Por Maria
Teresa Serman
As
pequenas coisas do cotidiano podem ser motivo de santificação e aprimoramento
do caráter, tendo incomensurável valor diante de Deus. Por isso, não podemos
desperdiçar as oportunidades que gotejam sem parar no vaso de oferendas de amor
que desejamos oferecer ao Pai e aos irmãos a cada momento, dia após dia.
Contudo,
também há o outro lado. Coisas que parecem insignificantes tendem a pesar e
desgastar, se não percebemos seu acúmulo pela constante repetição. A rotina das
contrariedades, implicâncias, picuinhas, pirraças, é sempre a assassina do
amor, não a simples repetição de atos comuns. Se precisamos variar a roupagem
destes, devemos com urgência examinar-nos e extirpar aqueles.
Na família,
acontece entre pais e filhos, e atrapalha a comunicação e o relacionamento
amoroso necessários para a felicidade no lar. Quando entre o casal, pode ser
insidioso e fatal, só percebido à beira do abismo ou já despencados nele
abaixo. NINGUÉM está imune a essa ameaça. E ela aumenta com o tempo,
quando já estamos acomodados, quando o ninho está vazio dos filhos, quando um
ou os dois se aposentam. No evangelho, o Senhor recomenda: "Vigiai e
orai..." E eu peço licença para acrescentar, no caso dos matrimônios:
Vigiai, orai muito e deixai de ser chata(o) e se achar o centro do seu
mundinho..
Não sei
se já repararam, mas é comum ver, nos shoppings ou nas ruas, esposas de meia
idade ou mais ralhando e fazendo cara feia pros maridos, e eles com o olhar
perdido, pois já se desligaram para sobreviver com média sanidade por mais uns
anos. Também existem os adoráveis consortes que reclamam de tudo que a sua
"sem sorte" faz, gasta, prepara, pensa, respira. Isso quando ainda
estão ali somente, e não ali e "acolá", não sei se me entendem.
É um tal
de "Não aguento mais o fulano, está velho e insuportável, lento e
calado!"; "Como consegui ficar tantos anos ao lado desta
jararaca?!"; "Preciso sair de casa pra não ouvir a voz dele me
chamando a toda hora!"; "Graças a Deus hoje tem pelada e chope, tenho
desculpa pra voltar quando ela já estiver dormindo!". Ao mesmo tempo,
podemos nos emocionar com casais de cabeça branquinha, de braços dados,
apoiando-se um no outro, usufruindo do resto do tempo que passarão juntos antes
da eternidade. Ontem mesmo, na missa, observei um senhor delicadamente
suportando o peso da esposa que cochilava no seu ombro. Acontece muito com
essas pessoas adormecerem com sermões ou cantos mais suaves.
Então,
qual é o segredo? Os casos são únicos e individuais, cada par tem sua história
de amor. Mas considero invariável uma coisa: os que mantêm o amor sob seu doce
comando, digamos assim, não se detêm em mesquinharias, dilatam o coração,
procurando a felicidade do outro e aproveitando os melhores momentos juntos.
Não precisa ser uma grande viagem, frequentar restaurantes luxuosos, assistir a
peças aclamadas semanalmente. É sem dúvida muito legal, mas não é garantia. E
muitas vezes abafa as palavras que o coração do(a) amado(a) tenta
desesperadamente dizer, sem ser escutado. São gritos de carinho, pedidos de
socorro e atenção, luz vermelha acendendo direto. E podemos ser pegos de
surpresa, muito cuidado, quando o outro já desistiu de tentar.
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