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sexta-feira, 3 de maio de 2013

EmContando – 32 - A Criança e o Sentido da Vida

Muito mais que o adulto, a criança vive o presente, e por isso mesmo ela deve receber das histórias que ouve, além de entretenimento e enriquecimento intelectual, aquilo que é importante e significativo para  o estágio de desenvolvimento em que se encontra.  A história deve também ajudar a tornar claras  suas emoções e sugerir soluções para os problemas que a perturbam.

Através dos contos de fadas folclórico a criança pode aprender mais sobre  os problemas interiores dos seres humanos, do que com qualquer outro tipo de história. Os contos de fadas ajudam a criança a fortalecer seus recursos interiores para enfrentar as situações
a que é exposta na sociedade em que vive.

Prosseguindo com o pensamento de Bruno Bettelheim  usamos suas próprias palavras: “Exatamente porque a vida é frequentemente desconcertante  para a criança, ela precisa ainda mais ter a  possibilidade de se entender neste mundo complexo com o qual deve aprender a lidar. Para ser bem sucedida neste aspecto, a criança deve receber ajuda para que  possa dar algum sentido coerente ao seu turbilhão de sentimentos. Necessita de ideias sobre a forma de  colocar ordem na sua casa interior, e com base nisso, ser capaz de criar ordem na sua vida. Necessita – isto  mal requer ênfase neste momento de nossa história – de  uma educação moral que de modo sutil e implícito conduza-a às vantagens do comportamento moral, não através de conceitos éticos abstratos, mas daquilo que lhe parece  tangivelmente correto, e portanto, significativo.

A criança encontra este tipo de significado nos contos de fada.
Como muitas outras modernas percepções psicológicas, esta foi antecipada há muito tempo pelos poetas. O poeta alemão Schiller escreveu: “ Há  mais significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do que na verdade que a vida  ensina” (The Piccolomni III, 4).

...Esta é exatamente  a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra  dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas se a pessoa não se intimida, mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os  obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa.

As histórias modernas escritas para crianças pequenas evitam  estes problemas existenciais, embora eles sejam questões cruciais para todos nós. A criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre a forma como ela pode lidar com estas questões e crescer a salvo para a maturidade. As histórias “fora de perigo” não mencionam nem a morte, nem o envelhecimento, os limites de nossa existência, nem o desejo pela vida eterna. O Conto de Fadas, em
contraste, confronta a criança honestamente com os predicamentos humanos básicos”.

Bruno Bettelheim defende, com estas e com muitas outras palavras, sua postura com relação à necessidade de se contar   histórias de fadas para as crianças pequenas. Para saber mais consultem sua obra mais conhecida: A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra S/A, 1980. O estudo de Bruno Bettelheim é bastante antigo, mas, sem dúvida, sempre atual.

Bruno Bettelheim nasceu na Áustria em 1903. Graduou-se na Universidade de Viena. Foi professor de Educação, de Psicologia e de Psiquiatria na Universidade de Chicago e autor de vários livros consagrados.

                                                                Agnes G. Milley

Um comentário:

Patricia Carol disse...

Muito interessante este artigo, Agnes!
A "gente grande" também aprende com essas informações dos teus posts.
Abração!
Patricia

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