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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Amar sem respeitos humanos



Por Maria Teresa Serman 

É melhor, para começar, explicar o título, pois alguém pode pensar que estamos sugerindo que se ame sem respeitar os outros, o que seria uma absurda incoerência. Por isso, vamos esclarecer que por "respeitos humanos" se entende motivos menores, prejudiciais, que nos impedem de fazer o que é certo, recomendável, com medo de sermos criticados, receio do que "os outros vão pensar".

O texto que inspirou este foi a já bem conhecida parábola, contada pelo Mestre, do Bom Samaritano, ao responder a quem lhe perguntava qual era o seu próximo. Não vamos reproduzi-la aqui, pois a maioria sabe ou pode recorrer ao evangelho: Lc 10,25-37. Só resta lembrar algo importante, que os judeus e os samaritanos  sequer se falavam, eram inimigos, e os dois principais personagens, o homem assaltado e ferido e aquele único que o socorreu, pertenciam a esses dois grupos respectivamente.

Portanto, o samaritano não era alguém cotidianamente "próximo"; na verdade,estava do lado oposto do que estava convencionado. Outros mais indicados, social ou religiosamente, que passaram e o viram, ficaram indiferentes ao seu estado deplorável. Então fica a proposta de descobrirmos quem é o próximo que mais precisa de nós no momento, seja na família - o que frequentemente passa despercebido -, seja no trabalho, na rua, nos ambientes em geral.

Se apurarmos nossa sensibilidade e abrirmos os olhos e os ouvidos da alma, escutaremos os gritos de socorro de muitas pessoas. Pedidos de ajuda, conselho, apoio, carinho, atenção, tudo que se inclui na palavra amor. Por sinal, isso fica bem claro na frase a seguir, de Frei Luis de Granada, escritor castelhano: “Debaixo do nome de amor, entre outras muitas coisas, encerram-se sobretudo estas seis, a saber: amar, aconselhar, socorrer, sofrer, perdoar e edificar”.

A nossa atitude não pode ser a de pensar que alguém mais fará isso. Não, a cada momento e oportunidade vem-nos a graça especial para atuarmos. Passada a ocasião, desperdiça-se a graça e não temos ideia do que mais se perde junto. Uma santa audácia pode evitar situações graves, das quais não nos damos conta, mas Deus sabe, por isso nos colocou ali e então.

S. João Crisóstomo recomenda, com muita propriedade, essa presteza em servir ao próximo:
“Cura-o tu e não peças contas a ninguém da sua negligência. Se encontrasses uma moeda de ouro, com certeza não pensarias: por que não a encontrou outro? Pelo contrário, correrias para apanhá-la quanto antes. Pois deves saber que, quando encontras o teu irmão ferido, encontraste algo que vale mais do que um tesouro: a possibilidade de cuidar dele”

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