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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pequena orientação sobre o divórcio e a segunda união

Por Rafael Carneiro Rocha

Tenho reparado num fenômeno. Em palestras sobre o matrimônio à luz do cristianismo, são bastante comuns perguntas sobre divórcio e segunda união. E, não raro, os palestrantes (seja um padre piedoso, seja um católico firme no discurso do fé) são colocados em situação delicada. Mas ainda assim, mesmo diante de pessoas bem intencionadas que se dizem religiosas, é preciso defender a coisa certa. Uma pessoa em segunda união, que ainda tem a pendência do primeiro matrimônio, comete adultério contra o verdadeiro cônjuge, por mais que esta seja uma pessoa monstruosa.

Todos os casos de separação conjugal são dignos de nossa compaixão, porque trata-se de um drama humano que causa dores imensas em todos os envolvidos. Porém, a nossa compaixão só será verdadeira para com essas pessoas se lançarmos luzes ao invés de trevas. Uma nova vida conjugal não será garantia de felicidade, mas a superação conquistada do trauma certamente trará paz de espírito.

Uma pessoa desquitada ou divorciada, caso realmente se veja impossibilitada de retomar o amor humano pelo outro, precisa buscar a fonte do amor divino. É hora de se estar mais perto da amor de Deus do que da paixão humana, porque com o coração ainda ferido, não será uma outra pobre pessoa que terá as condições de cicatrizar feridas tão profundas. Ao se envolver no amor de Deus, a pessoa que sofre aprenderá suavemente a felicidade do espírito de serviço e de doação. O sacrifício de não ter uma vida conjugal será altar para fazer Deus aparecer no dia a dia.

A aproximação divina apagará as chamas de inquietação do coração ressentido e fará a pessoa compreender que a Igreja não defende a indissolubilidade do matrimônio por capricho, mas por uma fidelidade inabalável à verdade escrita nos corações humanos.

6 comentários:

Stella disse...

Difícil e verdadeiro. Mas, na impossibilidade de seguir a reta orientação da Igreja, muitos casais querem se manter próximos à Igreja.

Encontram conforto na frequência à Santa Missa, sem receber a Eucaristia, é claro, e comungando apenas espiritualmente. Melhor do que nada.

Anônimo disse...

Seguir o que diz a Igreja é realmente difícil. Por que essa verdade está no coração dos homens (pergunta). Como pode a Igreja afirmar o que passa no coraçao de cada um de forma tão geral assim (pergunta). Não se pode amar de verdade mais de uma pessoa,porque ^(pergunta).

Rafael Carneiro disse...

Sem dúvida, seus questionamentos são bastante humanos.

O amor não pode ser reduzido a um sentimento. Os bons amantes conseguem, com a ajuda da graça principalmente, e com os próprios esforços, manter acesa a chama do bem querer, do encantamento e da paixão, mas este sentimento agradável não define a essência do que é o amor. O amor não pode ser algo da ordem do efêmero: os sentimentos são essencialmente voláteis, passageiros... Hoje, acordamos "bem"; porém mais tarde um aborrecimento pode nos tirar do "sério". A vida do sentimentos é assim...

Mas o amor é algo mais. Amor é ato da inteligência e da vontade. Sendo um ato do querer: "eu amo, porque eu quero", o matrimônio é a única e autêntica fonte de segurança para a nossa inclinação de amar. Queremos o outro por toda a vida: eis a vontade que ressalta o conceito verdadeiro do amor. Neste sentido, se o sujeito não pode proteger o seu amor com exclusividade, ele não ama. Ele pode "sentir" alguma coisa, e até mesmo pensar que "ama" mais de uma pessoa, mas esse sentimento desaparecerá algum dia, porque não é fundado na vontade profunda de amar.

A definição do amor como ato de inteligência e de vontade não é invenção minha, do papa ou de um filósofo. É algo universalmente válido. É por isto que a Igreja afirma o que se "passa" no coração de cada um de nós.

Espero ter esclarecido alguma coisa.

Atenciosamente,
Rafael

Rafael Carneiro disse...

Ah... Só pra complementar...

Quero ressaltar que o amor a que me refiro acima é especificamente o conjugal. Quando eu afirmei: "o matrimônio é a única e autêntica fonte de segurança para a nossa inclinação de amar", eu quis me referir ao amor entre homem e mulher.

Patricia Carol disse...

Rafael,
Outro dia um sacerdote que celebrou a missa a que eu assistia em dia de semana comunm disse que agora existe um grupo de "casais em 2º relacionamento estável" que estão sendo atendidos na Paróquia em Ipanema para aconselhamento.

Claro que ele não estava falando sobre a liceidade dentro da Doutrina Católica de mais de um relacionamento como SACRAMENTO VÁLIDO, mas assim mesmo achei interessando pensar em como a IGREJA AMA A TODOS IGUALMENTE, e que quer prestar ajuda de alguma forma para as pessoas que querem estar próximas das celebrações da Igreja, mesmo não podendo receber a EUCARISTIA.

Quem sabe as pessoas nessa situação ainda não tiveram essa informação sobre um outro tipo de "acolhimento" para eles...pra não falar, claro, dos casos em que a Igreja, após o devido processo pode em muitos casos declarar que NÃO HOUVE VÍNCULO LEGÍTIMO nesse 1º
relacionamento, abrindo assim a porta para que o 2º possa ser celebrado VALIDAMENTE. Isso é um grande consolo para os que se importam em saber sobre a VALIDADE SACRAMENTAL em casos especiais.

Não sei se consegui me expressar com clareza, mas gostaria de saber se você já conhecia essa forma de acolhimento oferecida atualmente na IGREJA para casais em 2º relacionamento.

Abraço,
Patricia

Rafael Carneiro disse...

Muito bom o seu comentário, Patricia. Em relação à inexistência do sacramento na primeira união, eu penso que como é algo decidido no âmbito das dioceses, alguns de nossos bispos têm relaxado muito nas concessões. São casos que, via de regra, deveriam ser raríssimos. Por outro lado, existe também essa perspectiva da acolhida e talvez tenha faltado ao meu texto mencioná-la, mesmo brevemente. De qualquer forma, é preciso ressaltar muito, para os mais jovens e para aqueles que ainda estão no primeiro casamento, que as novas uniões têm precariedades, mesmo que os casais sejam acolhidos pela Igreja. A acolhida dos casais de novas uniões deve ser tão amorosa quanto discreta para não confundir aqueles que estão à beira do divórcio.

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