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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nacionalismo e patriotismo

Por Rafael Carneiro Rocha

Neste dia em que lembramos a Proclamação da República, trago uma reflexão interessante. Selecionei trechos de um capítulo do livro "Nacionalismo e Patriotismo" de Gustavo Corção, em que o autor acentua a importância dos sentimentos patrióticos em contraposição aos ressentimentos nacionalistas.

"A amicitia dos escolásticos, que hoje, chamamos de civismo, ou, em sentido largo, de solidariedade humana, é também uma virtude anexa da Justiça. E assim o patriotismo: é a virtude reguladora dos atos humanos especificados pelos laços de convivência que prendem os homens de uma comunidade marcada por unidade cultural e política. Pela lei de um profundo realismo, e até diria pela lei da Encarnação que é a suprema concretização do Bem, nós nos devemos a todos, mas a começar pelos mais próximos.

A justiça não tem fronteiras, mas o aprendizado e o exercício dela se realizam em círculos concêntricos com gradações de densidade, mas com continuidade de substância ética. Assim as famílias são, ou devem ser, viveiros de justiça. Assim também as nações. Não pode haver virtudes familiares onde o bem da família é procurado em detrimento das outras.

Em regra geral há dois modos de fugir do equilíbrio da virtude. Há dois modos de desvio. No caso do chefe de família, por exemplo, há um modo de faltar ao dever por negligência, por abandono, por desinteresse, por anarquia; mas há também um modo (às vezes mais grave) de ser viciado, que consiste na prática do filhotismo, do nepotismo e de todas as modalidades de acepção de pessoa que tornam odiosa para a sociedade civil a sociedade familiar. Assim também, no que concerne à pátria, haverá dois vícios opostos ao verdadeiro e bom patriotismo. E um desses - o que pretende servir à pátria com os instrumentos da inimizade e da agressividade, como se ela fosse um fim absoluto - é o que foi chamado de nacionalismo.

O fenômeno é antigo. Poderíamos dizer que tomou vulto na chamada Civilização Moderna, a partir da Renascença, e que foi, para as nações, um fenômeno análogo ao do surto do individualismo para as pessoas. O mundo é trágico. Nenhum moralista sensato tem a estupidez de desaconselhar a ira, a cólera, a indignação e a luta; mas também nenhum moralista autêntico chega à loucura de pensar que esses acidentes, por mais frequentes que sejam, tenham força para firmar uma filosofia de essencial e programada inimizade. Ora, o nacionalismo é, ou era uma dessas atitudes do espírito marcadas pela convicção da essencial inimizade entre os homens."

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