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quarta-feira, 30 de março de 2011

Como evitar gafes 1: Falada e escrita

Por Maria Teresa Serman

Eis a missão de uma vida: evitar gafes, pois todos estamos propensos a cometê-las, uns mais outros menos. Há os que têm uma vocação atávica para falar o que não devem quando menos deveriam fazê-lo, por distração, desconhecimento ou negligência. Para evitar ou amenizar situações constrangedoras, é bom avaliar vários aspectos antes de falar e, principalmente, escrever, seja manualmente, por e-mail ou nas redes. Destes dois últimos itens trataremos no próximo texto.

Dizem que "falar é fácil". Perigoso engano, que vitima a muitos! Falar e escrever em português é muito, muito difícil. É uma língua cheia de artimanhas e sutilezas, pega até os mais experientes. Sem falar que os gramáticos vivem mudando as regras, e nós, pobres falante, temos que nos adequar às novidades depois de anos seguindo outras normas. Para facilitar, é bom dar uma olhada nas gramáticas e imprimir as novas leis ortográficas, podendo assim consultá-las sempre que ficarmos em dúvida. O dicionário e as gramáticas não são os pais dos burros, e sim dos antenados. Mas vamos às gafes por escrito, em resumo, pois há incontáveis. Veremos algumas.

Há uma tendência lançada e incentivada por ditos intelectuais de usar o advérbio "enquanto" ao se referir a modo, quando o certo seria "como". "Eu, enquanto diretora,", " Dilma Roussef, enquanto presidente," (presidentE, não presidenta, isso é erro, não homenagem às mulheres!). Essa aberração linguística vem se reproduzindo como micróbio resistente, empestando o uso do léxico e desvirtuando o sentido das frases. O uso do gerundismo, como já foi classificado, é outra praga - "está sendo providenciado". Já se sabe, quando se ouve isso, que nada vai ser resolvido. O gerúndio deve expressar uma ação em processo, não uma ação que não tem prazo para se concluir, uma enrolação!

Outras dicas ao falar ou escrever: evite usar a primeira pessoa, a não ser em conversas e textos informais, ou depoimentos, claro. Se não puder, pelo menos empregue a primeira pessoa do plural, o chamado "plural majestático", que imprime mais veracidade e confiabilidade ao que se diz, tirando o caráter mais pessoal da declaração. Ainda, muito cuidado com o uso do "onde" como pronome relativo. Há uma tendência nefasta de substituir o "que" precedido de uma preposição pelo "onde”, que só se aplica a lugar, por desconhecerem a regência do verbo que indica a preposição a ser usada. Por exemplo, na frase "Vou a São Paulo, onde passarei o final de semana", o "onde" está correto. Já nesta outra, é um completo desastre: “O gerente decidiu usar o mesmo processo, onde tinha dado bons resultados." O certo seria " o qual (ou "que") tinha dado bons resultados", e por aí vai. Na dúvida, mude a frase ou consulte antes, se está escrevendo, uma fonte segura.

A regra de ouro é ter noção de onde está, com quem fala, sobre o quê e quando. Existem assuntos proibidos em certos ambientes e com certas pessoas. Não é uma questão de alienação ou covardia, mas devemos prudentemente escolher o que falamos, sob risco de perder o emprego ou o amigo. Não nos referimos, que fique bem claro, a falar a verdade ou defender princípios, mas a adequar o tema ao ouvinte, tempo e lugar. O bom senso é sempre o melhor conselheiro, pois, como diziam nossas avós, "falar é prata, calar é ouro". "A língua é o chicote do corpo", é outro sábio ditado, lembrando que esse chicote já matou várias amizades e destruiu muitas relações profissionais e comerciais. A sabedoria popular ensina, e a gramática também. Boas falas pra todos nós!

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