logo

sábado, 6 de outubro de 2012

Educar o coração - parte 2

NA ORIGEM DA PERSONALIDADE

Esta atitude passiva ou mesmo negativa, presente em muitas religiões e tradições morais, contrasta fortemente com as palavras que Deus dirigiu ao profeta Ezequiel: dar-lhes-ei um coração de carne, para que sigam os meus preceitos, guardem as minhas leis e as cumpram. Ter um coração de carne, um coração capaz de amar, apresenta-se como uma realidade criada para seguir a vontade divina: as paixões desordenadas não seriam tanto um fruto do excesso de coração como a consequência de possuir um mau coração, que deve ser curado. Cristo assim o confirmou: o homem bom, do bom tesouro do seu coração retira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal: porque a boca fala da abundância do coração. Do coração do homem saem as coisas que o fazem impuro, mas também todas as coisas boas.

O homem necessita dos afetos, pois são um poderoso motor para a ação. Cada um tende para o que lhe agrada e a educação consiste em ajudar a que essas tendências coincidam com o bem da pessoa. Cabe comportar-se de modo nobre e com paixão; o que há de mais natural do que o amor de uma mãe pelo seu filho? E como esse carinho estimula a tantos atos de sacrifício, levados com alegria! E, diante de uma realidade que, por qualquer motivo, é desagradável, quão mais fácil é evitá-la! Num determinado momento, aperceber-se da “fealdade” de uma ação má, pode ser um motivo mais forte para não cometê-la do que milhares de raciocínios.

 Evidentemente, isto não deve confundir-se com uma visão sentimentalista da moralidade. Não se trata de que a vida ética e o trato com Deus devam abandonar-se aos sentimentos. Como sempre, o modelo é Cristo: n’Ele, perfeito Homem, vemos como os afetos e as paixões cooperam no reto agir: Jesus comove-Se diante da realidade da morte e faz milagres; em Getsemani, encontramos a força de uma oração que dá origem a sentimentos vivíssimos; invade-O inclusive a paixão da ira – boa neste caso – quando restitui ao Templo a sua dignidade . Quando se deseja algo verdadeiramente, é normal que o homem se apaixone. Pelo contrário, é pouco agradável ver alguém fazer as coisas só por fazer, com descaso, sem pôr nelas o coração.

Mas isto não significa deixar-se arrastar pelos afetos; se bem que o mais importante é pôr a cabeça no que se faz, o sentimento dá cordialidade à razão, faz com que o bom seja agradável; a razão – por seu lado – proporciona luz, harmonia e unidade aos sentimentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário