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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ser carioca

Por Maria Teresa Serman

Ser carioca, mais do que um estado de espírito, é uma especialidade concedida magnanimamente por Deus, que já afirmaram ser brasileiro, então, por que não, também carioca? A "casa de branco", significado indígena para o nome carioca, é tão grande que abarca todos os que aqui nasceram, aqui vivem, apesar de terem nascido alhures, amam o Rio e se integraram ao jeito carioquês de ser. Estou "cometendo" conscientemente vários lugares comuns, mas, fazer o quê? S.Paulo que me perdoe, mas a beleza e a faceirice do Rio são fundamental para o Brasil, principalmente neste momento em que o brio da galera está no máximo, o orgulho "tá bombando"!

Um jornal que não preciso nomear, pois todo mundo sabe qual, está promovendo uma pesquisa popular, em uma de suas colunas, de detalhes do jeito carioca de ser. Tem aparecido pérolas da memória, principalmente para os cinquentões, como eu, que viveram incontáveis verões na praia, nas piores horas de sol a pino, sem conhecer o "Ozônio", e sua famosa camada esburacada - no máximo Ozônio podia ser um primo de alguém, com nome estranho. Na praia, como estão lembrando os que escrevem para a coluna, só tinha mate de "torneirinha", que, se era feito com água politicamente correta, não sei, mas não morremos disso, talvez de câncer de pele, e biscoito Globo, um dos símbolos da "dolce vita" à beira-mar. Sandália havaiana;;coque com nó de cabelo; canga amarrada de mil maneiras - as melhores continuam sendo as compradas na praia, tem outro sabor!; se despedir com "A gente se vê" ou "Passa lá em casa", embora ambos saibam que talvez não se encontrem, ou em que dia, nem tenham trocado endereço; cantar parabéns junto com quem está comemorando aniversário no bar;fazer churrasco na laje, com sambinha batucado amadoristicamente;a árvore de natal na Lagoa (já tentaram imitar, mas não conseguem, pobres coitados!); enfim, eu poderia ficar aqui enumerando infinitamente.... Adoraríamos receber comentários com carioquices esquecidas.

O Rio está ressurgindo, de uma forma que nenhum de nós esperava, graças à competência e honestidade de um homem chamado Beltrame (não à toa seu segundo prenome é Mariano), e aos valorosos policiais honrados, que, felizmente, vem se destacando mais do que a banda podre. É preciso, porém, que o carioca, mesmo com seu estilo moleque, recupere a sua amabilidade - não falo de intimidade, a que somos dados um pouco desabridamente, derrapando na inconveniência. As pessoas andam se trombando na rua, esquecendo a educação em casa, e sorrindo menos. Deve ser o calor.

Praticar atitudes ecologicamente necessárias, com relação ao lixo, à poluição, etc, é muito importante. Mas o renovado amor pela Cidade (de novo) Maravilhosa deve restaurar o genuíno espírito de seus habitantes para a afabilidade levada a sério. Tão a sério quanto a vocação para o trabalho que temos, embora os adversários invejosos tenham espalhado o contrário. Não temos é culpa de trabalhar sentindo o cheiro do mar, ouvindo o batuque do samba, sentindo o calor do sol deste pedaço do Jardim do Éden. Bem Américo Vespúcio escreveu em sua carta, quando por estas águas navegou, que o jardim dos nossos primeiros pais teria sido aqui. Acertou!

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