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terça-feira, 22 de março de 2011

Dica de leitura: A história de Tobias e Sara

Por Rafael Carneiro Rocha

O Livro de Tobias sinaliza, assim como o Cântico dos Cânticos, para a poética do desposar. São dois livros importantes para a espiritualidade católica, que evoca a conjugação de Cristo com a Igreja a partir de imagens matrimoniais.

Na coerência unitiva que salva e esclarece, o Antigo Testamento está contido no Novo Testamento. A poética de Tobias é a história dos matrimônios que fazem a Igreja.

Na peça A história de Tobias e Sara, encenada pela primeira vez no Teatro Municipal de Hamburgo, em 1953, os atores conjugam o verbo novo. A adaptação de Paul Claudel (1868-1955) é profundamente católica no sentido de esclarecer e revitalizar a Antiga Aliança. É emblemático, inclusive, que o teatro de Claudel tenha vigor clássico, mas seja combinado de recursos modernos, como projeções cinematográficas e síntese entre falas de versos livres, música e dança.

Na trama de Claudel e no livro bíblico, Sara é a alma humana dolorida que aguarda ser desposada. O pai de Tobias, o sofrido hebreu que insiste com a credulidade, envia seu filho para o Oriente. Tobias viaja para receber um dinheiro do pai de Sara, mas a restituição significa mais. O ocidente e o oriente se unirão, o antigo e o novo se sacralizarão. O jovem, guiado pelo bom e misterioso Azarias (que se revelará ao fim como o anjo Rafael), será o esposo de Sara. O casamento de Tobias e Sara consumará nas palavras claudelianas o verbo anunciado pelo anjo Rafael:

E tu, emerge, reaparece, reaparece solenemente na noite. Traz ao homem o que outrora lhe arrebataste. Paraíso da criação, emerge, paraíso de delícias, paraíso de volúpia, júbilo da inteligência, agora, e não mais apenas do animal, imagem para a eternidade entesourada pelo abismo e de remorso tornada promessa! Envolve com teu enlace sagrado feito de dois braços o que apenas te esperava nascer, esse beijo ao encontro de sua boca e o desejo ao encontro de sua prece!

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