Por Manuela Freitas
Que a festa de São João é tradicional no Nordeste todos sabem. Porém, o que muitos podem não saber é o significado e curiosidades das comemorações do mês de junho e seu cardápio especial em Pernambuco.
Primeiramente as festas juninas homenageiam não apenas São João, o santo primo de Jesus, mas também Santo Antônio de Pádua e São Pedro, o primeiro papa da Igreja Católica. Na ordem das comemorações do calendário de junho temos: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29). No dia 29 a Igreja Católica também celebra São Paulo, porém, nas festas juninas, este santo comumente não é citado.
Adoro esta época do ano. Nas lembranças da minha infância estão presentes vivamente muitos fatos relacionados. Desde a torcida pela chuva em 19/03 (Dia de São José), que é quando se planta o milho, aos preparativos para a festa na casa da minha avó materna.
Diversas histórias sobre a época de São João eram contadas. Certo dia, perguntei por que chovia tanto em junho, e a resposta que recebi foi que, como São João ainda é pequeno, ele dorme muito e acaba fazendo xixi na cama lá no céu. Deste modo, o costume de soltar fogos é a tentativa de acordar o São João menino para que ele participe da festa.
Em outra oportunidade, questionei a razão de o trovão fazer barulho, e a justificativa estava no fato de São Pedro estar arrastando os móveis para organizar o céu para a festa. E no meu pensamento de criança muitas destas imagens foram criadas.
Nas férias escolares de junho, o destino certo era a casa de vovó. Ir à feira comprar “mão de milho” (50 espigas). Sentar no terraço dos fundos da casa e limpar cada espiga, retirando com cuidado cada palha e desprezando todos os cabelinhos do milho. Debulhar, triturar no moedor manual e peneiras os grãos em peneira de palha trançada. Cozinhar todo aquele caldo amarelo em enormes panelas de alumínio e mexer com uma grande colher de pau. Despejar com a concha cuidadosamente no saquinho, feito da palha, o caldo temperado. Amarrar e colocar para cozinhar. Assim “nasciam” inúmeras pamonhas, finalizadas delicadamente pelas mãos de vovó. Em seguida, a parte mais pesada da “brincadeira”: mexer o tacho e fazer nascer a canjica. Trabalho pessoal da minha tia. E assim, como uma fábrica, onde a linha de produção trabalha para finalizar o produto, toda a família participava da criação das comidas de milho.
Que felicidade era estar diante da mesa repleta de pamonha, canjica, arroz doce, mugunzá, bolo de milho, pé de moleque,... e depois de se fartar com estas delícias, ir para a calçada, com o vestidinho de matuta, rosto pintado com lápis, chapéu de palha com trancinhas, estourar traque de massa e queimar chuveirinho, contar “São João do Carneirinho” de Luiz Gonzaga, observar as fogueiras montadas em frente às casas da rua, olhar para o céu e esperar ver um balão para fazer um pedido.
O São João é comemorado em todos os cantos do país, mas, sem dúvida, no Nordeste, e principalmente no interior, esta festa é repleta de significado e não é apenas comemorada, mas sim vivida.
Viva São João!
Viva Santo Antônio!
Viva São Pedro!
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