Depois da Festa
Acabada a festa; a alegria pelo fim da guerra, os habitantes do galpão começaram a dispersar-se. Saíam cedo, todas as manhãs, a procura de abrigo mais confortável em casa de famílias alemãs.
As cidades haviam sido duramente bombardeadas e poucos prédios escaparam da destruição. Nas aldeias e nos campos a situação era bem melhor. Famílias que possuíam casas espaçosas cediam um ou dois quartos para refugiados estrangeiros. Não sei se essas
Nossos companheiros do galpão tinham mais facilidade para se locomover. Entre eles não havia crianças pequenas e em quase todas as famílias havia um avô ainda ativo ou um adolescente forte. Anyi estava sozinha e nós éramos muito pequenas. Kati ainda não completara um ano de idade. Além disso, poucas pessoas eram verdadeiramente soldarias naqueles dias. Sobreviver, chegar primeiro, abocanhar o melhor pedaço era, normalmente, a regra do jogo.
Uma das senhoras que sofrera as agruras do galpão conosco, mostrou-se amiga
Anyi arrumou-nos o melhor que pode e fomos, as quatro, conhecer nosso futuro lar. Estávamos alegres, saltitantes, buliçosas e cheias de esperanças. Anyi já pensava nas cortinas coloridas e nos gerânios na janela. A proprietária além de amável era, felizmente, honesta também. Explicou-nos que o quarto era bom, de fato, mas não poderia acolher-nos. O lugar era infestado de ratazanas. Kati era um bebê ainda, Zsuzsi e eu também éramos pequenas. Morar ali seria muito perigoso. Ela não dormiria em paz.
Voltamos para o galpão. Nenhuma das tentativas de Anyi foram bem sucedidas. Sempre chegávamos atrasadas. O quarto não estava mais disponível.
Todos se foram. Estávamos sozinhas na fazenda; nós e Frau Helga (a fazendeira). Anyi chorou. Deve ter se sentido muito só, desanimada e impotente. Frau Helga não nos queria mais lá. Éramos um estorvo. Anyi não tinha a quem pedir ajuda a não ser que a própria Frau Helga lhe desse a mão. E foi o que aconteceu. Anyi conseguiu convencê-la de que era forte e saberia trabalhar bem em troca de um pequeno quarto na casa e comida para três. Kati ainda mamava no peito.
Começava, assim, um novo capítulo de nossa história. Anyi trabalhava o dia todo. Limpava, descascava batatas e, principalmente, batia o leite até virar manteiga. Frau Helga produzia muita manteiga. Provavelmente, era seu item de escambo. Nós, meninas, cuidávamos de nós mesmas e umas das outras. Ocasionalmente ganhávamos um dia de folga para que Anyi pudesse continuar a procurar uma saída melhor para nós.
Um comentário:
As tuas estórias, Agnes, são para mim, além de lição de vida inestimável, uma forma emocionante de aprender sobre o que acontecia naqueles dias do pós guerra. A gente ler estórias escritas por pessoas que não conhecemos, acabam ficando mais distantes na nossa lembrança, mesmo que tendo sido muito boas...essas tuas, no entanto, entram no nosso coração para nunca mais sair!
Você é um modelo de perseverança, esperança, carinho e fraternidade, que de certo modo, representa todas as maravilhosas e sofridas crianças e adultos que souberam encontrar seu próprio caminho em meio às adversidades.
CONTA MAIS, VAI...
Abração!
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