Um texto interessante, sobre a situação em Portugal, sobre a natalidade. Assunto esse que se repete aqui, na sua ex-colônia, Brasil.
Fala-se muito da Irlanda, da "saída à irlandesa" e não sei quê, da forma como Portugal deve imitar os indicadores macro não sei das quantas de Dublin, mas ainda ninguém falou do óbvio: nós só teremos salvação se começarmos a imitar a taxa de natalidade dos irlandeses (2,05, a mais alta da Europa).
Os irlandeses fazem bebes como coelhinhos diabólicos e nós temos de encontrar maneira de replicar essa “fuçanga” reprodutora.
Porque a grande conversa da nossa geração é só uma: se os bebes não começarem a cair dos céus, o corte nas pensões atuais continuará por tempo indeterminado e as pensões do futuro terão a consistência de um gambozino. (são seres imaginários).
Não é uma questão de vontade, é uma questão demográfica, empírica, factual. Soluções? Políticas de família? Ok, muito bem.
Sucede que as políticas de famílias implicam um divórcio temporário entre a mulher e o emprego, e este assunto ainda levanta ansiedades em Portugal.
No ano passado, numa grande reportagem do Diário de Notícias ("Porque é que os Suecos têm mais filhos?"), a jornalista Céu Neves ouviu um casal sueco típico: "não é um risco ter filhos. E isso é bem visto por todos incluindo os patrões. O que é mal visto é uma mulher de 30 anos procurar emprego,
porque se espera que tenha filhos e esteja com eles nos primeiros anos de vida".
Ora, se um homem português dissesse publicamente que as mulheres devem ficar em casa dois anos a tratar dos filhos, o Carmo e a Trindade cairiam no dia seguinte. (expressão popular portuguesa que se refere a fatos que provocam grande surpresa ou confusão).
O sujeito seria acusado de machismo, de salazarismo. Se uma mulher portuguesa dissesse a mesma coisa, o Carmo e a Trindade cairiam duas vezes. A senhora seria acusada de subserviência, seria queimada nos autos-de-fé das brigadas da linguagem.
Moral da história? Se as suecas vivem bem com a ideia de ficarem dois anos em casa com os filhos, muitas e muitas portuguesas veem isso como um sinal de subserviência e retrocesso.
Mas eu percebo a reação. As suecas não tiveram até 1974 um regime que consagrava legalmente o marialvismo. (o poder de mandar nas mulheres).
A minha mãe nunca aceitaria ficar em casa, precisava de um emprego, a sua identidade dependia dessa consagração pública . A geração da minha mulher não é muito diferente. As portuguesas ainda sentem necessidade de mostrar que não são as dondocas dos bordados.
Além disso, vivem debaixo do grande medo: acham que serão despedidas se assumirem a gravidez e um largo período de licença. O medo não é descabido: se o patrão sueco vê a maternidade com bons olhos, o patrão português nem por isso . Mas, verdade seja dita, este ambiente laboral é apenas o espelho do ambiente caseiro.
Na Suécia, não há tradição da empregada, porque os homens também ajudam nas tarefas domésticas. Perdão: esqueçam o "também ajudam". Na Suécia, os homens e as mulheres dividem as tarefas domésticas.
Políticas de natalidade? Oferecer aventais aos marialvas da pátria.
Henrique Raposo - http://expresso.sapo.pt/fazer-filhos-como-coelhinhos-irlandeses=f849920
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
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