Há
poucos dias entrei no site da Ilha e fiquei positivamente surpreendida. Meu
objetivo era descobrir mais um pouco sobre a história de Paquetá. Não consegui
saber o que procurava, mas constatei que ensina tudo que se deve saber para
fazer um bom passeio e passar um dia muito agradável. O site
informa horários das barcas e das Missas, dá sugestões de onde ir,
o quê ver, como chegar a cada logradouro e muito mais. Gostei. É um site
amigável. Sugiro apenas que evitem ir no domingo. As barcas e a ilha ficam
muito cheias.
Minha
relação afetiva com Paquetá vem de longa data. Na década de 50 era nosso local
de piquenique favorito. Pegávamos, quase de madrugada, o bonde 94 até o a Av.
Presidente Vargas. Depois caminhávamos até as barcas e de lá até Paquetá
tínhamos 2 horas para usufruir os encantos da Baía de Guanabara. O cheirinho do
mar e o vento salgado desmanchando os cabelos aumentava nossa expectativa de
chegar. A barca era grande e lenta. De cada lado girava uma enorme roda,
revolvendo a água que caía com um ruído fresco, enquanto os motores
zoavam ,exalando calor e cheiro de óleo. A barca avançava cortando as águas do
mar, assustando pequenos cardumes de peixes prateados que saltavam no ar.
A chegada
era festiva. Todos gritavam, riam e batiam palmas. Grossas cordas fixavam
a barca ao cais e gentis marujos ajudavam crianças e velhinhos a desembarcar.
Dar aquele pulinho da barca para o cais era um momento de segurar o fôlego. Com
as ondas, a barca batia no cais e se afastava. As cordas rangiam e nós,
crianças, com medo de cair na água, grudávamos os pés no chão.
A
multidão se espalhava rapidamente pela ilha. Nós pegávamos o caminho à esquerda
em direção a uma pequena praia escondida debaixo de árvores que se
debruçavam sobre a areia. Uma trilha íngreme nos deixava no pedacinho
mais delicioso de Paquetá. Doces lembranças!
Em 1962,
passei alguns dias na propriedade da família Darke de Mattos, hoje Parque
Municipal. Da história pouco resta. É isso que me entristece. Dona Adélia, já
idosa, morava sozinha no casarão colonial a uma pequena distância do
belíssimo portão de ferro que ainda dá a medida do que a
propriedade era décadas atrás. A casa já estava mal cuidada e tudo
nela era decadente. Dona Adélia, apesar de sempre desarrumada, com seus densos
cabelos grisalhos embaralhados, alta e forte, era uma figura imponente,
inteligente e de vasta cultura. Conversamos muito. Não era muito benquista na
ilha, talvez porque não tivesse papas na língua, nem dinheiro para pagar
impostos. Donos da Fábrica de Chocolates Behring, já com muitos
problemas, ou falida, não tinham como sustentar aquela fantástica propriedade .
A antiga casa de hóspedes era agora uma modesta pousada anunciada num jornal do
Rio. Foi assim que os descobri.
O
casarão, agora demolido, tinha sido palco de brilhantes festas da alta
sociedade carioca. Convidados vips chegavam de helicóptero e os bailes viravam
a noite com fogos de artifício e música ao vivo.
A Casa de
Hóspedes não existe mais e os estreitos túneis embaixo do Mirante são apenas
estreitos túneis. O site fala de mineração, mas me recordo da boca escura da
entrada fechada por grades negras e grandes ferrolhos, mato
crescido por fora e histórias de escravos por dentro. Do resto,
na Ilha, pouca coisa mudou.
A
Pedra da Moreninha conta uma bela história de amor entre um índio e uma formosa
índia, além do romance “A Moreninha”. Está no site.
Sugiro
que voltem lá num belo dia de sol e, se não conhecem Paquetá, vale a pena
conferir. Também voltarei, se possível, em
breve.
Agnes G. Milley
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