Já falamos sobre o como e onde encontrar boas histórias.
Falta-nos conversar um pouco sobre as ilustrações que na maioria das vezes são
tão importantes quanto o próprio texto. Há livros para bebês, de pano ou de
plástico. Nesses, geralmente encontramos figuras grandes, de um só animal ou
objeto em cada página. As cores são alegres e os livrinhos fáceis de manusear.
Os pequeninos gostam até de mastigá-los! Ensinam as primeiras palavras e ajudam
os adultos a entretê-los.
Os livros de histórias sem texto são para crianças maiores.
Elas mesmo criam seus textos segundo sua compreensão e raciocínio lógico. Os
adultos devem interferir o menos
possível. Juntamente com esses, temos os livros de poucas palavras e de
muitas figuras e por fim os que equilibram texto e ilustração. Os de muitas
palavras são para crianças mais velhas.
Ultimamente os ilustradores ganharam muito espaço na produção
de livros infantis. Talvez mais até que os escritores. Lembro-me bem do
primeiro livro que me impressionou. Eu tinha
cinco anos. Era a edição completa, sem cortes ou adaptações da “História de um
Boneco de Madeira” (Pinóquio) de C.Collodi, 1941 . Mamãe contava-nos a
história em detalhes e mostrava-nos os poucos desenhos que modestamente para os
dias de hoje, ilustravam algumas das páginas do bonito livro amarelo. Guardo como
tesouro esse livrinho até hoje. (Um dia eu conto o motivo pelo qual ele me é
tão precioso.)
Hoje as ilustrações são muito ricas e sofisticadas e por isso
mesmo polêmicas. Há quem defenda as cores vivas para chamar atenção dos
pequenos e há os que preferem os tons mais brandos e figuras simples. Eu
prefiro ficar entre os dois pontos de vista. De fato, cor demais e desenhos
elaborados demais, ou traçados muito
fortes e embaralhados confundem, cansam e porque não dizer, poluem. Mas, quando
suaves em excesso podem tornar-se desinteressantes. Portanto, ao dar um livro
para nossas criança, tenhamos o cuidado
de escolher um de bom texto e ilustração adequada que não substitua as palavras, mas as complete. Bom senso e muito amor são as palavras-chave.
Para terminar a nossa postagem de hoje, vou contar a
história, não de um ilustrador de livros, mas de um grande pintor, para
ilustrar o quanto vale uma profunda e verdadeira amizade.
No fim do século XV,
dois amigos desejavam ser pintores, mas
eram pobres e não tinham condições para o custeio dos estudos. Os dois
amigos viviam na mesma pensão. Encontraram no amor ao próximo, na união
dos esforços, o meio para a consecução
dos seus objetivos. Dürer propôs que ele
trabalharia para que seu amigo pudesse estudar pintura e quando o pintor
estivesse em condições, as posições se inverteriam.
Seu amigo, no entanto,
não concordou e disse: “Não, eu sou mais
velho e já tenho emprego no restaurante. Você é que começará a estudar.” Assim
Albrecht Dürer pôde dar início aos estudos de pintura. Logo que começou a
produzir os primeiros quadros, chegou ao amigo e disse: “Agora você já pode
estudar. É a sua vez.”
O amigo então deixou o
trabalho e foi segurar a palheta e os pincéis. Não conseguiu. Suas mãos
rígidas, endurecidas, articulações grossas e dedos torcidos pela labuta diária
durante tanto tempo, impediam o suave manejo dos pincéis. Compreendeu que
deveria renunciar ao grande sonho de ser pintor e voltar ao antigo trabalho que
lhe calejara as mãos.
Certo dia, Albrecht
Dürer regressava do estúdio, quando ouviu a voz do amigo que de joelhos e mãos
postas orava para que ele, Albrecht, tivesse pleno êxito na carreira de pintor.
Profundamente comovido,
o artista pensou consigo: “Jamais poderei devolver a essas mãos a agilidade que
perderam, mas posso demonstrar ao mundo a gratidão que sinto pelo que meu amigo
fez por mim: pintarei essas mãos tais como as vejo agora. Pode ser que ao
vê-las, o mundo aprecie o que elas fizeram. Talvez essas mãos sirvam de
inspiração a outros para que realizem atos de generosidade e desprendimento.”
Albrecht, então,
reproduziu as mãos do amigo, dando assim
ao mundo uma das mais belas obras de arte: “ Die Betenden Hande” ( as mãos que
oram ).
As mãos pintadas por
Albrecht Dürer são as mãos do trabalhador: grossas e calejadas pela dureza da
luta, mas são também mãos do amigo. Oração, trabalho, amor ao próximo,
capacidade de sacrifício e renúncia generosa, eis a mensagem das “Mãos que
Rezam”.
ALBRECHT DÜRER ( 1471 – 1528 )
Anajô Atelier – Rio de Janeiro
Sugestão: Que tal dar um livro de presente no
Dia das Crianças? Agnes G. Milley
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