uma nova carta para o baralho.

As mocinhas  colecionavam também poemas e letras de música. Copiavam tudo,  com caneta tinteiro, em bonitos cadernos  enfeitados com decalques de flores. Os decalques seriam nossos atuais adesivos, porém, sem cola. Molhava-se levemente os decalques para passá-los  depois, com muito cuidado, para o caderno. Complicado, não?

Muitos adultos tinham verdadeiras bibliotecas.  Colecionavam livros , até mesmo em capas de couro. Era bom de se ver.

Tudo isso passou, mas é bom não esquecer. Tenho uma amiga que não guarda nada. Nem retrato de parentes. Mas, se jogássemos tudo fora o que seria dos museus?  Como se faria História?

Pensando nisso tudo, lembrei-me de um poema que eu guardei para um dia refletir sobre o “Guardar”. O poema é de Antônio Cícero.( Ed. Record)

GUARDAR
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro.
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

                                                                                               Agnes G. Milley

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