Por Evelyn Mayer
Sou professora há quatro anos, três dos quais foram dedicados à Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é o antigo supletivo. Desde a faculdade, o meu objetivo era trabalhar com adultos. Pensava eu que dedicar-me a essa classe seria mais gratificante por que os adultos seriam alunos mais interessados. “Leve” engano.
Sou professora há quatro anos, três dos quais foram dedicados à Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é o antigo supletivo. Desde a faculdade, o meu objetivo era trabalhar com adultos. Pensava eu que dedicar-me a essa classe seria mais gratificante por que os adultos seriam alunos mais interessados. “Leve” engano.
Sabe por quê? O aluno adulto pode até ser mais comprometido que o infantil; mas quando vestimos a ‘couraça de aluno’, não mudam muitas coisas em decorrência da idade. Explico.
Minha disciplina é Língua Portuguesa. Sempre que chego a uma turma de EJA e digo que sou professora de Língua Portuguesa, meus alunos fazem aquela cara do tipo: “afff! Chegou a Bruxa Keka!”. Apesar de não parecer, os alunos têm uma gigantesca dificuldade com seu idioma pátrio. As razões podem ser diversas: problemas com professores no passado; transtornos cognitivos; questões específicas com a disciplina... todos esses obstáculos atrapalham o processo de ensino-aprendizagem - e quando o processo é custoso, perde-se o interesse pela disciplina em questão. Logo, esse aluno terá reações como qualquer outro aluno, mesmo sendo ele adulto. Ele se sentirá desmotivado; não prestará atenção nas exposições; se dedicará a outras coisas durante a aula (conversas, celular, conteúdos de outra disciplina); fará birras quando for chamada a sua atenção e, quando chegar a hora de mostrar o que aprendeu, seja por prova ou por trabalhos, ele dará o seu “jeitinho brasileiro”.
Sem contar que o aluno adulto é “carregado” de preconceitos. Ele se fecha quando encontra dificuldades, rejeita determinadas atividades por crer que não é capaz de aprender. Tem problemas com a autoestima, também. E é muito mais difícil lidar com isso na fase adulta que na infância.
Conforme o aluno vai envelhecendo, então, vai ficando pior. Passa a pedir aos netos que façam as atividades por eles, que os colegas de classe copiem por ele... E quando lhe é chamada a atenção, as desculpas são as mais “interessantes”: “não enxergo”, “não consigo entender”, “a professora escreve muito rápido...” e, na maioria dos casos, são sim, desculpas, pois aqueles que realmente têm dificuldades esforçam-se ao máximo para aprender.
Daí você pode pensar: “Bem, o professor não tem que auxiliar esses alunos?”. Não só tem como DEVE! Entretanto, quando falamos de alunos adultos, falamos de alguém que agora responde por si quando o assunto é estudo, e não mais seus pais. Sendo assim, a cobrança ou o auxílio do professor pode não ser tão bem vinda pelo próprio aluno, que pode se valer do direito de, simplesmente, não querer aprender. Neste caso, não se pode “forçar” a nada.
Não há solução fácil. Com a prática, pouco a pouco, vamos criando estratégias para ir ganhando a confiança e o respeito dos alunos, que correspondem dando o seu melhor. Contudo, se é importante ganhar-lhes o respeito, mais importante ainda é respeitá-los: não causar mais danos em quem já tem dificuldades, mas sim auxiliá-los a superá-las, ajudá-los a recuperar a autoestima e a sentir prazer pelo estudo.
2 comentários:
Evelyn, lecionar é um grande desafio mesmo! Adultos, crianças, adolescentes, cada público tem suas particularidades e é interessante q o professor, enquanto educador, identifique para q possa alcançar o seu objetivo efetivamente! Cada "nicho de mercado" deve ser explorado diferenciadamente e, sem dúvida, a Educação de Jovens e Adultos é algo desafiador e complexo! Parabéns pelo interesse e pela dedicação!
Sim, Jaque. É gratificante, mesmo com dificuldades.
Postar um comentário