logo

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Avareza - ontem e hoje

Por Maria Teresa Serman

A avareza, este pecado capital, sempre foi tema para artistas dramaturgos e escritores. Nesses dias vindouros de festas, em que comprar compulsivamente sobrepuja e até apaga o verdadeiro sentido do Natal e de um novo ano a se iniciar, novo tempo, é bom refletir sobre o assunto, agora sob um foco mais amplo, a ganância do homem que levou países antes prósperos à bancarrota, atingindo grande parte de um continente antes forte, como a Europa, para não falar do poderoso EUA.

Voltando um pouco no tempo, lembramos que, em sua Carta Encíclica "Popularum Progressio", datada de 26/03/1967, o Papa Paulo VI já advertia:

"Assim, pois, o ter mais, tanto para as nações como para as pessoas, não é o fim último. Todo o crescimento tem dois sentidos bem diferentes. Se é necessário para permitir que o homem seja mais homem, por outro lado encerra-o numa prisão se se converte em bem supremo, que impede de olhar mais além. Então os corações se endurecem e os espíritos se fecham; os homens já não se unem pela amizade, mas pelo interesse, que em breve os faz opor-se uns aos outros e desunir-se. A busca exclusiva da posse dos bens converte-se num obstáculo para o crescimento do ser, e opõe-se à sua verdadeira grandeza. Tanto para as nações como para as pessoas, a avareza é a forma mais evidente de um subdesenvolvimento moral.” Como isso é verdade, agora e sempre! Porém, os homens não aprendem...

Continuamos nossa reflexão com uma historieta ilustrativa, com fim moral, de S. Josemaría Escrivá, no livro Amigos de Deus:
“CERTA VEZ – conta um amigo sacerdote –, há já muitos anos, passava eu uma curta temporada de exercícios militares no povoado mais alto de Navarra. Fazíamos esses exercícios aproveitando a pausa dos nossos estudos. Recordo-me de que, estando naquele povoado, chamado Abaurrea, chegou ao acampamento um jovem tenente, no seu uniforme flamante. Apresentou-se ao chefe para que lhe dissesse qual a unidade a que estava destinado. Veio depois ter conosco e comunicou-nos que o comandante lhe dissera que devia ir a Jaurrieta e que lhe insinuara como a coisa mais natural do mundo que seria bom que tomasse um cavalo e fosse nele [...]. O novato mostrava-se muito inquieto e passou todo o jantar falando do cavalo e pedindo conselhos práticos. Então um dos presentes disse-lhe: «O importante é montar com serenidade, com tranqüilidade, e que o cavalo não perceba que é a primeira vez que você monta. Isso é fundamental» [...].

“No dia seguinte pela manhã, muito cedo, estava à sua espera um soldado com o seu cavalo e com outra montaria para carregar as malas. O tenente montou, mas, pelos vistos, o cavalo notou imediatamente que era a primeira vez que o fazia, porque, sem mais aquelas, lançou-se num pequeno galope; depois parou e começou a pastar num dos lados da estrada..., por mais que o tenente puxasse das rédeas. Quando achou oportuno, continuou a caminhar pela estrada e, de vez em quando, parava; depois começava a trotar, enquanto o cavaleiro olhava para os lados, com cara de susto. Nessa situação, cruzou-se com ele uma equipe de engenheiros que estava instalando um cabo de alta tensão. Um deles perguntou-lhe:

– “Para onde é que você vai?

“E o tenente respondeu com grande verdade e com uma filosofia verdadeiramente realista:

– “Eu? Eu ia para Jaurrieta; o que não sei é para onde vai este cavalo... [...].


“Se nos perguntassem de repente: «Para onde é que você vai?», talvez nós também tivéssemos que dizer: «Eu? Eu ia para o amor, para a verdade, para a alegria; mas não sei para onde a vida me está levando»”.

Para onde os seres humanos, concentrados no ter e não no amar, partilhar, aproveitar solidariamente, estão indo? Para onde estamos indo, cada um de nós, com nossas mesquinhezes individuais, que parecem pequenas, mas que se amontoam como lixo que se torna pestilentos, e não reciclado em forma de bondade? Precisamos examinar nossa generosidade em termos concretos: tenho como deus, no altar do meu coração, o dinheiro, o lucro, os bens, ou junto tesouros no céu, "onde a traça não pode devorá-los", criando, assim, uma "poupança" que me beneficia e aos demais? Minha vida é pequena, meu horizonte doméstico é exíguo, meus desejos fúteis? Considero que posso contribuir para uma sociedade mais fraterna e justa, ou só penso em ganhar mais, comprar mais, ter muito mais?
Para terminar bem, as palavras de S.Paulo são sempre atuais: "Os que usam deste mundo não se fixem nele, pois a aparência deste mundo." passa (cfr. 1 Cor 7, 31)."

Nenhum comentário:

Postar um comentário