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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

EmContando – 68 - A Espada de Dâmocles

 Adaptação de James Baldwin

Era uma vez um rei chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Vivia num palácio cheio de requintes e de coisas bonitas, atendido por  criadagem sempre disposta a fazer-lhe as vontades.

Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era um dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe frequentemente:

“Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo”. 

Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa.

“Ora, essa! Você acha mesmo que eu sou mais feliz do que todo o mundo?”

O amigo respondeu:

“Mas é claro!  Olhe só os seus tesouros e todo o seu poder! Você não tem absolutamente nada com que se preocupar. Poderia sua vida ser melhor do que isso?”

“Talvez você queira trocar de lugar comigo” – disse Dionísio.

“Ora, eu nem sonharia com uma coisa dessas! Mas se eu pudesse ter  sua riqueza e desfrutar de todos esses prazeres por um dia apenas, não desejaria felicidade maior.”

“Pois bem! Troque de lugar comigo por um dia apenas e desfrute disso tudo.”

E então, no dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e todos os criados receberam instruções para tratá-lo como amo e senhor. Vestiram-no com mantos reais e puseram-lhe na cabeça uma coroa de ouro. Ele sentou-se à mesa na sala de banquetes e foi lhe servida uma lauta refeição. Nada lhe faltou ao seu bel-prazer. Havia vinhos requintados, lindas flores, raros perfumes e música maravilhosa. Recostou-se em almofadas macias. Sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

“Ah, isso é que é vida!” – confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade.  – “Nunca me diverti tanto.”

Ao levar a taça de vinho à boca, levantou o olhar para o teto. O que era aquilo ali pendurado, com a ponta quase tocando sua cabeça?

Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só quis saber de ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse. Pois pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de um cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos. Ele foi se levantando, pronto para sair correndo, mas deteve-se, temendo que um movimento brusco pudesse arrebentar aquele fiozinho fino e fizesse com que a espada lhe caísse em cima. Ficou paralisado, preso ao assento.

“O que foi, meu amigo?” – perguntou Dionísio – “Parece que você perdeu o apetite.”

“Essa espada! Essa espada!” – disse o outro num sussurro. “Você não está vendo?”

“É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono. Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser líder precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe?”

“É claro que percebo!” – disse Dâmocles – “Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas outras coisas no que pensar além de sua riqueza e fama. Por favor, assuma seu lugar e deixe-me voltar para a minha casa.”

Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o  rei, nem por um momento sequer.

(Em o LIVRO DAS VIRTUDES – uma antologia de William J. Bennett)

Agnes G. Milley

2 comentários:

Pai disse...

Quantas carapuças devem ter entrado ao conhecer esta estória!
A gente é feliz e não sabia!
Abração!

Liana Clara disse...

É verdade!

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