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quarta-feira, 6 de junho de 2012

ESTRESSE INFANTIL (2ª parte)

Por Maria Teresa Serman
Muitos problemas que parecem graves são facilmente contornados pelos pais, avós e irmãos com atenção, carinho, e realmente brincando junto, não só fornecendo os brinquedos, geralmente caros e digitais, e ficar lendo jornal ou ir para a academia, embora ambas sejam boas atividades. Por outro lado, não se pode mascarar certos indícios evidentes como "personalidade forte", "transtornos naturais nesta fase", "isso vai passar com o tempo", pois sintomas recorrentes são indício de doença, e demandam assistência, diagnóstico e tratamento rápido, sob pena de se estenderem por mais tempo e causarem sofrimento desnecessário. Como aconteceu neste caso: "Estresse e transtornos mentais também vêm juntos quando falta diagnóstico. Foi o que ocorreu com o psiquiatra Jorge Simeão, 38 anos. Sem saber o que tinha, ele sofreu durante toda a sua adolescência e juventude. Muitos o consideravam um rapaz distraído, que não se preocupava com os outros. Foi preciso se formar na faculdade como médico psiquiatra para Simeão finalmente descobrir que os traços de comportamento que o acompanhavam não eram uma falha de caráter, mas uma alteração no funcionamento do seu cérebro. Ele tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). “O esforço que precisava fazer para me concentrar e a falta de compreensão de colegas me geraram uma tensão muito forte, a vida toda.” Histórias como a de Simeão são bem mais comuns do que se imagina. Pelos cálculos da Organização Mundial da Saúde, uma em cada cinco crianças tem alguma desordem psiquiátrica e a grande maioria leva anos até receber o diagnóstico."

Algumas que geralmente classificávamos como doenças de adulto, como depressão, ansiedade, distúrbios de conduta, sociopatia, acometem com crescente frequência crianças e jovens. Um diagnóstico seguro deve abarcar exames fisiológicos, endocrinológicos, testes de inteligência de acordo com a idade e avaliação emocional e mental. É normal os professores enxergarem até antes dos pais os indícios. É preciso receber as informações da escola sem preconceito, e não reagir com aquela infeliz postura de "Vocês estão chamando meu filho de maluco??!!!", quando os sintomas apontam para doenças neurológicas ou emocionais. Já passou o tempo que ir ao psiquiatra valia por atestado de insanidade. E nada de culpa - "Onde foi que eu errei?" -, pois não ajuda nada e há muitos fatores em jogo, com situações assim.

Outra fenômeno comum é a super exigência nos estudos ou multiplicidade de atividades culturais e esportivas, o que semeia ansiedade na mente de muitos jovens. Crianças precisam de tempo para brincar, despreocupadamente, sem rigidez excessiva nos horários. Isso lhes garante alegria e serenidade, como nenhuma outra coisa, a não ser o carinho e a atenção dos pais. Havia menos traumas quando brincávamos de pique esconde, de soltar pipa, de andar de patins ou bicicleta nos quintais ou na rua. Evidentemente não podemos voltar ao passado, mas imitar alguns detalhes da infância de antes não é saudosismo.
“Podemos fazer um paralelo entre os transtornos mentais e a diabete. Em ambos, você não vai curar a pessoa, mas quanto mais cedo é a intervenção, maiores as chances de reduzir seus impactos”, avalia o psiquiatra Christian Kieling. “A lacuna entre quem tem algum transtorno mental e aqueles que recebem o atendimento especializado é muito grande”, avalia Dévora Kestel, assessora regional de Saúde Mental da Organização Panamericana de Saúde (Opas).

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