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sábado, 2 de junho de 2012

ESTRESSE INFANTIL (1ª parte)

Por Maria Teresa Serman

Este título foi extraído de uma reportagem da revista ISTO É, ano 2211, assim como todos os trechos que estiverem entre aspas.

O tema é complexo, mas não inteiramente novo, só vem se agravando. Com a crescente ausência de ambos os pais de casa, para cumprirem jornada profissional  externa, a agenda dos pequenos vem sendo abarrotada de inúmeros compromissos, para compensar essa lacuna. O resultado, porém, não é o que se esperava. O excesso de responsabilidades e competitividade, para o que não estão maduros ainda, gera não só estresse e infelicidade, mas distúrbios a longo prazo, como "propensão a doenças coronarianas, diabetes, uso de drogas e depressão. "

"Natação, inglês, equitação, tênis, futebol. É cada vez mais comum encontrar crianças que mal saíram da pré-escola e já cumprem agendas de “mini executivo”, com compromissos que se estendem ao longo do dia. A intenção dos pais ao submeter os filhos a essas rotinas é torná-los adultos super preparados para o competitivo mundo moderno. O preço que se paga por tanto esforço, porém, pode ser alto. Ainda pequenas, essas crianças passam a apresentar um problema de gente grande, o estresse. “É uma troca que não vale a pena”, afirma o psicoterapeuta João Figueiró, um dos fundadores do Instituto Zero a Seis, instituição especializada na atenção à primeira infância. “Frequentemente essa rotina impõe à criança um sentimento de incompetência, pois lhe são atribuídas tarefas para as quais ela não está neurologicamente capacitada.”

Obviamente crianças, como adultos, são expostas a outros fatores episódicos conflituosos que não uma agenda cheia, como doenças pessoais ou de família, brigas ou separações dos pais, morte de conhecidos ou familiares, problemas de aprendizagem e convivência, como deficit de atenção, dislexia ou bullying; enfim, o que faz parte da vida. Os estudiosos reconhecem dois tipos de estresse: "o estresse positivo, aquele em que há pouca elevação dos hormônios e por pouco tempo; o tolerável, caracterizado pela reação temporária e que pode ser contornada quando a criança recebe ajuda; e o tóxico, o que deve ser combatido, ligado à estimulação prolongada do organismo, sem que a criança tenha alguém que a ajude a lidar com a situação." "Quando exposto a quantidades muito grandes dos hormônios do estresse, o organismo sofre uma espécie de intoxicação. Cai a imunidade, deixando a pessoa mais exposta a infecções, há uma interferência nos hormônios do crescimento e até mesmo o amadurecimento de partes essenciais do cérebro, como o córtex pré-frontal, é afetado. “Essa região é responsável pelo controle das funções cognitivas, como a capacidade de moderar a impulsividade e a tomada de decisões”, explica o neurocientista Antônio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte."
Esse quadro emocional pode originar sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça, dores abdominais, diarreias ou vômitos. É preciso uma constante e carinhosa atenção dos pais para prevenir ou acompanhar essas situações, mas sem exagero, sem fazer disso uma tragédia. Especialistas identificam em muitos casos, como fator gerador principal, o excesso de mimo e superproteção, que transformam as crianças e jovens em "reizinhos" e "princesas" ou "filhinho(a)s da mamãe". "Não deixar a criança aprender a contornar situações difíceis é extremamente prejudicial. Isso porque uma característica importante para evitar os quadros de estresse tóxico é justamente a resiliência – a capacidade de a pessoa se adaptar e sair de situações adversas. “Quando a criança é sempre tirada pelos pais do apuro, ela não desenvolve essa habilidade e se torna mais suscetível ao estresse”, diz a psicanalista infantil Ana Olmos."

Sabemos que cada indivíduo reage a estímulos frustrantes de maneira distinta. " Estudando um grupo de 210 crianças de 2 anos, pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, notaram que comportamentos diferentes estão associados a níveis distintos de cortisol no sangue. Os pequenos voluntários foram divididos em dois grupos: as “pombas” (crianças cautelosas e dóceis) ou os “falcões” (atrevidas e assertivas). Enquanto as “pombas” apresentavam uma elevação abrupta na quantidade de cortisol circulando na corrente sanguínea quando expostas a situações estressantes, nos “falcões” a concentração desse hormônio permanecia praticamente inalterada. E isso trazia consequências diversas para os dois grupos: “pombas” demonstraram mais chances de desenvolver depressão e ansiedade. Já os “falcões” estavam mais suscetíveis a comportamentos de risco, hiperatividade e déficit de atenção. “É importante reconhecer essas diferenças para intervir”, disse à ISTOÉ Melissa Sturge-Apple, coautora da pesquisa." E é fundamental não forçar um filho ou filha a reagir de um modo que seu temperamento não consegue. Tal tática seria uma cruel violência, como a história do "Seja homem!", ou "Pare de agir como um mariquinhas!". Cada temperamento tem seu aspecto positivo, que deve ser ressaltado, ao mesmo tempo que se incentiva a lutar esportivamente contra as próprias características ruins, sem pressão.

O caráter deve ser formado lenta e cotidianamente, por meio de palavras, incentivos e exemplos. Não é preciso ensinar luta livre a uma criança para que lide bem com abusos, e sim firmeza e coerência, com o necessário apoio. O comportamento da criança estressada pode dar o alarme, como pesquisas evidenciaram: "As principais alterações eram pesadelos, voltar a fazer xixi na cama e a chupar o dedo. Em um terço dos pequenos voluntários, a consequência foi mais grave: ocorreram crises de asma, alergias e déficit de atenção ou hiperatividade. E 20% deles desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático. “Quanto mais estresse na infância, maior a chance de se ter alterações físicas e psicológicas quando adulto””, disse à ISTOÉ Sandra Graham-Bermann, autora da pesquisa."

Para a maioria das pessoas, não só crianças, as doenças provocadas por estresse são, por si sós, desencadeadoras de mais sofrimento, fechando-as em um círculo vicioso que só profissionais competentes e famílias e amigos amorosos podem curar, como TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), depressão, ansiedade, deficit de atenção, hiperatividade. "Foi após dois eventos estressores que a menina R., 14 anos, desenvolveu o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Na mesma semana, em 2009, ela viu o som do carro da mãe ser roubado e o pai escapar, por pouco, da tragédia no voo 3054 da TAM (que se chocou contra um hangar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, matando todos a bordo). Depois dos sustos, começou a manifestar manias de repetição. “O ritual de repetição me deixa muito ansiosa e me abate muito”, diz a menina.

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