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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Doce encargo

Por Maria Teresa Serman - dia do idoso
Quando menos esperamos, a vida nos inverte a nossa vida. Passamos de filhos para mães ou pais de nossos pais. Viramos "cuidadores", que é o termo usado para essa função, sejam os filhos ou pessoas contratadas para ajudá-los nesse doce encargo. Assumimos, então, contra a vontade mas com amor, o papel de zelador, comprador, gestor, administrador, e muitas vezes provedor. O afã é de tal monta, que precisamos estar atentos para não descuidar do carinho pessoal, do beijo, do afago, da conversa.

O momento de se tornar cuidador pode ser o de uma doença de um dos pais, ou dos dois.Ou simplesmente com sintomas de que o fluxo normal de consciência deles está se alterando. Não é fácil, pois ninguém se prepara para essa reviravolta, mas devíamos. Fica mais doloroso encarar o fato de que somos responsáveis pela vida, em vários sentidos, daqueles que sempre cuidaram de nós, se não aceitamos isso como o curso natural da existência. A preparação para essa fase deve saudavelmente passar por uma adequação interior para a própria velhice.

Não se trata de fatalismo ou qualquer sentimento correlato.Refiro-me a um projeto de vida que leve em consideração a ação do tempo sobre nós, como acontece com todos os viventes. Precisamos nos preparar para envelhecer com saúde, dignidade, boa situação material, e, principalmente, com um espírito jovem e bondoso. Este pode suplantar até mesmo os casos mais graves de senilidade, pois a boa-vontade da alma atenua a decadência da mente. Só fica mais ranzinza na idade avançada quem já deixou o mau- gênio se instalar em tenra idade e segue cultivando tal atitude como erva-daninha, que vai estar frondosa quando menos a desejamos.

Precisamos - não só DEVEMOS, percebam a diferença - amar, respeitar e cuidar dos nossos idosos, porque eles são nossa fonte de sabedoria; onde bebemos em primeiro lugar da nascente do amor; o espelho, para melhorar ou imitar, do nosso ocaso. Quantas lições perdemos quando desprezamos essa herança! E quanta felicidade advém, quando a aproveitamos! Pais, avós, bisavós, tios e tias, padrinhos, agregados, empregados, amigos: todos podem fazer parte de nossa família, no sentido mais profundo do termo. Da família que transcende o parentesco e cria ligações mais afetivas que as genéticas.

Aos cuidadores, recomendo que se cuidem muito bem. Que se preparem diariamente para essa tarefa. Que estejam atentos para mudanças repentinas nos seus idosos, desde a temperatura até uma quase imperceptível mudança de humor. Que percebam suas mais sutis necessidades e tratem seus corpos, suas mentes e suas almas com muita delicadeza e prontidão. E estejam sempre, cada dia mais, muito atentos para dar-lhes amor incondicional, paciente e benigno, pois "quem honra pai e mãe apaga uma multidão de pecados", e honrar significa tratar como ao maior dos reis, servir e amar.

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