logo

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A misericórdia na família

Maria Teresa Serman
É interessante a formação da palavra "MISERICÓRDIA". Significa literalmente CORAÇÃO (CORDIS) SOFREDOR (MISER). Em um âmbito mais abrangente, quer dizer sentir a miséria dos outros no nosso próprio coração, sentir a dor que o outro sente. Por isso dizemos que Deus é misericordioso, pois Ele consegue, como Pai, sentir as nossas misérias no Seu Coração de modo inigualável.

Há uma tendência atual, digamos, politicamente correta, de se solidarizar com os infortúnios dos semelhantes menos próximos: dos flagelados, dos órfãos da Aids e da guerra, dos sobreviventes de uma catástrofe local ou mais distante. Isso é muito bom e louvável, é ser misericordioso sem dúvida.

Contudo, há uma dimensão da misericórdia que frequentemente nos escapa, neste mundo tão superficial. Consiste em aproximar os homens do Bem, da Verdade, do verdadeiro Amor, para que a discórdia (que significa dois corações partidos ou separados) não afugente a real misericórdia de Deus.

Para tal procedimento, precisamos, em primeiro lugar, perder os respeitos humanos que nos impedem, cotidianamente, de ajudar pessoas e corações perdidos e infelizes. Ninguém ousaria passar indiferentemente diante de um prédio de cujo terraço um desesperado estivesse prestes a se jogar. No entanto, não nos achamos no direito de aconselhar amigos e colegas que estão à beira do precipício moral.

Um foco importante da alma misericordiosa é praticar essa graça com aqueles que lhe são mais próximos, em família. É fácil ser compreensivo da porta de casa pra fora. O desafio é prestar atenção às súplicas silenciosas que olhares e atitudes nos lançam da sala, da cozinha, do quarto. Ouvir, acalmar e alegrar os mais chegados muitas vezes é puro heroísmo e a mais perfeita forma de misericórdia.

Entre estes, devemos dar especial atenção aos mais velhos, frequentemente esquecidos, como utensílios fora de uso, relegados a serem somente "ele" ou "ela". Sequer os nomeamos mais, inadvertidamente, e passamos por "eles" sem uma pausa para um papinho, ou um detalhe de carinho. São um tesouro de sabedoria, e felizes aqueles que buscam nesses depósitos de amor sua orientação e lhes retribuem com gratidão.

Um comentário:

Patricia disse...

Esse tema me toca fundo o coração pela experiência que tive o privilégio de viver por muitíssimos anos com meus avós maternos e avó paterna. Sempre foram eles o nosso porto-seguro em casa, onde "aprontávamos" juntos os 6 irmãos!

Haja paciência pra tanto rebuliço, e era pra CASA DA VÓ(no apartamento logo abaixo do nosso) que a gente fugia quando queria escapar de castigo merecido! Ela e o Vô sabiam nos mostrar no que erramos e ao mesmo tempo, pedia por nós diante da mãe, e aí ela sempre "amolecia" um pouco a reprimenda por intercessão dos avós. Nem por isso deixávamos de ter alguma restrição a algo que queríamos muito e que era preciso ficar sem por algum tempo,para que nos corrigíssemos da falta cometida, malcriação, afins...

Acredito que essa nossa busca de consolo com eles servia como uma DECLARAÇÃO DE SABEDORIA que só eles tinham na hora de apaziguar os ânimos esquentados! BENDITOS SEJAM NOSSOS IDOSOS PELO AMOR QUE NOS DÃO E QUE SE ALEGRAM TANTO TAMBÉM EM RECEBER!

Postar um comentário