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sábado, 27 de outubro de 2012

A mística do "oxalá"



Por Maria Teresa Serman

Oxalá é uma palavra que tem dois significados no Brasil. Denomina uma entidade da umbanda, um orixá responsável pela criação e procriação. Mas sua origem é árabe, in shaa Allaah, significando "queira Deus"," tomara", expressando desejo de que algo aconteça, em nossa língua e o mesmo no espanhol. Dentro do assunto deste texto, o mais específico seria "quem dera eu....", denotando arrependimento, expectativas inexequíveis quanto ao passado. Ou seja, complexo de museu, atitude mumificadora, paralisante e pessimista.

A"mística do oxalá", "ojalateira" no termo espanhol, foi brilhantemente denunciada por S. Josemaria Escrivá, que aproveitava o trocadilho que seu idioma propiciava, para acrescentar outra conotação: uma teoria feita de lata, inconsistente, destrutível, sem valor. Trata-se do vício de pensar que alguma coisa fundamental, ou várias, dependendo da morbidez da vítima, deveria ter sido diferente em sua vida, o que a transformaria em uma maravilha, talvez uma perfeição, julgam os pobres enganados.

"Oxalá eu tivesse casado com o meu primeiro namorado"; "oxalá eu não tivesse casado com esta mulher"; "Oxalá eu tivesse ficado solteiro"; "oxalá eu não tivesse tido filhos (ou não tantos, ou tão poucos)"; "oxalá eu não tivesse sido só dona de casa e mãe", "oxalá eu tivesse dado mais atenção à família e menos ao trabalho": enfim, há lamentações para todos os (des)gostos. É preciso tomar consciência, porém, de que o passado já foi, o presente é agora e o futuro a Deus pertence, mas Ele quer nossa participação com qualidade.

SEMPRE HÁ TEMPO PARA MELHORAR, para ser feliz, para corrigir os erros, para deixar de olhar para o próprio umbigo emocional e se mexer em direção aos outros. Essa auto-piedade e vitimismo de ficar se arrependendo, sem tomar providências concretas para mudar, nada mais é do que egoísmo e soberba - são uma dupla terrível, não sei qual vem primeiro - , que conduz ao comodismo infeliz e degradante que consome uma pessoa, contamina a família, o ambiente de trabalho, a convivência social, e compromete perigosamente a alma.

O tempo de ser feliz e grato ao Pai por todas as graças que nos concedeu é já. Ficar no passado é andar para trás, regredir, em vez de avançar confiante na providência divina, explorando ao máximo os talentos que Ele nos deu, e principalmente enxergando que nossa vida valeu e vale a pena, os acertos superam os deslizes e fracassos. Oxalá Deus continue a nos abençoar e correspondamos à altura. E certamente vai ser assim.

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