Nossa Senhora de Fátima difunde uma luz sobrenatural que arrebatou os pequenos pastores de forma irresistível, e ilumina o coração dos peregrinos que acorrem a esse lugar sagrado à procura de consolação.
O que atrai para Fátima essas multidões de rosto crestado pelo sol das longas caminhadas? O que as leva a essas surpreendentes penitências, neste tempo tão avesso ao sacrifício?
O maravilhamento causado pelas aparições. Uma rápida recordação de alguns aspectos pouco ressaltados das aparições pode ser elucidativa.
Ao verem a Santíssima Virgem, a 13 de maio, a reação das três crianças, Lúcia, Francisco e Jacinta, apesar da diferença de temperamentos, teve um ponto em comum. Todas ficaram maravilhadas, quase se diria fascinadas, com a visão celestial. Durante o resto do dia não falavam de outro assunto, encantadas com o que tinham visto e ouvido.
Mas, quando o sol declinou no horizonte, anunciando a hora de reunir o rebanho e voltar para casa, retornando à realidade do dia-a-dia, cada um reagiu a seu modo. Francisco, mais pensativo, nada dizia. Lúcia, um pouco mais velha que seus primos, já cogitava na reação de seus familiares e vizinhos e achou mais prudente guardar segredo de tudo. Porém, Jacinta, mais expansiva, não conseguia conter dentro de si a alegria sobrenatural que a inundava e não parava de exclamar: “Ai, que Senhora tão linda! Ai, que Senhora tão bonita!”
Um segredo impossível de guardar. Enquanto caminhavam,
Lúcia procurava convencê-la a manter tudo em segredo: — Estou mesmo a ver que ainda vais dizer a alguém…
— Não digo, não.
— Nem sequer à tua mãe.
— Não vou contar nada, prometo.
Quando chegaram à casa, os pais ainda não tinham regressado da feira, numa localidade próxima. Jacinta ficou junto ao portão, à espera, e assim que viu a mãe, correu a abraçá-la para contar-lhe o grande acontecimento: — Ó mãe, vi hoje, na Cova da Iria, Nossa Senhora! Dª Olímpia não acreditou, por mais que a menina o reafirmasse com veemência e fizesse a descrição minuciosa e maravilhada do ocorrido.
Mais tarde, estando toda a família sentada à lareira para o jantar, Dª Olímpia, cuja incredulidade já vacilava ante a firme insistência da filha, perguntou-lhe: — Ó Jacinta, conta lá como foi isso de Nossa Senhora na Cova da Iria. “Uma Senhora mais brilhante que o sol”.
E a inocente pastorinha tentou traduzir em palavras aquilo que transbordava do seu coração: “Era uma Senhora tão linda, tão bonita!… Tinha um vestido branco, e um cordão de oiro ao pescoço até ao peito… A cabeça estava coberta por um manto branco, também, muito branco, não sei, mas mais branco que o leite… e tapava-a até aos pés… Era todo bordado de oiro… Ai que bonito!… Tinha as mãos juntas, assim — e a pequena levantava-se do banquinho, juntava as mãos à altura do peito a imitar a visão.
“Entre os dedos tinha as contas. Ai que lindo tercinho que Ela tinha… todo de ouro, brilhante, como as estrelas da noite, e um crucifixo que luzia… que luzia… Ai que linda Senhora! Falou muito com a Lúcia, mas nunca falou comigo, nem com o Francisco…
Eu ouvia tudo o que elas diziam… Ó mãe, é preciso rezar o terço todos os dias… A Senhora disse isso à Lúcia.
E disse também que nos levava todos três para o Céu, a Lúcia, o Francisco e mais eu… (…) Quando Ela entrou pelo Céu dentro, parece que as portas se fecharam com tanta pressa que até os pés iam ficando de fora entalados… - José Antonio Dominguez
Maria Teresa Serman
Nenhum comentário:
Postar um comentário