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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O natural, o artificial e a generosidade

Por Maria Teresa Serman

É engraçado, digamos assim, observar como a perspectiva de julgamento das pessoas pode se alterar ao longo do tempo. Desculpem a primeira pessoa, mas não tem outro jeito de expor o assunto. Tivemos cinco filhos e, por andar mais com eles, de um lado para o outro, ou talvez por ser a matriz mais óbvia, fui chamada, no mínimo de louca, incontáveis vezes, por conhecidos, amigos e completos estranhos, e no máximo de irresponsável, outras tantas. Parecia que criávamos nossos filhos na rua, ou que dependíamos da caridade (Deus nos livre!) daqueles que nos injuriavam.

Claro, havia os benévolos, que declaravam ser "muito bonito uma família grande, mas só pra quem pode, não pra mim", sabidamente se excluindo daquela "maravilha". Era como se houvéssemos acertado a Sena sozinhos. Rir sempre foi o melhor remédio, nunca me deixei abalar pela campanha anti-natalista que nos assolava. Lamento, porém, que muitos se tenham deixado pressionar e perder a riquíssima dádiva de uma família com alguns filhos a mais do que permitia a "sabedoria" da massa.

Não sei, nunca soube, como justificar tamanha INTROMISSÃO e PRECONCEITO na nossa vida e na daqueles que ousavam romper o "padrão dos três filhos". Isso, há anos, pois o padrão passou a ser de dois, e agora é de um só, um único. Que lástima!

Ah, não se pode esquecer a exceção politicamente correta: é admissível ter três ou mais filhos, sim, desde que frutos de inseminação artificial e de pais mais maduros, estabilizados. Nesse caso, é admirável. Não é interessante?

Tal coerência me faz lembrar do triste e recente episódio do casal que, apesar de ciente da provável multiplicidade de bebês a que estavam sujeitos, pelo método de reprodução assistida, resolveram selecionar dois filhos e deixar a terceira mais fraquinha à própria sorte.

Não quero condenar ou rotular ninguém, como insidiosamente faziam conosco, mas somente chamar atenção para o fato de que uma concepção que já traz o nome de artificial pode ser arriscada de mil formas, por esse motivo mesmo. Por mais experimentada que a ciência esteja, esse é um desvio do processo natural.

Somos inteiramente a favor de criancinhas, que Deus sempre as proteja! Contudo, pelos casais inférteis esperam as muitas crianças rejeitadas, que vivem uma triste existência nos orfanatos. Testemunhamos adoções felizes, plenas de amor e entrega, que nada diferem dos filhos da carne. Aliás, aqueles passam a ser da carne igualmente, porque são gerados diretamente nos corações dos pais.

Por que não se simplifica, sem perder o rigor necessário, o processo de adoção, o que tornaria a vida de muitos mais feliz e encheria menos de dinheiro bolsos gananciosos?

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