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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Precisamos esquecer para viver"

Por Maria Teresa Serman

Este é o título de uma entrevista excelente, transcrita na revista Saúde, com o neurocientista Ivan Izquierdo, renomado especialista em memória, e traduz um pouco de seus conceitos sobre o tema, ao mesmo tempo que nos tranquiliza, novos, maduros ou idosos, quanto aos nossos cada vez mais precoces e recorrentes lapsos de memória. Diz ele: "na maior parte das vezes, esquecemos para poder pensar, e esquecemos para não ficar loucos. Esquecemos para conviver e sobreviver".  O cérebro abre espaço para novos "arquivos", deletando ou colocando em outra pasta o que não usamos com tanta frequência.

Podemos ainda bloquear episódios traumáticos para sobreviver à dor que estes nos provocam, trata-se da memória seletiva. Também  podemos confundir lembranças reais com sonhos ou possibilidades, é normal. Porém, nada de atribuir o excesso à normalidade, é preciso distinguir o saudável do abusivo.

Quanto às recordações de traumas ou tragédias, o cientista nomeia dois tipos, o da extinção e o da repressão. "Ambos são processados pelo córtex pré-frontal, pelo hipocampo - parte do cérebro humano localizada nos lobos temporais, vital para a memória e para a noção espacial; seu nome sugere sua forma curvada, que lembra a de um cavalo-marinho( do grego hippos=cavalo e kampi=curva), e pela amígdalas cerebelosas, grupos de neurônios que formam uma massa esférica cinzenta no cérebro de grande parte dos invertebrados, inclusive o homem. Esta última parte é responsável pela regulação do comportamento sexual e da sexualidade.

O peso que damos a algumas lembranças influencia frequentemente a criação das chamadas "memórias enganosas", que são confusões e falhas que acontecem devido à carga emocional que cada uma tem para o indivíduo. Pode ser voluntário e inconsciente. Há vários tipos de memória, continua Izquierdo. Curtíssima, que dura um segundo; curta, de uma a seis horas e longa, dias ou anos. Quanto ao conteúdo,  elas se dividem em episódica; semântica (dos significados das coisas); e dos procedimentos, como nadar, andar de bicicleta, tocar um instrumento). No que diz respeito ao sistema sensorial, pode ser olfativa, visual, auditiva, linguística; e pela índole da informação, refere-se a rostos, números, sentimentos. Obviamente variam de pessoa para pessoa, sendo uma tendência peculiar e predominante em cada um, que pode ou não ser acentuada pela prática. Músicos guardarão notas e sons; bancários, números; e linguistas, nomes.

Uma informação interessantíssima que ele fornece é que "não há memórias sem emoção - pode ser muita ou pouca, mas ela existe. Não existe nenhum momento que não seja emocional, isso vale para os humanos e talvez para todos os mamíferos." A emoção, agradável ou dolorosa, vem com a lembrança do fato. Diz ainda que pode prevalecer o real ou a sensação na coisa lembrada, depende do que mais nos atingiu. E que "absolutamente todas as memórias são associativas."

E os sonhos? Estes "são memórias em que a informação adquirida se processa utilizando uma lógica diferente da lógica da vigília." Não há provas de que ajudem a fixar memórias, mas podemos praticar para melhorar o nível delas, como ler, o melhor exercício, por ser a "junção da memória visual e linguística em cada caso, mais a memória daquilo que é lembrado - uma família, um país, uma árvore." E lembramos pouco dos primeiros anos de vida porque os apreendemos antes de conhecer a linguagem.

Agora, falando de outro aspecto, mais metafórico, esquecer também é vital para perdoar e viver melhor. Assim como concentrar a memória nos bons momentos e tentar apagar os contornos que a subjetividade enfatiza no que nos desagrada.

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