Por Eduardo Pereira – Economista.
Há
anos atrás, assisti a uma reportagem do programa “Globo Rural”, sobre a
agricultura na Suíça. Basicamente se tratava de agricultura familiar. Em certo
momento, o repórter brasileiro acompanha a discussão familiar sobre a
necessidade de adquirir um novo trator - a conversa ocorreu na mesa.
Ao
longo dos anos, tenho percebido que as famílias que administram bem as suas
finanças, bem como os seus membros individualmente, falam abertamente sobre
dinheiro: um sabe o que o outro faz. Seja uma conversa na mesa, ou a caminho do
trabalho, da escola, marido e esposa, pais e filhos, compartilham decisões, que
ora estão baseadas em necessidades, ora em desejos... Mas gosto de pensar na
mesa... após um café, após um jantar... as pessoas se olham...
É
muito fácil fazer contas: se você toma um cafezinho diariamente numa boa
padaria após o almoço do trabalho, e resolve abrir mão dessa regalia, tomando
somente o café requentado da empresa em que trabalha, pode economizar uns
R$80,00 por mês (dependendo da padaria é claro...), cerca de R$960,00 em um
ano, e respeitáveis R$28.800,00 ao fim de 30 anos, somente por conta dos
cafezinhos que não tomou.
É
claro podemos adotar outras práticas, sem sermos tão radicais, mas o exemplo
mostra o benefício de adquirir o hábito de poupar, de se fazer uma reserva
financeira. Pensemos na frequência de certos jantares fora de casa, ou certos
itens da moda, que de uma só vez pagam dezenas de bons cafezinhos...
Mas,
onde está a dificuldade?
O
dinheiro é uma imensa fonte de satisfação; pode-se afirmar, que,
no momento em que se ganha ou se gasta o dinheiro com algo que se
deseja, se obtém uma pequena “felicidade”, e que fique claro, uma felicidade meramente
fisiológica...
É
por conta dessa realidade que as famílias devem sentar à mesa e conversar. Os
métodos podem variar, mas é de praxe se estipular uma mesada para os filhos e
orientá-los tanto como gastar, como estimulá-los a poupar. Por exemplo: se um
dos filhos deseja comprar um equipamento de jogo eletrônico no fim do ano,
pode-se sugerir ao garoto, eliminar parte dos gastos com a mesada, até
atingir o valor desejado.
Esse
tipo de disciplina pode ser adotado também quando os filhos conseguem o primeiro
emprego: neste caso, os sonhos costumam ser mais altos, como um automóvel ou
uma viagem para o exterior. Um filho ou uma filha mais jovem pode atender a um
conselho dos pais, de abrir uma conta de poupança logo no primeiro
salário.
Nestes
tempos de crédito fácil, é bastante deseducador para um jovem utilizar muito
cedo um cartão de crédito, uma vez que essa prática induz a pessoa a perder o
saudável hábito de fazer pequenos sacrifícios no consumo pessoal para poder ter
algo depois.
É
preciso se dar conta de uma coisa: o crédito abundante e sem critério induz as
pessoas a desejarem tudo para agora, e isso gera ansiedade e descontrole, e faz
os adultos se comportarem como crianças mimadas.
A
essa altura, penso que está respondida a pergunta sobre a dificuldade de
poupar: uma combinação de estímulo ao consumismo nos dias atuais, com a
ansiedade, que exige a satisfação cada vez com maior rapidez.
Voltando
à mesa da família...
Ao
redor de uma mesa, os pais podem conversar diante dos filhos, sobre pequenas
decisões compras para a casa, não tanto para saber a opinião deles, mas para
tornar natural o hábito de dizer: “necessito comprar isto”, ou “desejo comprar
aquilo”... boa ocasião para educá-los, mostrando a diferença entre
necessidade e desejo.
O
que vale para o dinheiro, vale para muita coisa na vida: Se alguém numa
família, esconde aspectos da sua vida financeira, seja porque está muito boa,
seja porque está muito ruim, há uma grave deformação no comportamento deste
marido, desta esposa, ou desse filho.
Sem
procurar transformar uma família num quartel, pois os Pais não são Generais,
pode-se dizer aos filhos que aquele tênis ou aquela bolsa que custou tão caro
no ano passado, não deve ser encostado ou trocado agora, por mero capricho, (
talvez deva se fazer algumas concessões às meninas....rsrsrs ) pois pode estar
na metade ou na terça parte da sua vida útil. Usar até quando estiver em
condições de uso: esse costume por si só ensina muita coisa sobre economia,
ansiedade, pobreza e desprendimento.
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