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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dica de cinema: “A árvore da vida”

Por Rafael Carneiro Rocha

“Uma coisa pode ser muito triste para ser crível ou muito má para ser crível ou muito boa para ser crível; mas ela não pode ser tão absurda para ser crível, neste planeta de sapos e elefantes, de crocodilos e peixes-espada”. Belíssima esta frase do filósofo inglês G.K. Chesterton. Só é possível compreender o espetáculo da criação se houver, inicialmente, algum espanto. A contemplação é a forma mais perfeita da dúvida.

“A árvore da vida”, filme de Terrence Malick, só poderá ser compreendido se for contemplado. É uma obra sobre o espetáculo das coisas criadas, que parte das imagens do mundo para responder às dúvidas de seus personagens. É possível acreditar que existe sentido para todas as coisas, até para o mais doloroso dos sofrimentos, neste planeta onde existem crocodilos e peixes-espada; ou onde já existiram criaturas tão absurdas como os dinossauros, conforme o filme revela em cenas de uma admirável liberdade artística, que só um cineasta muito consciente da necessidade do espanto poderia conceber.

Na abertura de “A árvore da vida”, em letreiros, o filme cita o personagem bíblico Jó, aquele que perguntava onde está Deus no mundo que permite o sofrimento; porém, aquele sofredor também é indagado sobre onde ele estava quando a terra foi fundada. O mundo e o destino não são propriedades criadas pelos indivíduos e, partindo desta ideia do Livro de Jó, o filme conta a história de uma família americana na década de 1950, formada por um pai rígido, uma mãe graciosa e três meninos.

O pai, vivido por Brad Pitt, é capaz de ferir e de ser ferido pela crença de que o mundo pode ser inteiramente controlado pela vontade humana. Porém, do mesmo modo que Jó não criou o mundo, nenhum homem pode almejar toda a autoria pelo destino e aquele pai de família só terá alguma paz depois de experimentar as lágrimas da criação, ou seja, toda a sorte de acontecimentos que escapam da nossa vontade, mas que fazem parte da verdade do mundo.

A vida cotidiana da família é captada de forma bela e profunda. Todos nós podemos nos identificar com o processo educativo dos garotos, que descobrem sentimentos que carregamos por todas as nossas vidas, como o encantamento, a tristeza, a rebeldia e o arrependimento. Não há motivos para o público reclamar de que se trata de um filme “difícil” ou “chato”. Talvez o nosso aborrecimento com o filme seja algum sinal de que estamos perdendo a capacidade da contemplação da vida. Porém, para quem quiser ver de verdade, “A árvore da vida” é um filme belo, espetacular e, do seu modo, divertido, o que o faz bastante recomendado para jovens e adultos.

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