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terça-feira, 30 de novembro de 2010

E se os assaltos fossem permitidos?

Por Rafael Carneiro Rocha

A declaração recente do Papa Bento XVI sobre a possibilidade de uso de preservativos em determinadas situações como primeiro passo para um exercício responsável da sexualidade tem sido muito mal interpretada pela mídia e até mesmo por instituições como a OMS que chegou a elogiá-lo.

Não se trata de um “avanço” da Igreja, muito menos de uma mudança de pensamento, até porque o significado da sexualidade humana não muda. A Igreja sempre vai considerar a vida sexual a partir de sua beleza criativa e unitiva, como manifestação de amor entre homem e mulher unidos, numa só carne, pelo matrimônio. Fora da perspectiva matrimonial, a sexualidade não tem sentido, não tem beleza.

Quando o Papa afirma que o uso de preservativos entre pessoas promíscuas é um primeiro sinal de responsabilidade, ele não quer endossar a prática. Ele apenas compreende que o uso de preservativos pode ser, de alguma forma, moral.

Um roubo, por exemplo, é sempre imoral, mas imaginemos a seguinte situação. Uma quadrilha entra numa casa, rende os moradores, e inicia uma série de roubos. A mulher da casa percebe que os assaltantes levarão uma jóia de família, de significado especial. Então, ela suplica aos ladrões que não levem a jóia. Um dos assaltantes se sensibiliza com o apelo da mulher e pede para seus comparsas não levarem a jóia. Este assaltante “sensível”, mesmo cometendo a falta de roubar a casa, teve uma postura moral e, quem sabe, dali surgiu um primeiro passo para que ele abandone a vida do crime.

Se assaltos a residências fossem costumes que boa parte da sociedade compreendesse como “válidos”, a Igreja, naturalmente, discordaria. Ainda que argumentassem que os roubos evitam que as pessoas tenham fome, a Igreja viria algo de muito errado nestes desvios. Ainda que os roubos fossem legalizados, a Igreja chocaria a sociedade com a sua firmeza contrária à prática.

Mas, ainda que tudo isso fosse socialmente aceito, se perguntassem ao Papa Bento XVI o que a Igreja pensa da conduta de ladrões que preservam relíquias de família, o Sumo Pontífice se utilizaria do argumento de que este cuidado específico dos criminosos deve ser tomado, como primeiro passo de responsabilidade.

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